Elton John – “Concerto De Elton John Em Alvalade – Bater A Pala” (concerto)

Cultura >> Sábado, 18.07.1992

Concerto De Elton John Em Alvalade
Bater A Pala

Elton John mostrou que, pelo menos em palco, é um senhor. Foi um bom espectáculo aquele que o cantor inglês, de 45 anos, deu em Alvalade. A imagem dos ecrãs gigantes esteve nítida e o teledisco, de quase duas horas e meia, resultou. O aborrecido, nestes concertos de estádio, é que há sempre uns tipos ao longe no palco a fazer barulho e a distrair.



Em vez da esperada barracada musical, em Alvalade houve outro tipo de cenas bem menos divertidas. Por causa do “perigo de morte” representado pela pala que ameaça que cai mas não cai, alguns milhares de pessoas pagaram para assistir ao concerto num local e acabaram noutro, por falta de espaço.
“Está tudo cheio”, diziam elementos da organização, “tente na bancada do lado”.
Um cordão de polícias impedia o acesso à zona da bancada central e ajudava a convencer os mais cépticos, que insistiam em reclamar o lugar a que tinham direito, a desistirem da ideia. Como a “bancada do lado” também não demorou muito a ficar cheia, restava a solução da relva. O valor dos bilhetes passou a ser meramente simbólico.
Outra coisa curiosa: os seguranças não deixavam entrar no recinto ninguém munido de garrafas ou latas de bebida. Nem sequer os inocentes recipientes de plástico com água. Lá dentro, os bares do estádio vendiam-nas ao desbarato. Questões de segurança que a razão não atinge… Quem não se importou nada com a pala foi Elton John que, durante cerca de duas horas e meia, trocou os óculos e a faceta “camp” por um espectáculo sóbrio no qual mostrou que afinal o circo não é tudo. Foi um Elton John cabeludo (os implantes substituem com vantagem as perucas) e vestido de forma discreta que se apresentou quinta á noite aos milhares de admiradores portugueses que durante toda a semana apenas tinham ouvido falar na pala.
“Don’t let the sun go down on me” abriu o “show” e foi suficiente para se perceber que o cantor, aos 45 anos de idade, está em grande forma. A voz permanece com a clareza e a força de sempre. Fisicamente parece mais novo, com o cabelo no sítio certo, os óculos “normais” e uma postura de “verdadeiro artista”, senhor da sua arte. Pelo menos era isto o que as imagens de vídeo mostravam. Mas com atenção e uma imensa acuidade visual era possível perceber que, lá no fundo, os bonecos do palco conseguiam reproduzir com bastante exactidão os movimentos perceptíveis no ecrã. Chama-se verdadeiro profissionalismo a esta capacidade de conseguir estar à altura da própria imagem.
Sobre o cenário gigantesco do costume, Elton John e a sua banda deram cartas, entre as canções do novo álbum “I’m the One” e a massagem na memória proporcionada pelas antigas. Houve rock ‘n’ rol, baladas românticas, sequências instrumentais de genuíno “rock sinfónico”, solos para todos os gostos, uma cantora negra de voz portentosa cujas vibrações chegaram a assustar e a fazer temer pela segurança da pala, um piano “honky tonk” e, na única concessão aos excessos de outrora, o cantor a deixar escorregar o blusão em pose de diva provocante.
“Daniel”, “Blue Avenue”, “Sad Song”, grandes êxitos alternando com canções novas, criaram um espectáculo consistente que, neste caso, consistiu na oferta maciça da chamada “música para constituir família” ou, em termos mais prosaicos, “para a esfrega”. Já perto do final, “Rocket Man”, a apresentação dos músicos, “The show must go on”, em homenagem a Freddie Mercury, e “Saturday night is alright for fighting” deram lugar a dois “encores”. No primeiro, “Sacrifice”, o instrumental “Song for Guy” e “Your Song”. No segundo, com Elton sozinho ao piano, o “medley” “Blue Eyes” / “Nikita” / Crocodile Rock”. Ninguém disparou sobre o pianista. Nem ninguém bateu a bota por causa da pala. Elton é que bateu a pala.

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