Electric Birds – Electric Birds

12.01.2009
Excêntricos De Luxos
Matmos
The West
8/10

Blectum From Blechdon
The Messy Jesse Fiesta
8/10

Electric Birds
Electric Birds
7/10
Todos Deluxe, distri. Symbiose

electricbirds

LINK (“Gradations” – 2002)

A distribuição em Portugal da editor Americana Deluxe traz para já consigo três objectos fascinantes, à margem dos parâmetros mais em voga na música electrónica.
“The West”, terceiro álbum dos Matmos (Drew Daniel e M. C. Schmidt), foi considerado um dos melhores discos de 1999 para a revista The Wire. Colaboradores remisturadores de Aerial M, Cul de Sac, Pluramon, Kid606, The For Carnation, tortoise, Labradford, Ground Zero e Björk, os Matmos fazem em “The West” uma música difícil de catalogar na qual se redimensiona o imaginário do western, através de processos que, numa primeira leitura, requisitam todo o formulário identificável do pós-rock para, de forma subliminar, lhe introduzirem o factor electrónico. É usada instrumentação acústica (violino, violoncelo, guitarras) para criar atmosferas de “saloon” que, por força da repetição e de subtis sequenciações computorizadas, se transmutam em “trompe l’Oeil” sonoros e emissões de rádio galáctica. A uma distância apesar de tudo considerável das cavalgadas épicas dos Godspeed You Black Emperor! Os Matmos estarão porventura mais próximos dos Gastr Del Sol, enquanto inovadores de uma linguagem, o pós-rock, a necessitar urgentemente de novas reformulações. Para que consta, o próximo trabalho da banda terá como base as sonoridades de tecnologia médica.
Ainda mais estranhos são os Blectum from Blechdom que, em termos gráficos, remetem para os “cartoons” dos Residents ou Renaldo and the Loaf. A escuta mostra a actividade de cabeças com febre tocadas pelo génio. Grooves cortados à lâmina pelos Severed Heads, samples de conversas em contramão, breakbeats no “sítio errado”, loops em inversão de marcha, humor a la Mr. Bungle, caixas de música com monstros dentro, esgares Aphex Twin e toda a espécie de delírios colados num puzzle sem manual de soluções, arrastam o ouvinte para uma terra de ninguém, fazendo desde já de “The Messy Jesse Fiesta” a primeira grande surpresa de 2001.
No álbum de estreia dos Electric Birds (Mike Martinez, patrão da Deluxe), com co-produção dos Matmos, apesar da estranheza que parece caracterizar todos os lançamentos da editora, descortinam-se com alguma nitidez as vigas que constroem o edifício: Steve Reich, ambientes de digitalindustrial, saturação de software, em “Acoustic Orange” um andamento hipnótico falsamente acústico evocativo dos primeiros Biosphere e, já no final, uma verdadeira canção com patente 4AD, seguida de uma imagem impressa no mesmo formato dos Labradford que, se amenizam o som, contrariam em absoluto a orientação estética do resto do álbum.
Os amantes do bizarro têm nestes três discos com que se entreter para os próximos meses.

Lars Hollmer – Tonöga; Fran Natt Idag; Vendeltid

09.02.2001
Lars Hollmer
Tonöga; Fran Natt Idag; Vendeltid
2XCD Resource, import. Lojas Valentim de Carvalho
8/10

larshollmer

LINK (“Viandra” – 2008)

Excêntrico, avant-garde, extremista, inteligente, intimista, doido, aventureiro, ininteligível, intelectual, infantil e extravagante foram alguns dos adjectivos já utilizados para descrever o indescritível Lars Hollmer, compositor, acordeonista e teclista sueco oriundo dos Samla Mannas Mamma, banda dos anos 70 pertencente ao colectivo Rock in Opposition. Os três álbuns aqui recuperados na íntegra, gravados em 1983, 85 e 87 (“Vendeltid”, com a Looping Home Orchestra), revelam uma personalidade musical apenas comparável a Fred Frith, de “Gravity” e “Speechless”. Elementos traficados do minimalismo, folk escandinava, jazz, música de feira, rock & roll, ridicularias pop, fanfarra, music-hall, danças dos Balcãs esquizofrénicas e outras coisas para as quais não existem ainda palavras para as definir, arriscam-se a causar vertigens aos mais desprevenidos. Chamem-lhe o Zappa escandinavo, que Lars nem há-de reparar, entretido na manufactura dos seus delírios pessoais.

Natasha Atlas – Halim

13.06.1997
Natasha Atlas
Halim (7)
Beggars Banquet, distri. MVM

natashaatlas_halim

LINK (Parte 1)
LINK (Parte 2)

Estávamos receosos à partida. Sim, sim, de quem alinhou no passado com Jah Wobble, esse mamute do baixo, são sempre de esperar os efeitos nefastos da sua influência. Sejamos directos: a ameaça de um nome, nós pusemos-lhe um, a temível, a horrenda, a tenebrosa “etno seca”. Foi, pois, com as mãos trementes que pusemos a rodela a girar.
Espanto! De “seca” nem um traço. “Halim” dá, pelo contrário, uma irresistível vontade de dançar, levando de vencida todas as resistências. Assumindo por inteiro as suas raízes árabes, Natasha investiu na sensualidade da sua voz, rodeando-se de programadores imaginativos para tirar o máximo partido desta insinuante aproximação “etno tecno” à música “rai”. A cadência vai abrandando imperceptivelmente à medida que as faixas se sucedem, emergindo então a faceta mais melancólica da música árabe, na qual Natasha Atlas se mostra ainda mais cativante, até ao momento culminante em que o futuro toca nas raízes, quando a cantora se faz acompanhar pela Orquestra de Essama Rashad, no tema composto por este, “Ya albi ehda”.