pop rock >> quarta-feira, 29.09.1993
WORLD
SOIS DA MEIA-NOITE
VARTINNA / Oi Dai (10) / Seleniko (10) / Spirit
MOLLER, WILLEMARK & Gudmunson / Frifot (9) / Caprice
Niekku / Niekku 3 (7) / Ollarin Musiikii Oy
Todos distri. Etnia
Da Escandinávia continuam a soprar novos ventos e vozes femininas de excepção. Acalmada a febre provocada pelos Hedningarna, abram-se alas, em primeiro lugar, ao (ou às) Vartinna. São elas e eles, mas são elas, Mari e Sari Kaasinen, Kirsi Kahkonen e Sirpa Reiman (e Minna Rautiainen, em “Oi Dai”) e a excelência das suas vozes, plenas de vitalidade, que enriquecem as paisagens instrumentais – desenhadas em traço vigoroso pelo violino (excelente Kari Reiman), “kantele”, “bouzouki”, acordeão, sax, guitarra, “mandola” e percussões e, em “Seleniko”, ainda o “kaval” húngaro, “tin whistle”, “domra”, teclados, banjo e trompete – e fazem do grupo algo de muito especial. “Oi Dai” e “Seleniko” provocam, ao primeiro contacto, uma reacção semelhante a “Kaksi”, dos Hedningarna. Mas os Vartinna, convém que se diga, não apresentam a dose extra de loucura que confere aos Hedningarna aquele “it” de imprevisibilidade e inovação. É música tradicional, com todas as letras, sem mácula, extrovertida, que faz de cada tema uma celebração. Elas, as vozes, levam-nos pelos cabelos sem apelo nem agravo, logo a partir do tema de abertura de “Oi Dai”, “Marilaulu”…). Para lá, onde alguns sabem. Imprescindível é também “Frifot” de um trio sueco onde avulta a voz de Lena Willemark, parente equidistante, por sugestão, de June Tabor e Mari Boine Persen. Álbum de matizes variadas, “Frifot” explora os reportórios das províncias de Darna e Rattvik (com incursões na Estónia), técnicas vocais (como o “kulning”) e dialectos (como o “snettelin”) específicos, e danças como a polska (diferente da polka), marchas e valsas. O arsenal instrumental é variado e inclui o violino, “mandola”, pífaro, gaita-de-foles, saltério e “kantele”.
“Kantele” (trata-se, em suma, de uma variante grande de saltério, com um som entre o da harpa e o do carrilhão) que funciona como esteio do terceiro álbum das finlandesas Niekku, quinteto feminino, com a estrela Maria Kalaniemi em destaque, que navega contra a corrente dominante da música nórdica. Nada de “vibratos” nem de fogosidades. As Niekku flutuam nas águas da serenidade e preferem as harmonias líquidas e insinuantes que, partindo de temas tradicionais ou de composições próprias, desaguam numa espécie de “jazz” ultra-“cool”, a um passo da “new age” e outro do minimalismo ambiental. O som hipnótico do “kantele” brota em cascata, tocado por três das Niekku. Maravilha de cristal, parasitada de súbito pelas dissonâncias de um acordeão que se esvazia, pela pulsação de um baixo ou pelos apontamentos casuais de um violino ou uma “mandola”. Por vezes as vozes perdem-se em improvisações “scat” estéreis, como acontece em “Tuti tuuti”. Quando não perdem o tino, porém, as nuvens, sem que demos conta, vão ficando mais perto. Deixemos os “kanteles” tocarem sozinhos, em “Kantelleila”, o seu próprio sonho de metal cinzelado.