Luís Cília – “Bailados”

POP ROCK

15 de Fevereiro de 1995
álbuns portugueses

Luís Cília
Bailados

ED. E DISTRI. STRAUSS


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Não fala muito, não aparece na televisão e os seus discos não fazem parte das “playlists” da rádio. Luís Cília limita-se a fazer música. Excelente música. “Regra do Fogo”, editado em 1988, revelou o compositor liberto do espartilho das ideologias, num álbum de música instrumental que ficará para a história. Nos últimos tempos Cília tem composto sobretudo na área do bailado, sendo uma presente trabalho uma colectânea de alguns desses registos e, em simultâneo, o resultado de uma investigação apurada no domínio dos “samplers” e outras tecnologias digitais. “Bailados” reúne composições para coreografias de Paulo Ribeiro, Rui Horta, Rui Nunes e Clara Andermat, a par da recriação de um tema de Henry Purcell e um tradicional da Covilhã. Em “Une histoire de Passion”, as semelhanças com os Tuxedomoon são notórias, nomeadamente no fraseado de um saxofone samplado. “Encantado de servi-lo” integra os pressupostos do minimalismo e as sonoridades de outro notável compositor de bandas-sonoras da actualidade, Gabriel Yared. Um “loop” de uma voz feminina da aldeia de Paul serve de mote a “Encantados de servi-lo II”, uma composição encantatória baseada num tradicional beirão recolhido por José Alberto Sardinha. Em “O sonho de Ícaro”, Cília movimenta-se nas mesmas linhas circulares de outro minimalista americano, o heterodoxo David Borden, autor da história interminável “Electric Counterpoint”, enquanto na segunda versão do mesmo tema a nota é de classicismo à maneira de Purcell, precisamente, subvertido pela incursão de um piano samplado. “Uma ilha num copo de sumo I”, composto para um projecto pedagógico multidisciplinar com crianças do ensino secundário, é o tema onde Luís Cília leva mais longe a exploração dos “samplers”, numa cornucópia de efeitos que inclui toda a espécie de sonoridades, incluindo o miado de um gato. Já a versão dois do mesmo tema regressa às texturas rítmicas minimais próximas de David Borden e o tema final, “Mel”, ao universo Purcelliano. Ao Luís Cília “digitalizado” faltará talvez apenas a invenção de um programa mais personalizado. (7)



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