Alan Stivell – “Symphonie Celtique”

Pop-Rock Quarta-Feira, 16.10.1991 – Reedições


O PARAÍSO REENCONTRADO

ALAN STIVELL
Symphonie Celtique
CD, Rounder, distri. Dargil



Reedição no formato digital da obra-prima (originalmente editada em álbum duplo) do bretão que fez incidir sobre a harpa céltica a atenção do mundo. Corria o ano de 1980 e Alan Stivell ardia no fogo da síntese definitiva. Partindo da reactualização da harpa céltica, num contexto geral de recuperação e divulgação da língua e da cultura bretãs, Alain Cochevelou, de seu verdadeiro nome, “cidadão do mundo” como ele próprio se define, procurou sucessivamente sínteses cada vez mais perfeitas entre a tradição, o jazz e o rock, em álbuns lendários como “Renaissance de l’harpe celtique” e “Chemins de terre”. Mas é com esta “sinfonia céltica” (“o adjectivo ‘céltica’ determina uma influência central que me desobriga de toda e qualquer obediência estrita às regras da sinfonia clássica, ditadas na Europa Central, muito longe das nossas ilhas e penínsulas azul-verdes”, explica no folheto interior), subintitulada “Tir Na Nog”, “Inis Gwenva”, em bretão – o paraíso celta, tema que retoma no novo álbum, a sair brevemente, inspirado nas “Brumas de Avalon” de Marion Zimmer Bradley -, que Stivell vai mais longe na tentativa de unir todas as músicas do planeta ao centro espiritual de “Shamballah”, através do cordão de prata de um círculo celta da Bretanha. Para tal, convocou para a gravação desta obra monumental uma orquestra de 65 músicos, oriundos de várias regiões do globo, que inclui, para além da imensa legião celta, o grupo feminino algeriano Djurdjura, a chilena Una Ramos e um par de intérpretes indianos. Parte dos textos é cantada em línguas tão diversas como o algonquino e o quetchua (dialectos índios respectivamente da América do Norte e do Sul), berbere, sânscrito, tibetano e irlandês gaélico.
Dividido em três partes, correspondentes a outros tantos “círculos” (simbolizando os três círculos da espiral Na Triskell), “Tir Na Nog” junta num todo grandioso passagens declamadas, longas sequências orquestrais e canções de sabor popular, num “mantra” diversificado que atinge o auge na “suite” final, “Gouel Hollvedel” (“Festa Universal”), um “medley” de danças compostas por Stivell à maneira tradicional (por vezes divergindo para fraseados jazzísticos ou em transmutações dificilmente definíveis). Elegia sagrada à alegria dos sentidos e à unidade diversificada do Ser, “Gouel Hollvedel” enuncia um dos princípios da Idade Nova, a cumprir no ciclo cósmico que se avizinha: “Cada um tem em si uma parte de verdade e uma parte de erro. Só uma coisa é falsa – considerarmo-nos superiores aos outros. Respeitemos os seus modos, as suas cores, as suas línguas, os seus costumes. Amemo-los a todos, durante os próximos trezentos mil anos.” (10)

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