Vários – “Festivais De Verão – Festa No Bosque Dos Druidas” (concertos / festivais / destaque)

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sexta-feira, 4 Julho 2003
destaque


FESTIVAIS DE VERÃO

Festa no bosque dos druidas

Vizela, Sines e Sendim são os polos da música tradicional neste Verão


No ainda jovem Intercéltico de Vizela, o ambiente conta muito para o sucesso das celebrações em torno da nova cultura com origem na história e imaginário célticos. Os galegos Berroguetto, do multi-instrumentista Anxo Pinto, garantem nota máxima para um festival que terá bandas de gaitas a tocar pelas ruas e uma festa no “bosque dos druidas”, onde público e músicos se juntam para uma viagem pelas tradições milenares, de união e convívio com a música e a Natureza. Em Sendim os celtas estão vivos. Além da presença dos espanhóis Luétiga, o acontecimento será o regresso a Portugal dos Dervish (e, logo, da voz de Cathy Jordan), num festival que encerra com o ritual de uma Missa Intercéltica, onde os homens e os deuses comunicam ao som das gaitas-de-foles. Mais a sul, o castelo de Sines abre-se às músicas do mundo. Como sempre com uma proposta de programação que distingue várias vertentes da “world”, ao ponto de, este ano, trazer o Kronos Quartet, grupo de cordas com especial predileção pela destruição dos dogmas. Para derreter, haverá “reggae” pelos The Skatalites.

Shantalla – “Seven Evenings, Seven Mornings”

(público >> y >> world >> crítica de discos)
04 Abril 2003


SHANTALLA
Seven Evenings, Seven Mornings
Wild Boar Music, distri. MC – Mundo da Canção
9|10



A boa música tradicional irlandesa tem o poder de curar, de colorir os dias e as noites, de nos aproximar do que imaginamos ser a felicidade. Comecemos então por dizer que “Seven Evenings, Seven Mornings” nos faz sentir felizes. Logo ao primeiro tema, “John Riley”, livramo-nos das toxinas. Bastaria a voz (e o vigor do bodhran) de Helen Flaherty e a corrente de água cristalina a escorrer por um “moore” das cordas dedilhadas de Gerry Murray, para nos sentirmos mais vivos. Os arranjos estão próximos dos Planxty, fazendo lembrar a obra-prima deste grupo, “Cold Play and the Rainy Night”. Mas os Planxty não tinham uma cantora como Helen Flaherty. Voz-primavera, irlandesa dos sete costados, Helen é a estrela, o amor, a paixão, o verde, a sombra, a luz e o mistério da Irlanda profunda. Os Shantalla são ainda um coletivo portentoso de onde sobressaem os fabulosos desempenhos de Michael Horgan, nas “uillean pipes” (como não nos arrepiarmos ao escutar um lamento como “Spered hollvedel”?), flauta e “tin whistle”, e Kieran Fahy, no violino e viola de arco, sem esquecer o suporte estratégico de Joe Hennon, na guitarra, e o enriquecimento tímbrico adicional de Gerry Murray, no bouzouki, bandolim e acordeão. “Seven Evenings, Seven Mornings” está ao nível dos clássicos modernos dos Dervish e dos Altan. É tradição como a sabemos sentir nos mitos e nos sonhos.

Four Men And A Dog – “Maybe Tonight”

(público >> y >> world >> crítica de discos)
04 Abril 2003


FOUR MEN AND A DOG
Maybe Tonight
Hook, distri. MC – Mundo da Canção
8|10



Apesar de uma capa de uma indigência confrangedora e de uma desnecessária, embora gorda de carnes, enésima versão de “Music for a found harmonium”, dos Penguin Cafe Orchestra (o tema, de tão recriado pelo atual universo folk, corre o risco de vulgarizar-se), “Maybe Tonight” convida a uma noite de farra. E por falar em gordura de carnes, Gino Lupari continua com o corpo tão cheio como o seu talento de “entertainer” e guerreiro do “bodhran”. Os Four Men and a Dog não são um grupo folk como os outros. Há quem diga que não são um grupo folk, mas uma formidável máquina de ritmos com o objetivo único de entontecer e fazer dançar mesmo a múmia mais entorpecida (se tocarem hoje no Intercéltico como tocaram numa edição anterior deste mesmo festival, decerto que haverá estragos…). “Maybe Tonight” faz passar o “caterpillar” rítmico pelos “rhythm ’n’ blues”, “boogie”, os compassos balcânicos, a “country”, o “rockabilly” e os “reels” da casa, ingredientes de um “cocktail” planetário bebido na refrega de um “pub”. Há, porém, algo de genuinamente irlandês no modo como estes quatro homens fazem a festa e neste particular os “sets” de “jigs”, polcas e “reels” são exemplares da sua fidelidade às origens. Mas “Baby loves to boogie” aí está para nos dizer que a Irlanda desta “troupe” de folgazões não se esgota na geografia de uma ilha.