Can – “Canibalismo – 2ª Parte” (dossier | artigo de opinião)

BLITZ 3 OUTUBRO 1989 >> Valores Selados


CANIBALISMO
2ª PARTE


Depois de uma série de obras magistrais, «Saw Delight» marca o início da decadência. Holger Czukay, peça essencial no xadrez Can, abandona o grupo. Para o seu lugar entra Rosko Gee acompanhado do percussionista Rebop Kwaku Baah, ambos vindos dos Traffic. Com a saída de Czukay perdia-se para sempre o lado genial e excêntrico, ao mesmo tempo que se desfazia uma das melhores secções rítmicas de sempre da música popular contemporânea. A posterior obra a solo de Czukay viria a confirmá-lo. Este senhor de bigode e já entradote em anos era e continua a ser o experimentador e inovador por excelência. O génio incompreendido que transporta às costas o pesado fardo de fazer avançar a música do nosso século. «Saw Delight» é a antiapoteose; «Animal Waves» é o requiem final de despedida nostálgica da antiga magia, quinze minutos de derradeiro transe africano. Anos mais tarde o continente negro voltaria a reclamar em força os seus direitos. O grupo gravou ainda «Out of Reach», título premonitório das exéquias finais. Os Can foram dados oficialmente como extintos. A sua música continua porém a ser fonte inesgotável de inspiração para os músicos e grupos das novas gerações.


Lisboa decadente

Ainda vieram a Lisboa tocar no célebre concerto do Pavilhão dos Desportos, aquele que, para a história da música ao vivo em Portugal, ficou para sempre conhecido como o dia de glória dos portuenses Arte e Ofício. O público aplaudira a banda de Sérgio Castro e vaiara os germânicos que nem tiveram tempo de aquecer. Histórias para esquecer.
Os quatro músicos da formação essencial seguiram cada um o seu caminho. Com maior ou menor sucesso, nenhum deles deixou ficar mal o grupo-pai.

Guitarras, romantismo e batucadas

O teclista Irmin Schmidt foi o mais discreto. Gravou uma série de álbuns com música de filmes, todos intitulados «Filmmuzik», divididos em vários volumes. O melhor é o duplo que inclui os volumes 3 e 4. Dois temas vocalizados ao nível dos melhores de sempre dos Can: «She Makes me Nervous» e «Mary in a Coma», com a participação do fabuloso percussionista Trilok Gurtu. O resto é música instrumental, ultra-romântica, descritiva, essencialmente à base de piano. Schmidt é uma espécie de Wim Mertens mais robusto e rebuscado. Fez ainda parte do projeto Toy Planet, com o saxofonista Bruno Spoerri. O único álbum gravado oscila entre a eletrónica ambiental e alguns ritmos mais dançáveis. O guitarrista Michael Karoli gravou um excelente álbum «Deluge», de parceria com Polly Eltes, uma menina de voz sensual, entre Annette Peacock e Laurie Anderson. A guitarra de Karoli permanece mais metálica e incisiva do que nunca.
Quanto ao percussionista Jaki Liebezeit, o seu caso é surpreendente. Formou os Phantom Band, já com meia dúzia de álbuns no ativo. São os continuadores encartados do som típico dos Can. Mais eletrónicos e bem-humorados que o original. Também mais experimentalistas. Ritmos acústicos e sintéticos, vozes hilariantes, temas superinspirados, fazem de «Nowhere», quinto disco de série, um disco essencial, indispensável não só para os incondicionais da família canibal. Registe-se ainda a participação de Liebezeit na obra-prima «Before and after Science» de Brian Eno.

