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David Byrne – A Máscara Da Nudez – concerto

Pop Rock

16 de Novembro de 1994

A MÁSCARA DA NUDEZ


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“Sou uma vítima da minha própria curiosidade. Sigo exactamente para onde o meu interesse me conduz. Não tenho qualquer pretensão de ter uma experiência continuada em áreas diferentes, mas não consigo evitar a diversidade. Faço aquilo de que gosto, aquilo que me dá prazer.” Eis, nas suas próprias palavras, uma boa explicação para o percurso artístico, aparentemente incongruente, de David Byrne, que, após uma primeira presença no nosso país em 1992, acompanhado pela Pro Arte Orchestra, regressa aos palcos portugueses. Não é fácil, na verdade, encontrar o fio condutor numa obra que desde 1977, com a estreia discográfica dos Talking Heads, não tem parado de procurar novos caminhos. Se, cingindo-nos unicamente à banda, é possível descortinar no seu seio múltiplas direcções e tendências, é contudo na discografia a solo de Byrne que esta diversidade se manifesta de forma inequívoca. David Byrne salta de estilo e experimenta novas fórmulas de disco para disco. Entre o primeiro “Catherine Wheel” (peças para dança, com coreografia de Twila Tharp) e o último e, na aparência autobiográfico, “David Byrne”, estão “Music for the Knee Plays” (leitura vertiginosa do “gospel” composta para teatro), “The Forest” (classizante, pós-industrial, pós-moderna, esotérica e tribalista música para um “libretto” de Robert Wilson) e “The Last Emperor” (banda sonora, composta a meias com Ryuichi Sakamoto, para o filme de Bertolucci com o mesmo nome) a desafiar qualquer lógica de continuidade. Com Brian Eno, Byrne construiu ainda “My Life in the Bush of Ghosts”, uma das obras seminais da década de 80.
Com uma atitude idêntica à de um homem do Renascimento, David Byrne reparte as suas actividades entre a composição, a produção (A.R. Kane, B-52’s, Fun Boy Three) e o cinema, como actor e realizador de “videoclips” ou da longa-metragem “True Stories”, tendo ainda tempo para se dedicar à sua própria editora Luaka Bop, vocacionada para a divulgação de música étnica e várias partes do globo.
No ano passado, Byrne fez nova inflexão de rumo, actuando em dueto com nomes como Natalie Merchant, dos 100000 Maniacs, Rosanne Cash (filha de Johnny Cash, patriarca da “country music”), e Lucinda Williams (expoente do “country rock”), num regresso a um formato acústico que culminaria na gravação do novo álbum “David Byrne”.
Nesta sua segunda visita a Portugal, Byrne virá acompanhado por Todd Turkisher, na bateria, Paul Socolow, no baixo, e Mauro Refosco, nas percussões, os dois primeiros responsáveis em grande parte, segundo o compositor, pelos arranjos e sonoridades do álbum. Que máscara envergará David Byrne desta vez? A mesma do disco, da sua própria nudez?

DAVID BYRNE
19 Nov. Coliseu do Porto.
20 Nov. Coliseu dos Recreios, Lisboa.



“Feeling” Para A Festa – David Byrne – Entrevista –

13.02.1998
David Byrne Actua Amanhã No Porto E No Domingo Em Lisboa
“Feeling” Para A Festa

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David Byrne regressa este fim-de-semana às salas nacionais, a meio da sua digressão “Feelings”. Com uma “big band” virtual a garantir tempo de festa. Entre um novo disco de remisturas com edição privada e um próximo dueto com Caetano Veloso, prepara-se para fazer sair na sua Luaka Bop um álbum do angolano Waldemar Bastos. Paulo Bragança é que terá que esperar. O antigo mentor dos Talking Heads não gostou do novo dos Radiohead. Sobre os Tortoise diz que fica “à espera que apareça o vocalista, só que não aparece vocalista nenhum…”.

Uma banda de cinco músicos de variadas proveniências e estilos e uma quantidade apreciável de “samplers” garantem a diversidade de uma festa antecipadamente prometida. Foi, entee outras coisas, o que explicou ao PÚBLICO David Byrne, apreciador do fado, da comida portuguesa, da música de Björk e de “conversar e beber à mesa com os amigos”.

FM – O que está a fazer actualmente: cinema, fotografia, algum disco novo?

DAVID BYRNE – De momento, tudo o que existe de novo é um álbum de remisturas de canções minhas, por pessoas como DJ Food ou dois tipos de Washington D.C., dos Thievery Corporation, e que só se encontra à venda nos concertos. Também fiz um espectáculo de fotografia, na sequência da exposição que apresentei em Lisboa há dois anos. Agora essa exposição cresceu até se parecer mais com uma instalação, com som e luzes. Estou a negociar a sua apresentação em Trieste e em Munique. Depois de ter estado em Madrid, seguirá talvez para Sevilha. Em Lisboa só se houver alguém interessado…

FM – Por falar em discos, o que se passa com o álbum de Paulo Bragança, que até há bom pouco tempo era muito badalado, para a sua editora Luaka Bop?

