Arquivo mensal: Dezembro 2020

Andy M. Stewart & Manus Lunny – “At It Again”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 02.12.1992


ANDY M. STEWART & MANUS LUNNY
At It Again
CD Green Linnet, distri. Megamúsica



Colaboração assídua têm mantido Andy M. Stewart (vocalista dos Silly Wizard) e o mestre do bouzouki Manus Lunny, por vezes em colaboração com outro músico dos Wizard, o acordeonista / teclista Phil Cunningham (2Fire in the Glen”, com reedição recente no selo Shanachie, distribuído pela MC-Mundo da Canção). “Ati t again” apresenta o duo num momento de inspiração, o que não acontecia no disco anterior, “Dublin Lady” no qual a veia criativa de Stewart tendeu para a composição de baladas que roçam a sonolência.
Nos melhores momentos e em melhores canções, como é o caso, o vocalista revela atributos suficientes para não o deixarem ficar mal quando comparado a Andy Irvine, com quem partilha semelhanças ao nível do timbre, textura e inflexões da voz. No seu novo trabalho a solo, inteiramente dedicado às canções de Robert Burns – “The Songs of Robert Burns” – alterna o melhor com o pior.
Em “Ati t again”, as composições do vocalista rivalizam com outras de Lunny e alguns tradicionais (interessante a recriação de “the haughs of Cromdale”, tão diferente, por exemplo, da versão dos Five Hand Reel, em “For ‘a that”). Em todas elas as vocalizações de Andy M. Stewart colocam em relevo os aspectos que mais o valorizam: o toque suave e caloroso do timbre, a flexibilidade tonal, as “nuances” que emprestam a temas como “The exile of Erin” uma originalidade que sabendo respeitar os “cânones” tradicionais, lhe conferem um cunho pessoalíssimo. O acompanhamento instrumental, composto por”uillean pipes” e “whistle” (Ronan Browne), rabeca (Charlie McKerran), teclados e acordeão (Donald Shaw) e “bodhran” (Damian Quinn), permite uma excepcional riqueza de arranjos que fazem de “Ati t again”, exceptuando o horror da capa, a obra até agora mais conseguida do duo. (8)

El Rumbero – “El Rumbero No Pavilhão Carlos Lopes, Em Lisboa – A Rumba Não Se Serve A Frio” (concerto)

Cultura >> Domingo, 29.11.1992


El Rumbero No Pavilhão Carlos Lopes, Em Lisboa
A Rumba Não Se Serve A Frio


Não façam mais concertos no Pavilhão Carlos Lopes. É frio e não tem condições acústicas. E às vezes, como aconteceu sexta-feira à noite na actuação de El Rumbero, muito grande para a escassez de público e a pequenez do talento. No final houve quem pedisse a devolução do dinheiro.



Estariam cerca de mil pessoas no Pavilhão Carlos Lopes dispostas a dançar a rumba e a soltar “olés”, entre palmas, calores e guitarradas. Nada disto aconteceu. Por culpa das condições do recinto, mas também dos músicos, que, rotulados com a auréola de “reyes”, acabaram por revelar-se uma enorme desilusão. Ou talvez fosse do cansaço. Logo no início, El Rumbero apressou-se a dizer que estava fatigado da viagem. E que, explicou, “todos os ciganos têm medo de viajar de avião”. Disse outras coisas mas não se conseguia perceber dado que a acústica do pavilhão transformava cada palavra numa pasta de reverberação que ecoava pelas paredes desoladas como um bombo descontrolado.
Em palco quatro guitarras, um baixo e percussão, mais os respectivos humanos a segurá-los. O “manager” do grupo, um italiano, fez as apresentações. Dois instrumentais mornos fizeram o que seria suposto ser o aquecimento para a entrada do herói da noite, El Rumbero, o rei da rumba, catalão há vários anos a viver em Camarga, França.
Este lá apareceu de voz rouca a dar desculpas, cantou as esperadas rumbas, muitos temas dos primos Gipsy Kings – sem esquecer o hino das feiras, “Bamboleo” – e a coisa nunca passou da mediocridade até ao final. “Vamos a bailar”, dizia a letra de uma canção. Ninguém se mexeu. Mais um esforço para mobilizar as hostes, com El Rumbero dando instruções de canto à assistência que, devido ao som empastelado, soaram ininteligíveis para o público. Percebia-se “oh oh” e “ay ay ay mi madre” seguido por uma série indecifrável de gemidos e interjeições.
Mas o momento mais caricato do espectáculo estava reservado para o final. El Rumbero e os rapazes, enfadados, terminaram abruptamente a actuação e abandonaram o palco, pouco mais de uma hora depois do seu início. Toda a gente pensou que era o intervalo e ficou a espera, muda e queda, da segunda parte. Entrou então o empresário italiano que desatou a berrar “rumbero, rumbero, rumbero!” perante o pasmo colectivo. Como por esta altura o pavilhão já se encontrava completamente enregelado claro que nenhuma alma foi sensível a este entusiasmo empresarial. Mesmo assim a banda regressou ao palco, simulando o empolgamento, para dois “encores” despropositados que ninguém pediu a não ser o patrão.
Algumas ciganitas adolescentes pediam à saída a devolução do dinheiro gasto no bilhete, descontentes com o pobre espectáculo a que tinham assistido. Falataram às rumbas de El Rumbero a “raça” e o nervo que caracterizam a música cigana. E, isso, nem sequer os seus irmãos de sangue perdoaram.

El Rumbero – “O Rei Da Rumba” (concerto)

Pop Rock >> Quarta-Feira, 25.11.1992

O REI DA RUMBA



El Rumbero vem tocar a Portugal. Sim, mas quem é El Rumbero? É o rei da rumba cigana, ídolo dos Gipsy Kings, cantor e guitarrista de reconhecidos méritos. Nasceu no seio da família “Los Reyes”, da comunidade cigana de Camarga, França, a mesma região natal de Manitas de Plata e dos Los Ballairdos, por exemplo, e ao longo dos últimos anos tem levado a música “gitana” aos confins do planeta, incluindo o Extremo Oriente e o Japão.
Mas não se pense que El Rumbero é daqueles tradicionalistas empedernidos avessos à inovação. Nada disso! Ele serve-se das rumbas, dos seus requebros lânguidos, e acrescenta-lhes um toque de modernidade. Um pouco à maneira dos Gipsy Kings, diga-se de passagem. Embora não vá tão longe nas cedências comerciais. Ainda bem. Os “gadjos”, que é como quem diz, os não-ciganos, hão-de gostar de ouvi-lo.
Há um disco dele publicado recentemente (o que já não acontecia há quatro anos) no nosso país pela MVM, com o título “El Rumbero”, no selo Food for Thought. Produção de Stephan Galfas, com quem El Rumbero discutiu ideias e a forma final do projecto. Um álbum de rumbas, como não podia deixar de ser, entre as quais as conhecidas “Chica ven2, “Sel Belissima”, “Pasa” e “Angelina”. Com acompanhamento à guitarra acústica e percussão. Escusado será dizer que vai ser impossível resistir ao apelo da dança.
Como curiosidade, refira-se que El Rumbero e os restantes seis músicos (quatro guitarristas, dois percussionistas) que o vão acompanhar nos espectáculos de Lisboa e do Porto – C. Julli, A. Lacroix, M. Fernandez, M. Canterel, W. Pumpo e M. Sequera – tocarão um “set” exclusivamente acústico.

LISBOA, 27 DE NOVEMBRO,
PAVILHÃO CARLOS LOPES, 22H
PORTO, 28 DE NOVEMBRO,
COLISEU, 22H