Um excêntrico de génio

E eis-nos chegados a Holger Czukay, o maior entre os maiores. Czukay foi o pioneiro de muita coisa. Muito antes do aparecimento dos milagrosos samplers já ele se dedicava a entrecruzar sons das mais diversas origens. Com meios artesanais e enormes doses de paciência e de talento. «Canaxis», gravado em 68 e originalmente editado no ano seguinte, é o seu primeiro disco a solo, gravado unicamente com o baixo e cassetes pré-gravadas. Em «Boat Woman Song», a voz de um cantor vietnamita sobressai de um fundo de baixo e música medieval. Brilhante.
«Movies», de 1979, é o extraordinário antecessor de «My life in the Bush of Ghosts» da dupla Eno/Byrne. «Oh Lord Give us More Money» ou «Persian Love» são verdadeiros tratados na arte da colagem sonora.
«On the Way to the Peak of Normal», terceiro a solo, é o único disco que nunca consegui ouvir. Quem o conhece afirma estar a nível dos restantes. Acredito plenamente. O seguinte, «Der Osten ist Rot» («O Oeste é Vermelho») de 84, é o disco mais heterogéneo da sua discografia. Canções pop, Rap, música concreta, interlúdios ambientais e uma delirante paródia ao hino nacional chinês, fazem deste disco uma espécie de cartilha de todas as direções musicais exploradas pelo músico. «Rome Remains Rome» de 87, último até à data, é formalmente o seu disco mais tradicional. Os Blues e o reggae filtrados pela excentricidade do mestre. E uma ironia e humor constantes. Como em «Perfect World» ou «Blessed Easter» em que Czukay põe o pop star Wojtyla a cantar uma homilia em ritmo de blues, acompanhado por um grupo de freiras swingantes. O Vaticano não voltará a ser o mesmo.
Holger Czukay tem colaborado um pouco com toda a gente importante da música inteligente atual. Jah Wobble, Brian Eno, o duo alemão Cluster e David Sylvian são alguns dos músicos que com ele tiveram o privilégio de trabalhar. «Flux + Mutability», segundo da sua colaboração com Sylvian, foi recentemente editado e já se encontra entre nós, via importação. Já o ouvi e é excelente. Sobretudo o primeiro lado, uma continuação mais sofisticada das premissas estéticas enunciadas em «Canaxis».
Dos Can e dos seus quatro principais membros se poderá dizer que fizeram e ainda fazem História. O futuro da música continua a passar pela sua inspiração. Infelizmente hoje os canibais são outros, bem diferentes e sobretudo mais perigosos. Para a semana, Christian Vander e os Magma.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #90 – “Os meus discos de jazz (FM)”

#90 – “Os meus discos de jazz (FM)”

Fernando Magalhães
20.03.2002 160428
JAZZ

Algumas das classificações são provisórias mas, mais ou menos meio ponto, a coisa bate certo…

ABDULLAH IBRAHIM

1568 – Ekaya (Black Hawk, 1987) – 7,5/10
2470 – African River (Enja, 1989) – 8/10
0148 – Mantra Mode (Tiptoe, 1991) – 7,5/10

AL DI MEOLA

0516 – Land of the Midnight Sun (Sony, 1976) – 7,5/10

ALICE COLTRANE

3166 – Ptah, The El Daoud (Impulse, 1970) – 7,5/10

APARIS

1783 – Aparis (ECM, 1990) – 8/10
0344 – Despite the Fire-Fighters’ Efforts (ECM, 1993) – 8/10

ARCHIE SHEPP

0836 – On this Night (Impulse, 1966) – 8/10
1493 – The Way Ahead (Impulse, 1968) – 8,5/10
0776 – Things have got to Change (Impulse, 1971) – 9/10
0977 – Little Red Moon (Soul Note, 1986) – 7,5/10

ART BLAKEY & THE JAZZ MESSENGERS

2181 – Mosaic (Blue Note, 1961) – 8/10

BEAU HUNKS (THE)

1169 – Celebration on the Planet Mars, A Tribute to Raymond Scott (Basta, 1994) – 8/10
1108 – Manhattan Minuet (Basta, 1996) – 8/10
2507 – The Beau Hunks Saxophone Soctette (Basta, 1999) – 8/10

BILLIE HOLIDAY

1541 – Lady Sings the Blues (Verve, 1956) – 7/10

BILLY COBHAM

3320 – Spectrum (Atlantic, 1973) – 8/10
0046 – Crosswinds (Atlantic, 1974) – 8/10

