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Maria Teresa de Noronha, António Variações – “08.12.1993 – Capa”

pop rock >> quarta-feira, 08.12.1993

Capa
POPROCK
especial
DISCOS DE HOMENAGEM E REEDIÇÕES
Maria Teresa de Noronha
António Variações

Janita Salomé – “‘Melro’ volta A Cantar”

pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993


“MELRO” VOLTA A CANTAR



“Melro”, estreia discográfica do cantor Janita Salomé, acaba de ser reeditado em CD pela Movieplay, selo que detém actualmente grande parte do reportório antigo de artistas importantes da música popular portuguesa. A notícia apanhou desprevenido o próprio Janita Salomé, que, espantado, afirmou ter sabido do sucedido apenas pela informação do PÚBLICO. “Não tinha conhecimento de nada”, confessou o intérprete de “Cantar ao Sol” que, para já, não se sente prejudicado: “É evidente que tenho todas as vantagens em ver esse disco reeditado”, embora deixando logo de seguida as reticências: “Não sei bem quais são as implicações jurídicas, se é que as há, disto tudo. A verdade é que este disco foi gravado para a Orfeu, a editora de Arnaldo Trindade, em 1980. Nessa altura gravavam também para essa editora o Zeca, o Adriano Correia de Oliveira, o Vitorino, pronto, e eu fui para lá pela mão do Zeca e do Vitorino, e gravei o disco. Firmei um contrato com a Orfeu, tendo-me sido pagas à cabeça ‘royalties’ no valor de 50 contos. Ficou tudo por aí.” Por enquanto, Janita Salomé não sabe se terá direito a receber mais algum dinheiro pela reedição do seu disco. Sobre este e outros pontos quentes, como seja por exemplo o de saber “se haverá o direito de publicar o disco na editora Movieplay”, afirma que se “vai informar”. Deixando de fora as implicações legais que a questão pode ter, porém, o cantor não hesita em considerar benéfica para a sua carreira a reedição súbita de “Melro”, até porque, como diz, “não grava a solo há algum tempo”. E enquanto aguarda, como dizem na televisão, por “novos desenvolvimentos”, Janita, concentrando embora toda a sua energia no próximo disco, que será duplo, dos Lua Extravagante, lá vai dizendo que “é sempre positiva a agitação do nome do indivíduo”. Quanto ao resto, logo se verá. “Antes de levantar ondas, vou falar com os responsáveis da Movieplay.”

Richard & Linda Thompson – “Hokey Pokey” + “I Want To See The Bright Lights Tonight” + “First Light” + “Sunnyvista”

pop rock >> quarta-feira, 20.10.1993
REEDIÇÕES


RICHARD & LINDA THOMPSON
Hokey Pokey (8) / I Want To See The Bright Lights Tonight (10) / First Light (7) / Sunnyvista (6)
Hannibal, distri. MVM



Richard Thompson faz parte de um grupo de artistas capazes do melhor e do pior. Se nada há a apontar-lhe enquanto guitarrista, já como compositor se deixa enredar, com alguma frequência, nas malhas da vulgaridade. Embora os seus discos a solo atinjam normalmente uma bitola elevada, foi contudo ao lado da sua ex-mulher Linda que o ex-Fairport Convention conseguiu os melhores resultados. É este lote de discos, a que falta acrescentar ainda “Pour down like Silver” e “Shoot out the Lights”, que agora se encontra disponível em Portugal.
Autor de textos invariavelmente pessimistas, o guitarrista encontrou em Linda Thompson, senhora de uma voz que poderemos situar ao lado da de Sandy Denny, uma vocalista capaz de conferir à música ressonâncias estranhas, fruto de um sombreado emocional mais matizado que o do seu companheiro. A vertente folk surge mais nítida em “Hokey Pokey” – a que não é alheia a presença do violinista dos Boys of the Lough, Aly Bain, bem como do acordeonista John Kirkpatrick (participante em todos os discos da dupla) – e mais camuflada em “Sunnyvista”, álbum conceptual que apresenta uma visão corrosiva sobre a “vida feliz” nos paraísos de betão suburbanos, não muito inspirada, pese embora a participação de inúmeras luminárias (Sue Harris, companheira habitual de Kirkpatrick, Kate & Anna McGarrigle, Gery Rafferty, Glen Tilbrook, dos Squeeze…), slavando-se o tema que dá título ao álbum, um portento de ironia iluminada pela originalidade do arranjo. “First Light” não apresenta grandes contrastes – nem grandes momentos nem falhas de vulto -, fixando os seus limites entre o instrumental fairportiano, “The choice wife”, e as belas baladas interpretadas por Linda, “Sweet Surrender”, “Strange affair” e “Pavanne”. Quanto a “I Wanto to See the Bright Lights Tonight”, tem as palavras escritas a sangue e é o ponto mais alto de toda a discografia de Thompson, para tal contribuindo a presença inevitável de Kirkpatrick, alguns membros da “troupe” Fairport Convention / Fotheringay, dois “medievalistas” dos Gryphon, Brian Gulland e Richard Harvey, e um “Albion Band man”, Royston Wood. As vocalizações, tanto de Linda como de Richard, tocam as raias da tragédia, como se a música brotasse de um buraco negro, sem fundo nem saída. Da solidão extrema de “Has he got a friend for me”, uma interpretação sublime de Linda, resvala-se para o niilismo cruel de “The End of the rainbow”, a dor sem remédio de “The calvary cross” anuncia a procissão de cacos e a ascese alcoólica de “Down where the drunkards role” (nunca a voz de Richard Thompson descera tão fundo nos graves). “I Want to See the Bright Lights Tonight” perfila-se como um dos maiores álbuns de sempre do rock com raízes na tradição urbana inglesa.