ZION TRAIN
Secrets of the Animal Kingdom in Dub
Universal Egg, distri. Sabotage
8|10
Coletivo inglês em ação desde 1990, os Zion Train cultivam o dub psicadélico com a atitude de cibernautas em busca da derradeira droga sintética que projete o holograma de Bob Marley no Cosmos. Já lhes chamaram os Grateful Dead da tecno, definição engraçada que dá uma boa ideia da forma como o quinteto combina as refrações dub em ligação direta com a tecno e o trance e em conjunção com as alterações da perceção proporcionadas pelas drogas psicotrópicas. Com cada um dos temas dedicado a um animal, “Secrets of the Animal Kingdom” é um palco virtual, uma selva de ilusões e um manjar para os ouvidos, culminando em “Manta ray” que alguém definiu como a dança minimalista, em estereofonia, de um programa de lavagem. Mais cosmopolitas, mas não menos interessantes, os The Tassilli Players gravaram para a mesma editora outro álbum conceptual de “dub” psicadélico, “An Atlas of World Dub” (8/10), desta feita uma panorâmica de diversas comunidades mundiais de dub, com produção dos Zion Train, onde estão patentes uma faceta progressiva e um “etno-industrial” reminiscente de Mark Stewart.
“It’s Like This” insere-se na tradição de álbuns de “covers”. Aqui ficam alguns mais representativos.
JEAN-LUC PONTY
King Kong Blue Note, 1970
“Virtuose” do violino eletrificado, ginasta do jazz de fusão, herdeiro de Grappelli, Ponty deu novo rosto instrumental ao papa dos Mothers of Invention, reinventando o humor de “Idiot bastard son” e “Twenty small guitars”, ou alinhando em cumplicidade com o mestre, em “Music for Electric Violin and low budget orchestra”.
DAVID BOWIE
Pinups EMI, 1973
O camaleão ainda arranjou tempo para vestir a pelo dos seus heróis, travestindo “See Emily play”, de Syd Barrett, “I can’t explain”, de Townshend ou “Where have all the good times gone”, de Ray Davies.
THE RESIDENTS
George and James Ralph, 1984
Os amantes da soul, seu pudessem, davam-lhes um tiro. Os da música clássica, enforcavam-nos. Os “criminosos” são os Residents, e o crime foi o massacre de James Brown e Gershwin, no primeiro volume de uma série dedicada a compositores americanos deste século.
MARIANNE FAITHFULL
Strange Weather Island, 1987
Resultou do encontro mágico entre a produção de Hal Willner e uma voz do fundo da noite. Tom Waits e Bob Dylan sangrados. E os extremos de uma ressurreição sempre incompleta, entre a ferida de “As tears go by” e o despojamento sem esperança de “Boulevard of broken dreams”.
STEVE BERESFORD
L’Extraordinaire Jardin de Charles Trenet Nato, 1988
Do jazzman e lunático Steve Beresford tudo se espera. Mas foi na editora-anedota Chabada que o inglês soltou o humor nonsense e o amor pelas variedades, em particular a “chanson française”, num disco sorridente que levou ao colo as canções de Trenet.
PASCAL COMELADE
El Primitivismo Les Disques du Soleil et de l’Acier, 1988
Tudo o que toca fica em cacos. E é ao juntar os pedaços com a cola da memória que a música se transforma num brinquedo. Aqui remonta alguns dos seus preferidos: Stones, Wyatt, Nino Rota e Chuck Berry.
MARY COUGHLAN
Uncertain Pleasures Eastwest, 1990
Uma das mais sensuais vozes da atualidade, a irlandesa Mary Coughlan desfiou álbuns de “covers”, qual deles o mais brilhante. “Uncertain Pleasures” distingue-se pela arrebatadora versão de “Heartbreak hotel”, de Presley, subindo ao cume em “The little death”, dos Boomtown Rats, feito standard de jazz.
MATHILDE SANTING
Carried Away Solid, 1991
Todd Rundgren, Roddy Frame e os Doors contam-se entre os autores de “Carried Away”, veículo para a voz desta holandesa cultivar a arte da elegância. Com a meticulosidade de colecionadora e o apuro da designer.