BOBBY HUTCHERSON, CRAIG HANDY, LENNY WHITE, JERRY GONZALEZ

1434 – Acoustic Masters II (Atlantic, 1994) – 7,5/10

BOBBY PREVITE

1152 – Music of the Moscow Circus (Gramavision, 1990) – 7,5/10
2402 – Weather Clear, Track Fast (Enja, 1991) – 8/10
1232 – Hue and Cry (Enja, 1994) – Fev.02 – 7,5/10

BOULEVARD OF BROKEN DREAMS

0908 – It’s the Talk of the Town and other Sad Stories (Hannibal, 1989) – 7,5/10

CARLA BLEY

0720 – Escalator over the Hill (c/Paul Haines) 2xCD (JCOA, 1971) – 8/10
0630 – Tropic Appetites (Watt, 1974) – 9/10
0474 – Dinner Music (Watt, 1977) – 8/10
0453 – Musique Mecanique (Watt, 1979) – 10/10
0601 – Social Studies (Watt, 1981) – 8/10
1773 – The very Big Carla Bley Band (Watt, 1991) – 7,5/10
2541 – Fancy Chamber Music (Watt, 1998) – 8/10

CARLOS SANTANA & ALICE COLTRANE

1866 – Illuminations (Sony Rewind, 1974) – 7/10

CENTIPEDE

2917 – Septober Energy 2xCD (BGO, 1971) – 8/10

CHARLES MINGUS

2741 – The Black Saint and the Sinner Lady (Impulse, 1963) – 10/10

CHICAGO UNDERGROUND DUO/TRIO

0186 – Possible Cube (Delmark, 1999) – 8/10
2778 – Synesthesia (Thrill Jockey, 2000) – 8/10

CHICK COREA

0306 – Return to Forever (ECM, 1972) – 7,5/10
3242 – The Leprechaun (Verve, 1975) – 7,5/10
0973 – Again and Again (The Joburg Sessions) (Elektra, 1983) – 7,5/10

CHRIS McGREGOR’S BROTHERHOOD OF BREATH

2326 – Chris McGregor’s Brotherhood of Breath (Repertoire, 1971) – 9/10

COLIN WALCOTT, DON CHERRY, NANA VASCONCELOS

1353 – Codona (ECM, 1981) – 8/10
1457 – Codona 2 (ECM, 1981) – 7/10
1366 – Codona 3 (ECM, 1983) – 8/10

DAVE HOLLAND

2489 – Jumpin’ in (ECM, 1984) – 7,5/10
3322 – Dream of the Elders (ECM, 1996) – 8/10
2656 – Not for Nothin’ (ECM, 2001) – 8/10

DAVID MURRAY

3286 – The Hill (Black Saint, 1988) – 8/10
0380 – Deep River (DIW, 1989) – 8/10
0717 – Ballads (DIW, 1990) – 810

DON ELLIS ORCHESTRA (THE)

2528 – Electric Bath (Columbia, 1967) – 8,5/10

DUKE ELLINGTON

2118 – The Afro-Eurasian Eclipse (Fantasy/Original Jazz Classics, 1975) – 8,5/10

EBERHARD WEBER

1221 – The Colours of Chloe (ECM, 1974) – 8,5/10

EDWARD VESALA

1465 – Nan Madol (ECM, 1976) – 8/10
1329 – Invisible Storm (ECM, 1992) – 8/10

FELA ANIKULAPO KUTI

2223 – Army Arrangement (Barclay, 1985) – 7/10
0981 – Beasts of no Nation (Shanachie, 1989) – 8/10

GARY BURTON

1934 – Dreams so Real (ECM, 1976) – 7,5/10

GIANLUIGI TROVESI

2492 – From G to G (Soul Note, 1992) – 9/10

GIL EVANS

2393 – Into the Hot (Impulse, 1961) – 7,5/10
2437 – Where Flamingos Fly (A&M, 1971, 1981) – 8/10

