Christos Zotos & Ionna Anghélou – “Musique de la Grèce Continentale”

Pop Rock

12 de Julho de 1995
álbuns world

Christos Zotos & Ionna Anghélou
Musique de la Grèce Continentale

AL SUR, DISTRI. MEGAMÚSICA


cz

Não tenham receio. Zorba, “o grego”, não é para aqui chamado. A Grécia abre-se neste disco luminoso para o Sul mítico e para as grandes vastidões da alma contaminada durante séculos pelo excesso de mar e de uma nostalgia de calcário. Há Christos Zotos, profeta e ancião com uma voz carregada com toda a sabedoria do Mediterrâneo, a proximidade do Médio oriente e memórias bizantinas. Há dois alaúdes, o dele e o da sua companheira mais nova, Ionna Anghélou. Há um grande espaço de solidão, de pedras e de sal para navegarmos por ele fora. Neste espere desta dança – que apenas pode ser dançada nas profundidades da alma, com as suas cadências buriladas por toda uma civilização que renasce das cinzas e se concentra numa única voz – brindes coloridos para brincar e deitar fora. “Musique de la Grèce Continentale” exige que lhe dêem amor mas retribui esse amor com um amor ainda maior. Não como num “flirt” de Verão, de queimar e esquecer aos primeiros sinais de frio, mas uma relação intensa e duradoira que poderá terminar em casamento. Aproximem-se, pois, com o maior respeito e delicadeza. (9)

Den Fule – “Skalv” + Ottopasuuna – “Ottopasuuna”

Pop Rock

7 de Junho de 1995
álbuns world

Génios da floresta

DEN FULE
Skalv (8)

Edi. Xxource

OTTOPASUUNA
Ottopasuuna (8)

Edi. Amigo
Distri. MC-Mundo da Canção

df

otto

Aplacada por agora a fúria dos Hedningarna (embora já circule por aí o seu [novo] disco *1, talvez menos explosivo, mas não inferior a “Kaksi!” e Trä”…), as atenções voltam-se para outras vozes da Escandinávia. [Depois] das*2 insinuantes canções da bela feiticeira Lena Willemark ou do acordeão narcisista de Maria Kalaniemi, chega a vez dos suecos Den Fule mostrarem se valem tanto como o anterior “Lugumleik” fizera crer. “Skalv” revela em primeiro lugar que o grupo optou por se afastar ainda mais de uma linha ortodoxa.
A música diversificou-se, deixando pelo caminho um aparte do vigor do álbum anterior, trocado por uma insistência sistemática na experimentação. E se faixas como “Snäll” e “Det är jag” soam um pouco a um “rock progressivo” mal assimilado, na maior parte de “Skalv”, porém, a relação com os materiais tradicionais resulta em híbridos de grande originalidade, como “Offerklippans säng”, o “africanismo” de “Rammelslatten” ou o que poderia ser o jazz-rock dos Soft machine se fossem escandinavos. Autêntico manual de ideias inovadoras de produção, “Skalv” deixa antever uma próxima etapa que poderá ser brilhante. A capa, toda ela verde-escuridão de floresta, é um achado.
Os finlandeses Ottopasuuna arriscam menos mas são igualmente um grupo a ter em conta. Com as principais acções circunscritas ao quadrado violino (pelo “virtuose” Kari Reiman)/flauta/”melodeon”/bandolim, a música move-se sempre que pode noutras direcções, para onde a leva uma gaita-de-foles (“torupill”), nas impressões medievais de “Kalmukkisottiisi” ou no solo absoluto de “In dulci jubilo”. O “melodeon” de Kimmo Pohjonen aduire por seu lado uma riqueza cromática inusitada, patente em “Viialan vanhaa kansaa”, para em “Limperin polska” ser Petri Hakala a mostrar as suas capacidades no bandolim, o mesmo acontecendo com o flautista Kurt Lindblad, em “Sudenrita”. Tudo termina num lugar imaginário, nos pingos-brincos de uma marimba. Obrigatório para os coleccionadores de sons que, cada vez mais quentes, nos chegam do frio. (8)

*1 Em vez de “novo disco”, no texto lia-se “disco de estreia”
*2 Em vez de “Depois das”, no texto lia-se “Das”





Maria Kalaniemi – “Maria Kalaniemi”

Pop Rock

17 de Maio de 1995
álbuns world

Maria Kalaniemi
Maria Kalaniemi

GREEN LINNET, DISTRI. MC – MUNDO DA CANÇÃO


mk

Já vai sendo tempo de acabar com os preconceitos relativos ao acordeão. Nas mãos certas faz maravilhas como outro instrumento qualquer. John Kirkpatrick, Riccardo Tesi, Mairtin O’ Connor ou Rod Strading são não só notáveis tecnicistas como gravaram álbuns de grande qualidade. Acrescente-se a estes nomes o de Maria Kalaniemi, acordeonista sueca que faz parte dos Niekku, grupo que já abordámos nesta rubrica, a propósito do álbum “Niekku 3”, que vale a pena redescobrir. Kalaniemi é uma especialista do acordeão “5-row” (por ter cinco filas de botões) e na exploração de melodias de acompanhamento baixo. Grande improvisadora, estudou o estilo francês do baile “musette”, bem como o tango argentino, cujas técnicas de improvisação utilizou no tema “Olin sairas kun luokseni saavuit”. A maior parte do reportório, porém, é constituída por “polskas” suecas e finlandesas, nalguns casos recolhidas de um manuscrito do século XVII, de Samuel Rintaa-Nikkola. “Yxi kaunis papillinen polska” cruza-se com o imaginário africano, numa bizarra combinação do acordeão com uma “mbira” (ou “kalimba”, ou “thumb-piano”) da Tanzânia. A instrumentação, para alívio dos que receiam o confronto demasiado exclusivo com o acordeão, inclui ainda o piano, órgão de pedais, guitarra, rabeca, “nyckelharpa”, baixo eléctrico e o tamborim, pelo percussionista dos Hedningarna Björn Tollin. Um álbum não muito generalista, aconselhável aos incondicionais da música escandinava (atenção, quem está a pensar em ritmos rock deverá procurar noutras paragens…) e que poderá suscitar a curiosidade de auditores sintonizados noutras ondas. (7)