URBAN TURBAN
Urban Turban Resource, 1994
Para os suecos Urban Turban, dar lustro a uma canção é esfregá-la com o desregramento. Sarcasmo, rock & rol e sanfonas, numa variante das barbaridades folk dos compatriotas Hedningarna. “Voodoo chile”, de Hendrix, e “Let’s work together”, dos Canned Heat, caíram que nem ginjas nas mãos dos iconoclastas.
JONI MITCHELL
Both Sides now Reprise, 2000
Uma das damas da pop deste século, na sua primeira incursão no universo das “covers”. Canções sobre o amor, numa paleta interpretativa que vai do recolhimento à orquestração majestosa das emoções. “Standards” na sua aceção mais nobre, de modelos a seguir.
Guarda avançada do novo jazz, os Chicago Underground Duo movem-se entre as coordenadas da eletrónica, do pós-rock e do free-jazz, diluídas numa música sem fronteiras tao (des)alinhada com os Supersilent, Miles Davis e Don Cherry, como com Sun Ra, Conrad Schnitzler, em zonas ambientais de ressonâncias cósmicas.
GASTR DEL SOL
Upgrade & Afterlife
“Camoufleur” poderá ser o álbum da iluminação, mas “Upgrade & Afterlife” é aquele que mais longe transporta a candeia dos Faust pelas grutas do inexplorado. Com John Fahey a servir de guia à guitarra e Tony Conrad e LaMonte Young a ensinarem que pode ser necessário todo o tempo do mundo até se descobrir que da repetição pode nascer a luz.
ISOTOPE 217º
The Unstable Molecule
O jazz rock psicadélico e indolente dos jardineiros de Canterbury pode não fazer parte das suas conjeturas, mas a verdade é que os Isotope 217º redescobriram o mesmo sentido de melodia, a afetação diletante e o gosto pela transgressão dos cânones, dos National Health, Hatfield and the North, Nucleus ou Isotope, numa música onde o jazz e a eletrónica correm com um swing quase infantil. E o fraseado “cool” do trompete e do trombone enviam “The Unstable Molecule” para as memórias de Miles Davis de “The Silent Way”.
JIM O’ROURKE
Bad Timing
Um dos gurus de Chicago, em plena fase de transição do hermetismo “faustiano” dos primeiros álbuns para a pop falsamente inocente e por muitos odiada do posterior “Eureka!”. Há melodias, como estas, que nascem tristes e doentes. Como as de Robert Wyatt.
ROME
Rome
Cada audição revela uma esquina diferente dos vários caminhos trilhados por esta banda da primeira geração do pós-rock. Com ênfase no ruído, na eletrónica visceral e num tribalismo electro que evoca as velhas invocações a um demónio sem nome da velha guarda da editora ESP.
STEPHEN PRINA
Push Comes to Love
Antes dos The Sea and Cake dizerem “sim” em francês, já Stephen Prina, dos The Red Krayola, introduzira o Verão e a delicadeza fonética num álbum de canções com a textura de nuvens que tanto carregam a chuva de um chá das cinco em Canterbury como dão a mão à garota de uma imaginária Ipanema. Com a música das palavras a conduzir a dança.
TORTOISE
Millions now Living Will never Die
O álbum que deu credibilidade a uma invenção, o pós-rock, que outros arrastaram pelas ruas do tédio e da amargura. O experimentalismo e a ousadia num álbum de eletrónica em estados de alerta, sem fronteiras que não as da própria música. “Millions” entrou para o grupo dos “que nunca morrem” e fez de novo Chicago o centro do mundo.
VANDERMARK 5
Target or Flag
Hoje aclamado como um dos maiores saxofonistas da nova geração, Ken Vandermark cultiva a musculatura e o fraseado sem papas na língua, aqui num projeto que não desdenha o rock sem as câmaras de magia da estética da editora Recommended.
E ainda:
AERIAL M Post-Global Music
BOBBY COM Rise Up!
BROKEBACK Field Recordings from the Cook Country Water Table
CUL DE SAC Crushes to Light, Minutes to its Fall
ELEVENTH DREAM DAY Eight
THE FOR CARNATION The For Carnation
FREAKWATER End Time
JOHN MCENTIRE Reach the Rock
THE LONESOME ORGANIST Cavalcade
SAM PREKOP Sam Prekop
SLINT Spiderland
THE SEA AND CAKE Oui
TOWN & COUNTRY Decoration Day