HERBIE HANCOCK

3161 – Sextant (Columbia Legacy, 1973) – 8/10
3258 – Head Hunters (Columbia Legacy, 1973) – 8,5/10

HERMETO PASCOAL

1374 – A Música Livre de Hermeto Paschoal (Philips, 1973) – 7,5/10
0569 – The Legendary Improviser (West Wind, 2001) – 7,5/10

HUGH HOPPER, ELTON DEAN, KEITH TIPPETT, JOE GALLIVAN

2609 – Cruel but Fair (One Way, 1976) – 8,5/10
2613 – Mercy Dash (Culture Press, 1985) – 8/10

JACK BRUCE

3276 – Things We Like (Polydor, 1970) – 8/10

JACK DeJOHNETTE’S SPECIAL EDITION

3321 – Special Edition (ECM, 1980) – 8,5/10
3318 – Tin Can Alley (ECM, 1981) – 8,5/10

JAN GARBAREK, BOBO STENSON, TERJE RYPDAL, ARILD ANDERSEN, JON CHRISTENSEN

0320 – Sart (ECM, 1971) – 8/10

JAZZ PASSENGERS (THE)

1107 – Implement Yourself (New World, 1990) – 8/10

JEAN DEROME

1996 – Carnets de Voyage (Ambiances Magnétiques, 1994) – 8/10
1907 – Navré (Ambiances Magnétiques, 1995) – 8/10
2596 – La Bête, the Beast within (Ambiances Magnétiques, 1996) – 7/10

JEAN – LUC PONTY

2769 – King Kong (Blue Note, 1970) – 8/10

JOE HENDERSON

2509 – Tetragon (Beat Goes Public, 1967) – 7,5/10
– In Pursuit of Blackness (1971) – 7,5/10
1717 – Multiple (Original Jazz Classics, 1973) – 8/10
0310 – The Elements (Original Jazz Classics, 1974) – 8/10

JOE ZAWINUL

2775 – Zawinul (Atlantic Jazz, 1971) – 8/10

JOHN ABERCROMBIE

3298 – Timeless (ECM, 1975) – 7,5/10

JOHN ABERCROMBIE, MARC JOHNSON, PETER ERSKINE

2808 – November (ECM, 1993) – 7,5/10

JOHN COLTRANE

3172 – Blue Train (Blue Note, 1957) – 8/10
0954 – Giant Steps (Atlantic, 1960) – 8,5/10
3171 – A Love Supreme (Castle Pie, 1965) – 8,5/10
3306 – Sun Ship (Impulse, 1965) – 8,5/10

JOHN LURIE

0392 – Down by Law/Variety (Made to Measure, 1987) – 7/10

JOHN McLAUGHLIN

1002 – Extrapolation (Polydor, 1969) – 9/10
3270 – Where Fortune Smiles (BGO, 1971) – 8/10
1775 – Inner Worlds (Columbia, 1976) – 7,5/10

JOHN SURMAN

1551 – How many Clouds can you See? (Deram, 1970) – 8/10
3261 – Tales of the Algonquin (Deram, 1971) – 10/10
3227 – Westering Home (Future Music Legacy, 1972) – 8/10
1431 – Upon Reflection (ECM, 1979) – 8,5/10
1003 – The Amazing Adventures of Simon Simon (ECM, 1981) – 9/10
3266 – Such Winters of Memory (ECM, 1983) – 9/10
0995 – Witholding Pattern (ECM, 1985) – 8/10
0682 – Private City (ECM, 1988) – 7,5/10
0963 – Road to Saint Ives (ECM, 1990) – 7,5/10

JOHN TAYLOR

2102 – Pause, and Think again (FMR, 1971) – 7,5/10

JOHN ZORN

0359 – The Big Gundown (Icon, 1986) – 9/10
0407 – Spillane (Elektra Nonesuch, 1987) – 8/10

KEITH TIPPETT GROUP (THE)