DAVID BYRNE – Em primeiro lugar, ele foi obrigado, por razões contratuais, a gravar um álbum para a sua antiga editora, com material tradicional. Neste momento, cabe-lhe a ele decidir sobre a direcção musical que pretende seguir no próximo álbum. Tanto quanto percebi, ainda não decidiu nada. Por outro lado tem sido difícil para nós fazer chegar a sua música às pessoas, não sei bem porquê. Gosto dos seus discos mas, para dizer a verdade, tem havido problemas. Para algumas pessoas e sua música não é suficientemente tradicional. Para outras, pelo contrário, é demasiado tradicional, não é pop…

FM – Quais são, então, as próximas edições da Luaka Bop?

DAVID BYRNE – Waldemar Bastos, que também vive em Lisboa. A gravação já está completa. Também temos um disco de um grupo da Venezuela, Los Amicos Invisibles, com música de dança, “funk” e “disco” misturados com “salsa”.

FM – Depois de ter participado em “Red, Hot & Rio” irá colaborar no próximo “Red, Hot & Lisbon”…

DAVID BYRNE – Já tinha uma canção para esse disco em que utilizava um “sample” de Caetano Veloso que não havia meio de chegar a uma forma definitiva. Foi então que alguém sugeriu que trabalhássemos os dois juntos e já começámos a trabalhar nesse sentido. Já gravei algumas partes em Nova Iorque e hoje mesmo recebi um “e-mail” dele a dizer-me que vai entrar em estúdio.

FM – Também está prevista a sua colaboração na Expo-98 que abrirá em breve em Lisboa. Pode adiantar-nos pormenores sobre o que tenciona fazer?

DAVID BYRNE – Prefiro não falar nisso por enquanto. Ainda não existe nada de concreto sobre essa matéria.

FM – Escreveu o prólogo para uma biografia sua da autoria do português José Manuel Simões, a lançar em breve, onde se refere à melancolia, à comida e aos sentimentos dos portugueses. Por outro lado é conhecida a sua admiração pela cultura brasileira. Afinal o que o atrai mais na língua portuguesa e nos portugueses?

DAVID BYRNE – Em primeiro lugar, a música, o som da própria língua quando é cantada, e um tipo especial de melodias. Foi por aí que fiquei apanhado. Mas há outras coisas que me atraem em Portugal, como a comida. Durante muito tempo era impossível comer comida portuguesa em Nova Iorque. Hoje já não é assim.

FM – A sua música é, em geral, bastante rítmica. No entanto gosta de fado, não é verdade?

DAVID BYRNE – A minha música não tem necessariamente de soar como a música de que gosto. Mas é possível que o fado exerça alguma influência sobre determinadas melodias que componho…

FM – Que tipo de concerto apresentará nos próximos espectáculos de Lisboa e do Porto?

DAVID BYRNE – Vai ser tempo de festa! Com uma banda pequena, mas montes de “samplers”, por isso soará como uma “big band”, com músicos virtuais! Músicos reais, serão apenas cinco. É uma mistura estranha de músicos de discoteca e de clubes (atenção, é preciso esclarecer que a cena dos clubes em Nova Iorque não se esgota na música de dança, há muita gente a fazer coisas experimentais com electrónica ou a tentar criar determinados ambientes…), com um músico de “country” que toca “pedal steel” e um baixista da Jamaica.

FM – Nunca mais voltou a tocar com nenhum dos seus antigos companheiros dos Talking Heads?

DAVID BYRNE – Não, já não os vejoa há cerca de dois, três anos…

FM – Que tipo de música anda a ouvir neste momento? Que discos? Alguma banda nova o entusiasma particularmente?

DAVID BYRNE – Estou sempre a ouvir coisas novas, às vezes música da minha própria editora. Gosto do disco de Finley Quaye, um cantor inglês de “reggae”. Dos Radiohead não gostei nada, comprei o álbum, ouvi-o duas vezes, mas não me diz nada. Pelo contrário, gosto imenso do novo da Björk.

FM – A cena pós-rock de Chicago diz-lhe alguma coisa?

DAVID BYRNE – Refere-se aos Tortoise? Têm coisas engraçadas. Estamos sempre à espera de quando vai aparecer o vocalista só que nunca chega a aparecer vocalista nenhum! Soa como uma canção sem melodia. A edição japonesa com remisturas de temas deles pareceu-me interessante.

FM – No mundo de hoje, onde tudo é permitido, onde todas as pessoas fazem todo o género de coisas, ainda é possível ser-se original, fazer-se coisas novas?

DAVID BYRNE – Penso que as pessoas estão sempre a interrogar-se sobre essa questão. No meu caso, arranjo sempre maneira de encontra e de encontrar e de fazer coisas que me entusiasmam. Pode não ser novo para as outras pessoas, mas é-o, de certeza, para mim. Às vezes, consegue-se fazer algo que soa como novidade para toda a gente…

FM – E que é que o entusiasma, não só na música como na vida em geral?

DAVID BYRNE – Coisas simples. Como sentar-me a conversar e a beber uns copos com os amigos.

David Byrne

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