Cultura >> Quinta-Feira, 14.05.1992
Banda De Chick Corea Actua Em Lisboa E No Porto
Fusões Eléctricas
Chick Corea e a Elektric Band regressam a Portugal volvidos dois anos sobre a sua actuação, em Novembro de 1990, nos Festivais de Lisboa. Hoje, às 22h, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e amanhã, à mesma hora, no Coliseu do Porto, o jazz-rock volta a atacar em força, trazido por cinco intérpretes brancos que fizeram subir a voltagem da “grande música negra”.
Por muito que os seus detractores defendam o contrário e o acusem de demasiadas cedências ao rock, Chick Corea é uma referência incontornável no panorama do jazz mundial. Pianista de técnica irrepreensível, o músico de ascendência latina (tem antepassados sicilianos, o seu nome verdadeiro é Armando e o bigodinho aparado rente que exibiu durante anos não enganava ninguém…) caracteriza-se por um percurso estilístico que, ao longo dos anos, se tem desmultiplicado, como compositor e intérprete, por áreas tão diversas como a electrónica, a música erudita, o piano solo ou o formato em duo acústico, de que são exemplos brilhantes os discos gravados de parceria com o vibrafonista Gary Burton, no selo ECM.
Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Bud Powell, ao lado de outras constelações do bebop e do har-hop, integram o leque das suas influências. Mais tarde, Horace Silver ensinou-lhe o calor dos ritmos latino-americanos que Chick jamais deixou de integrar na sua própria música, em temas como “Spain”, “La Fiesta” ou “Armando’s rhumba”.
“Tones for Joan’s Bones” é a estreia discográfica do pianista, na condição de “leader”, em meados dos anos 60, durante os quais actua ao lado de Blue Mitchell e de Sarah Vaughan. No final dessa década ocorre o momento crucial – o encontro com Miles Davis, com quem grava as obras-primas do trompetista, “In A Silent Way” e “Bitches Brew”, esta última antepassado bíblico da galáxia “jazz rock” que viria a formar-se.
Assimilado o discurso da modernidade e as “lições de piano” de Bill Evans, Herbie Hancock e McCoy Tyner, Chick Corea abandona o mestre para formar um trio de improvisação com Dave Holland e Barry Altschull, depois aumentado para quarteto (designado Circle) com a inclusão do saxofonista “free” Anthony Braxton.
Satisfeitos os apetites vanguardistas, cumprida a saudação ao “fre jazz”, faltava a Chick Corea a exploração dos universos electrónicos, consumada que fora também, em 1972, a sua primeira aventura em piano solo. Return to Forever – o nome é todo um programa de síntese entre a tradição e o futuro aberto pela descoberta recente do sintetizador “Moog” – consagra Chick Corea como um dos grandes inovadores da música de fusão. Pelos Return To Forever passaram nomes que também eles viriam a fazer escola: Stanley Clarke, Airto Moreira, Flora Purim, Al Di Meola e Lenny White, entre outros.
A aventura acaba em 1975, altura em que Chick Corea sente necessidade de rasgar novos horizontes. É o período das obras clássicas, da escrita para grandes orquestras, da afirmação como compositor. 1985 assiste ao nascimento da Elektrik Band que assinala o retorno do pianista à electricidade e às explorações fusionistas. Da actual formação fazem parte Eric Marienthal, saxofones, Dave Weckl, bateria, Jimmy Earl, que substitui o menino prodígio John Patitucci no baixo, e Frank Gambale, guitarra.