0643 – You are here…I am there (Disconforme, 1970) – 9/10
2918 – Dedicated to you, but you weren’t Listening (Repertoire, 1971) – 9/10

LARRY CORYELL

2433 – Spaces (Vanguard, 1969) – 7,5/10

LENNIE TRISTANO & WARNE MARSH

2825 – Jazz of Two Cities (Capitol, 1956) – 8/10
– Intuition (1949) – 7,5/10

LOUIS SCLAVIS

2117 – Chine (IDA, 1987) – 9/10
2246 – Chamber Music (IDA, 1989) – 8,5/10
2247 – Les Violences de Rameau (ECM, 1996) – 9,5/10
0734 – L’Affrontement des Prétendants (ECM, 2001) – 10/10

LOUNGE LIZARDS (THE)

0422 – The Lounge Lizards (Editions EG, 1981) – 7,5/10
0722 – Voice of Chunk (Milan, 1989) – 8/10

MAHAVISHNU ORCHESTRA

2291 – The Inner Mounting Flame (Columbia, 1972) – 9/10
0073 – Birds of Fire (Columbia, 1973) – 9/10
0988 – The Lost Trident Sessions (Columbia Legacy, 1973) – 7,5/10
0544 – Apocalypse (CBS, 1974) – 7/10

MARC MOULIN

3175 – Sam Suffy (Counterpoint, 1975) – 6,5/10

MARKUS STOCKAUSEN

1352 – Possible Worlds (CMP, 1995) – 7/10

MARKUS STOCKAUSEN & GARY PEACOCK

1797 – Cosi Lontano Quasi Dentro (ECM, 1989) – 8/10

MARTY EHRLICH

2776 – Just Before the Dawn (New World, 1995) – 8/10

MAX ROACH

2525 – M’Boom (Columbia, 1979) – 7,5/10

McCOY TYNER

2783 – Expansions (Liberty, 1970) – 7,5/10
0170 – Sahara (Original Jazz Classics, 1972) – 8,5/10
1349 – Atlantis (Milestone, 1975) – 8,5/10

METROPOLE ORCHESTRA (THE)

2606 – Raymond Scott: The Chesterfield Arrangements, 1937-38 (Basta, 1999) – 9/10

MICHAEL GIBBS

3181 – Michael Gibbs (Deram, 1970) – 9/10
2735 – Tanglewood 63 (Deram, 1971) – 8,5/10
2458 – The only Chrome-Waterfall Orchestra (BGO, 1975) – 9,5/10

MICHAEL MANTLER

3027 – Movies (Watt, 1978) – 7,5/10
– More Movies (1980) – 7,5/10
3028 – Something there (Watt, 1983) – 7,5/10
2052 – Alien (ECM, 1985) – 7,5/10

MICHEL PORTAL

2560 – Turbulence (Harmonia Mundi, 1987) – 9/10

MIKE WESTBROOK CONCERT BAND (THE)

1407 – Release (Deram, 1968) – 9/10
2632 – Metropolis (BGO, 1971) – 9,5/10

MILES DAVIS

0889 – In a Silent Way (Sony, 1969) – 9,5/10

MILT JACKSON

1542 – Sunflower (CTI, 1973) – 7,5/10

MIROSLAV VITOUS

2482 – Journey’s End (ECM, 1983) – 8/10

MYRA MELFORD

1381 – Even the Sounds Shine (Hat Hut, 1995) – 8/10
2612 – The same River twice (Gramavision, 1996) – 8/10

NEIL ARDLEY

0274 – Kaleidoscope of Rainbows (Line, 1976) – 8,5/10

NUCLEUS

1874 – Elastic Rock (BGO, 1970) – 9/10
– We’ll Talk about it Later (1971) – 9/10

PAT METHENY & LYLE MAYS

0860 – As Falls Wichita, so Falls Wichita Falls (ECM, 1981) – 8/10

PAT METHENY (GROUP)

