Arquivo de etiquetas: UHF

UHF – “Santa Loucura”

pop rock >> quarta-feira >> 26.05.1993


UHF
Santa Loucura
2xCD, BM



António Manuel Ribeiro a solo é uma coisa e com os UHF é outra, bastante melhor. Em “Santa Loucura” deixaram-se todos de mariquices e assinaram um bom álbum, sólido, à boa maneira do grupo. O primeiro disco é puro rock ‘n’ rol, com AMR a cantar ao seu velho estilo monocórdico, mas, neste registo, eficaz. Rui Dias dá um “show” constante de guitarra eléctrica, num dos melhores desempenhos neste instrumento alguma vez gravados em disco de produção nacional. Fernando Delaere, no baixo, é outra revelação. Poderoso, melódico, ora em diálogo acertado, ora em suporte musculado da guitarra. Os dois bem secundados pela bateria de Fernando Pinho. Para ouvir bem alto, como a banda aconselha, “de acordo com o artigo primeiro do rock”. O segundo disco, pretendendo mostrar o lado mais calmo e intimista da banda, baixa um pouco a fasquia. AMR faz cara e voz sérias enquanto declama o texto de “Suave dança do vento” e Renato Júnior tem espaço para deixar respirar o piano. Há temas ecologistas, lamentos por Sarajevo e uma aproximação engraçada aos Xutos & Pontapés, em “No banco de trás”. Tivesse “Santa Loucura” ficado limitado à linha dura do primeiro disco e seria um dos melhores UHF de sempre. (6)

UHF – “UHF Deixam a Edisom” (notícia)

Secção Cultura Quarta-Feira, 13.03.1991 (Notícia)


UHF Deixam a Edisom

Está tudo acabado entre os UHF e a Edisom, na altura em que estava prestes a findar o contrato de três anos que a banda assinara com esta editora – “um divórcio de comum acordo” – nas palavras de António Manuel Ribeiro, líder dos UHF, que aponta como motivos para a separação, aspectos ligados a uma promoção deficiente: “Muitas vezes foi difícil à Edisom furar um certo círculo onde quase todas as chamadas multinacionais trabalham muito bem.” Os UHF queixam-se, por exemplo, de, ao contrário de outros artistas da editora, “nunca terem visto o seu trabalho ser editado em mini-cassete”, formato que consideram ser o que mais vende em Portugal. “Opções editoriais” que a banda de Almada diz “respeitar”, mas não poder já aceitar. Neste momento os UHF preparam o lançamento do seu próprio selo, “UHSom”, que inclusive poderá vir a editar trabalhos de outros artistas. A 15 de Abril, António Manuel Ribeiro regressa ao estúdio, para iniciar as gravações de mais um disco da banda bem como da sua estreia a solo.

UHF – “Este Filme / Amélia Recruta”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 4 JULHO 1990 >> Videodiscos >> Pop

CONTRA OS CANHÕES


UHF
ESTE FILME/AMÉLIA RECRUTA
Maxi, Ed. Edisom



Este disco prova-o. Os UHF assumem-se definitivamente como o principal grupo português de rock. Do verdadeiro, direto, descomplexado, mandando às urtigas quem neles insiste em ver D. Sebastião ou então, frustradas as tontas expetativas, uma corja de vendidos. Não são nem uma coisa nem outra. Nem se preocupam muito com isso. O novo disco é o melhor da banda, dos últimos tempos. A vários níveis. A começar pela capa, uma fotografia simulando um anúncio de filme, retratando a preto e branco uma cena de guerra. “Este Filme” e a legenda aposta – “Intenso e verdadeiro, humor… A história de um soldado”. Por baixo a respetiva ficha técnica. O cartaz, sobrepondo-se à impressão de uma entrevista a António Manuel Ribeiro. Na contracapa, um plano ampliado da mesma fotografia, nas cores da bandeira nacional.
Quatro temas. Do lado A o já citado “Este Filme” e “Portugal dos Pequeninos”. O primeiro um tema lento e balanceado em que AMR mostra até que ponto tem evoluído como vocalista. Seguro, cantando como se tudo dependesse das palavras. Cantando-se a si próprio, como quase sempre, e ao país que a seguir retrata como o “dos pequeninos”. Este último o mais facilmente encostado ao som habitual da banda. O outro lado é excelente. “Amélia Recruta” é a canção mais forte do disco. Um “hit” inevitável, disparando rock ‘n’ roll sobre a instituição militar, com uma convicção eufórica e uma melodia irresistível. O “Rock de Cá” é uma crítica irónica e não muito feroz ao meio musical lusitano. Que, bem feitas as contas, não existe como tal.
É também ao nível dos arranjos que a banda de Almada faz questão de afirmar a diferença. O modo como o saxofone de Renato Júnior é projetado para a boca de palco, liberto em contorções furiosas, as intervenções guitarrísticas de Rui Rodrigues e Renato Gomes, este como convidado especial em “O Rock de Cá”, os teclados, imitando marimbas neste último tema, são alguns exemplos sintomáticos de que a banda de Almada não está disposta a dormir sobre os louros alcançados. Liberta de fantasmas, o povo é finalmente o único destinatário das canções e palavras do seu líder carismático, o mesmo que reconhece frontalmente serem os UHF o seu projeto a solo. Palavras e melodias para serem cantadas e assobiadas na rua pela grande massa anónima, a mesma que os levou ao lugar ímpar que ocupam, por direito próprio, no panorama musical luso. Quanto às polémicas e acusações que regularmente se levantam à sua volta, “os lobos uivam, a caravana passa”. Quer queiramos quer não, há que continuar a contar com os UHF e desde já como estes novos “argumentos e bandas sonoras” assinados por António Manuel Ribeiro e interpretados pelo “cast” UHF.