Arne Nordheim – “Electric” + Supersilent – “Supersilent 1, 2 & 3” + Supersilent – “Supersilent 4” + Tove Nielsen – “Flash Caravan” + Tuu – “Mesh” – Robert Rich – “Seven Veils”

Sons

11 de Junho 1999
ELECTRÓNICA


Runas são como divãs


an

Criada em Janeiro do ano passado por Rune Kristofferson (antigo elemento do grupo pop Fra Lippo Lippi), a Rune Grammofon tem como objectivo a divulgação de música electrónica e experimental produzida na Noruega. Entre os primeiros álbuns lançados neste selo – embalados de forma superlativa em digipaks de grafismo minimalista –, contam-se “Electric”, do compositor norueguês Arne Nordheim e, já recenseado num número anterior deste suplemento, “Nordheim Transformed”, pela dupla Biosphere/Deathprod, um trabalho de remisturas do álbum de Nordheim. Os dois álbuns podem ser adquiridos em conjunto numa edição em CD duplo da Rune Grammofon. Arne Nordheim nasceu em 1931 e compôs as várias peças incluídas em “Electric” em Varsóvia, entre 1968 e 1970. Influenciado por Edgar Varese, pela escola polaca (Lutoslawski, Penderecki) e pelas micropolifonias de Ligeti, as composições electroacústicas de “Electric” oscilam entre o pontilhismo de “Solitaire”, as vagas proto-industriais e as ambiências subaquáticas a la Redolfi de “Pace”, a violência quase panfletária de “Warsaw” (por vezes próxima de Pierre Henry), as colagens cósmicas de “Poly poly” (The Cosmic Jokers mais Faust mais os Tangerine Dream de “Rubycon” numa “bad trip”) e a sequência de timbres misteriosos de “Colorazione”. Suculento na variedade e estranheza de registos, “Electric” constitui uma peça fundamental para os amantes da música electrónica, tão sedutora e carregada de estímulos como “Chaotica” do também tardiamente revelado Tom Recchion” (Rune Grammofon, distri. MVM, 8)

Também na Rune Grammofon e ainda mais minimalistas na apresentação, “Supersilent 1, 2 & 3” e “Supersilent 4” propõem uma extravagante fusão de electrónica e free-jazz por um grupo, os Supersilent, cujas origens se situam precisamente neste último género musical. Com as várias composições ostentando títulos como “1-2”, “2-4” ou “3-1”, de acordo com o número do disco e a ordem da faixa, o triplo álbum de estreia dos Supersilent é inteiramente constituído por uma selecção de improvisações cuja agressividade se torna, por vezes, difícil de digerir, algures entre o ruído puro, ciclos de electrónica analógica, uma bateria directamente saída de uma “jam session” guerreira e sopros em busca de espaço próprio. Mais de três horas de fúria que prolongam a estética dos AMM até ao próximo milénio. “Supersilent 4” continua a mesma lógica, com a diferença de que, neste caso, as diversas secções improvisadas foram encurtadas, ganhando em força e concisão. A diferença entre um “work in progress” (de “Supersilent 1, 2 & 3”) e uma escultura que, embora de formas aberrantes, permite a visualização em detalhe. (Rune Grammofon, distri. MVM, 7 e 8).

Ainda na Rune Grammofon saiu “Flash Caravan” de Tove Nielsen, um disco de pop electrónica bastante mais convencional do que os restantes lançamentos da editora mas, ainda assim, suficientemente apelativo para justificar, pelo menos, uma audição. “Trip hop”, electrónica e canções com creme nórdico num frigorífico onde cabem ecos de Annette Peacock, Anna Homler, Carmel, Suzanne Vega, Portishead, Soft Cell, “acid jazz” e “lo-fi country” aliam-se a um gosto acentuado pelas potencialidades do estúdio. Os sintetizadores têm peso num álbum de densidade superior à norma neste género de trabalhos. (Rune Grammofon, distri. MVM, 7).

Para os lados da Fathom, subsidiária “erudita” da Hearts of Space, continua a uniformização de todos os seus artistas. De álbum para álbum vai-se tornando cada vez mais difícil distinguir a música de Steve Roach, Robert Rich, Michael Stearns e, agora, também dos Tuu, uma banda que derivou do trance ambiental e gótico dos primeiros álbuns (“One Thousand Years”, “All our Ancestors”) para o som global que agora partilha com os seus colegas de editora. “Mesh” é mais um exemplo de uma música que se confunde com a respiração e pulsação do planeta Terra, onde os oceanos, as rochas, os mares, as florestas e a lava se unem com o firmamento. Música infinita, cujos ciclos são já pertença de uma nova humanidade. O mesmo se aplica a “Seven Veils”, de Robert Rich, um compositor que tem o melhor da sua obra em colaborações com Steve Roach (como “Soma” e “Strata”), Brian Lustmord (“Stalker”) e, a solo, em “Trances/Drones”, “Geometry”, “Numena”, “Rainforest” e “Gaudi”, este último percursor da “sombient music”. Nos últimos tempos aproximou-se do Oriente, como em “Seven Veils”, álbum de rituais percussivos e arabizantes, levitações digitais e vozes de tradições esquecidas. Ideal para meditação e outras actividades do espírito. (Fathom, distri. Strauss, 8 e 6).



Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.