0639 – 80/81 2xCD (ECM, 1980) – 8/10
0940 – Offramp (ECM, 1982) – 8/10

PAUL BLEY

2542 – Synth Thesis (Postcards, 1994) – 8/10

PAUL MOTIAN

2531 – It Should’ve Happened a Long Time ago (ECM, 1985) – 7,5/10

PETER APFELBAUM

1125 – Jodoji Brightness (Antilles, 1992) – 8/10
1894 – Luminous Charms (Gramavision, 1996) – 7,5/10

PHAROAH SANDERS

1481 – Karma (Impulse, 1969) – 8/10

PIERRE FAVRE ENSEMBLE

1264 – Singing Drums (ECM, 1984) – 7,5/10

RABIH ABOU-KHALIL

1024 – Al-Jadida (Enja, 1991) – 8/10
3323 – Blue Camel (Enja, 1992) – 8/10

RANDY WESTON

0871 – Tanjah (Verve, 1973) – 8/10
2561 – Portraits of Thelonious Monk/Well you Needn’t (Verve, 1989) – 8/10
1909 – Self Portraits (Verve, 1990) – 8/10
2034 – The Spirits of our Ancestors 2xCD (Antilles, 1992) – 9/10
0998 – Khepera (Verve, 1998) – 8/10

RANDY WESTON & MELBA LISTON

2350 – Volcano Blues (Verve, 1993) – 8/10

RAYMOND SCOTT

0496 – Reckless Nights and Turkish Twilights (Basta, 1949) – 8,5/10

RETURN TO FOREVER

1953 – Light as a Feather 2xCD (Verve, 1973) – 7,5/10
2162 – No Mystery (Polydor, 1975) – 6/10
3264 – Romantic Warrior (Columbia, 1976) – 7,5/10

SAMARAI CELESTIAL

1145 – Isis Sun (Carrot Top, 1995) – 7,5/10
3317 – Cosmic Gold Millenium 2xCD (Carrot Top, 1997) – 8/10

SERGEY KURYOKIN

0402 – Some Combinations of Passion and Fingers (Leo, 1991) – 8/10

SHAKTI

0196 – A Handful of Beauty (Columbia, 1977) – 8/10
3222 – Natural Elements (Columbia, 1977) – 7,5/10

SOFT HEAP

2642 – Soft Heap (Spalax, 1979) – 7,5/10

SOFT MACHINE (THE)

0904 – Third (Columbia, 1970) – 10/10
1634 – Fourth (Columbia, 1971) – 8/10
1337 – Fifth (Columbia, 1972) – 8/10
1338 – Six (Columbia Rewind, 1973) – 8/10

SONNY ROLLINS

2378 – Volume 2 (Blue Note, 1957) – 8/10
0770 – Next Album (Original Jazz Classics, 1972) – 8/10

STAN GETZ & JOÃO GILBERTO

0716 – Stan Getz/João Gilberto (Verve, 1964) – Mai.98 – 33.25

STAN GETZ & LIONEL HAMPTON

0844 – Hamp & Stan (Verve, 1955) – 8/10

STANLEY CLARKE

3160 – Stanley Clarke (Epic, 1974) – 7/10
2488 – Journey to Love (Epic, 1975) – 7,5/10

STANLEY COWELL

2521 – Brilliant Circles (Black Lion, 1969) – 8/10

SUN RA

0663 – Black Myth/Out in Space 2xCD (MPS, 1971) – 7,5/10

TAMIA & PIERRE FAVRE

1176 – Solitudes (ECM, 1992) – 8/10

TERJE RYPDAL

1720 – Terje Rypdal (ECM, 1971) – 8/10
3304 – Whenever I Seem to be Far away (ECM, 1974) – 7,5/10
3267 – Odyssey (ECM, 1975) – 8/10
2651 – After the Rain (ECM, 1976) – 8,5/10
0706 – Waves (ECM, 1978) – 8,5/10
0573 – Chaser (ECM, 1985) – 7/10
3324 – Blue (ECM, 1987) – 7,5/10
3315 – Skywards (ECM, 1997) – 7,5/10

TERJE RYPDAL, MIROSLAV VITOUS, JACK DeJOHNETTE

2816 – Terje Rypdal, Miroslav Vitous, Jack DeJohnette (ECM, 1979) – 8/10

TONY WILLIAMS LIFETIME

3294 – (Turn it over) (Verve, 1970) – 8,5/10

TRIO

2698 – Conflagration (BGO, 1971) – 8/10

VANDERMARK FIVE (THE)

0399 – Target or Flag (Atavistic, 1998) – 8/10

VLADIMIR ESTRAGON

1086 – Three Quarks for Muster Mark (Tip Toe, 1989) – 8/10

WAYNE SHORTER

Schizophrenia (1967) – 8/10
2217 – Super Nova (Blue Note, 1969) – 8/10

WEATHER REPORT

2863 – I Sing the Body Electric (Sony, 1972) – 9/10
3300 – Sweetnighter (Columbia Legacy, 1973) – 8/10
3140 – Mysterious Traveller (Sony, 1974) – 8,5/10
3289 – Procession (Columbia, 1983) – 7,5/10

F;M

PS – Esta lista já está desactualizada…mas não muito…

Há novos de LOUIS SCLAVIS, MICHEL PORTAL, PAUL BLEY, MARTY EHRLICH, NEW YORK JAZZ COMPOSERS, JERRY GRANELLI, PINO MINAFRA, STEUART LIEBIG…

E falta uma imensidão de clássicos, claro!

PSS- Ainda não tenho – oh vergonha! – qualquer CD do THELONIOUS MONK!…

Can – “Can ibalismo 1ª Parte” (valores selados | dossier | artigo de opinião)

BLITZ 26 SETEMBRO 1989 >> Valores Selados

Os Can foram, sem dúvida, um dos grupos mais marcantes de toda a década de setenta. Surgidos do caldeirão da cena underground berlinense do final dos «sixties», cedo se demarcaram da orientação estética predominante neste movimento.


CAN
IBALISMO
1ª PARTE


A Kosmische Musik, por muitos erradamente apelidada de rock alemão, entrava então em cena, logrando implantar-se, anos mais tarde pelo resto da Europa. Um nunca mais acabar de grupos ensopados no psicadelismo da época, projetava todo um misticismo para o cosmos infinito. Era a resposta germânica ao Flower-Power dos jovens hippies americanos. A filtragem eletrónica das experiências alucinatórias ou de auto-iluminação, num contexto inovador. Quilómetros e quilómetros de cabos de ligação entre os sintetizadores e os neurónios. A maioria não resistiu à passagem do tempo e das modas e ficou pelo caminho. Para a História ficaram, no entanto, alguns nomes importantes como Popol Vuh, Ash Ra Tempel, Cluster, Guru Guru, Wallenstein ou Neu, para não falar dos hoje superfamosos Tangerine Dream ou do papa da música planante, Klaus Schulze.


FILMES DE MONSTROS

Os Can não foram em cantigas. Sintetizadores, nem vê-los. A única concessão à eletrónica era um estranho aparelho utilizado pelo teclista Irmin Schmidt, com o nome ainda mais estranho de Alpha 77. Procuravam o transe mas por outras vias.
Ao contrário dos seus companheiros de armas, alucinados pelos canos e botões dos seus Moogs, A.R.P. e VCS3, era nas percussões hipnóticas e no desregramento da voz que procuravam a libertação. Onde todos os outros se voltavam para o Oriente em busca do novo Katmandou cósmico, os Can mergulhavam nas raízes negras africanas. Onde todos os outros pronunciavam devotamente o OM universal, o vocalista japonês Kenjo «Damo» Suzuki berrava histericamente onomatopeias sem sentido aparente, quando não apenas sons guturais ou gritos lancinantes, nem espécie de regressão às origens da voz humana.
A formação que deu melhor conta de si foi o clássico quinteto constituído pelo já citado «Damo» Suzuki, até então cantor de rua, o teclista Irmin Schmidt e o genial baixista Holger Czukay, ambos ex-discípulos de Stockhausen, o baterista e percussionista Jaki Liebezeit e o guitarrista Michael Karoli.
«Monster Movie» de 1969 foi a primeira grande obra, evidenciando uma sonoridade ainda não totalmente liberta das influências da West-Coast americana, com longas improvisações à boa maneira das jam-sessions de grupos como os Grateful Dead ou Jefferson Airplane. Mas já lá estava a batida hipnótica e metronómica característica de toda a sua obra.


GRITOS E SUSPIROS

«Tago Mago» é a primeira obra-prima, um duplo álbum literalmente avassalador. Os ritmos tornam-se mais complexos. A guitarra de Karoli cortando a direito como uma lâmina de aço.
Schmidt produzindo com o seu Alpha 77 sons de insetos mutantes e, claro, a voz e o canto crescentemente alucinados de Suzuki. A par de longas sequências de instrumentais de quase 20 minutos, canções como o clássico «Mushroom» ou a resposta ao misticismo então vigente: «Aumgn», paródia ameaçadora e distorcida à sílaba sagrada OM ou AUM, invertendo a polaridade às sonoridades eletrónico-planantes. Imensa e terrífica catedral demoníaca, povoada de ecos cavernosos e repetições angustiantes, num jogo infinito de espelhos. Mas também o humor e o encantamento de Alice no País das Maravilhas de «Bring me Coffee or Tea». «Tago Mago» marca decisivamente o início da década, confirmando os Can como um dos seus grupos mais vanguardistas.
Segue-se «Ege Bamyasi», de 72, levando todas as premissas musicais do grupo aos limites do absurdo e do delírio. «Damo» Suzuki ora gritando até ao paroxismo, revirando-nos as tripas, ora sussurrando ladainhas incongruentes ou de oculto sentido. É o disco da paranoia mais ou menos controlada. Depois dele tiveram mesmo de descansar, gravando «Soundtracks», como o nome indica, uma recolha de temas utilizados em diversas bandas sonoras.

DIAS FUTUROS

1973 vê aparecer «Future Days», para muitos o melhor álbum do grupo, opinião que partilho. É a obra da maturidade. A força e o telurismo até então dificilmente contidos são aqui magistralmente manipulados. A sucessão de clímaxes é substituída por um processo de sublimação, tornando a música infinitamente mais serena. «Bel Air», que ocupa a totalidade do segundo lado, é o apogeu, o ponto culminante de uma música que aqui atinge a perfeição. Afinal os Can também alcançaram o seu Nirvana.
«Limited Edition» é um apanhado de temas originais gravados entre 68 e 74. Esboços de um humor surrealizante («Blue Bag», «Mother Upduff») e a introdução das séries E.F.S. (Ethnological Forgery Series), pequenas peças de aproximação à música étnica (a mais antiga datada de 68!). Entretanto o vocalista japonês abandonava o grupo para se juntar às Testemunhas de Jeová (!). Era de prever a sua loucura definitiva… As vocalizações passaram a estar a cargo de Michael Karoli que tem a parte de leão no álbum seguinte, «Soon Over Babaluma». Álbum essencialmente instrumental em que Karoli dá lições na arte de bem tocar guitarra e se desembaraça razoavelmente no violino. O álbum inclui «Como Sta La Luna», uma inspirada maluquice cantada em espanhol, lembrando um dos descarrilamentos típicos de Kevin Ayers.
«Landed» de 75 e «Flow Motion» do ano seguinte, são os derradeiros trabalhos à altura dos anteriores pergaminhos e os últimos gravados com o então quarteto constituído por Karoli, Schmidt, Czukay e Liebezeit. Ostentam o som habitual do grupo, por esta altura já consagrado em toda a Europa.
«Saw Delight» assinala o início da decadência. Mas esta e outras histórias ficarão por contar até à próxima semana. Assim, no próximo número, não perca: «O célebre concerto no Pavilhão dos Desportos», «Aventuras e desventuras a solo de cada um dos Canibais». Tudo isto e muito mais.