Tuxedomoon – Joboy In Mexico

13.03.1998
Tuxedomoon
Joboy In Mexico (8)
Opción Sónica, distri. Megamúsica

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Fartos da chuva e da humidade de Bruxelas os belgas Tuxedomoon resolveram enfiar o sombrero e partir para as terras quentes do México, assinalando um renascimento que se saúda, retomando uma discografia que carregara na pausa desde “The Ghost Sonata”. É um regresso que não deixa de espantar, não tanto pela “mexican connection” em si, encetada antes por Steven Brown com o seu projecto Ninerain, mas pela impenetrabilidade musical deste novo álbum, inteiramente instrumental e o mais experimental do grupo desde “Suite en Sous-Sol”. Sob a camuflagem de designações como Esteban Café, Paco Rosebud, Ruan Rotterdam e Pancho Perú, adivinham-se as presenças de Steven Brown, Blaine Reininger e Peter Principle, este último tavez o mais marcante, nos temas mais longos do disco, “The Door/Viaje en la Sierra Madre” e “zombie paradise”, cujo ambientalismo desfocado se insere na mesma estética de álbuns como “Sedimental Journey” e “Tone Poems”. A embalagem luxuriante, desdobrável num “poster” de dupla-face graficamente na linha dos trabalhos de Jorge Reyes, encerra uma música escura e mutante, sem linhas de acção perceptível, obrigando a várias e atentas audições até se abrirem eventuais brechas neste tecido onde os sintetizadores, as cordas e os sopros se parecem anular mutuamente num jogo de tensões. Não tendo sido nunca um grupo fácil, não deixa ainda assim de ser curiosa esta inflexão nas malhas do experimentalismo mais radical que os recoloca de novo num quadro idêntico ao dos primórdios quando, na Ralph Records, os Tuxedomoon funcionavam como contrapoder ao terrorismo totalitário dos Residents.

Chris & Carla – Swinger 500

13.03.1998
Chris & Carla
Swinger 500 (8)
Glitterhouse, distri. MVM

LINK (Want To Swing From You)
pwd: klotser

Chris & Carla são Chris Eckman e Carla Torgerson, guitarristas e vocalistas dos Walkabouts. “Swinger 500” é o segundo projecto da dupla, depois de “Life Full of Holes” e nele as guitarras têm por companhia um arsenal de samplers, sintetizadores, piano eléctrico Wurlitzer, loops, programações e “ruídos sortidos” em quantidade, para além do órgão Swinger 500 que dá título ao álbum e de convidados vários em violino, violoncelo, trompete, “pedal steel”, baixo, bandolim e bateria. “Swinger 500” é “profundo, lento, triste e flui como um rio”, diz-se na folha de promoção. Qualificação subjectiva bastante apropriada para definir um álbum onde se contam histórias da América dos sentimentos mais áridos que junta o lado de crooner enlutado de Nick Cave, o western, neste caso gelado, de Stan Ridgway, uma vela acesa no quarto escuro dos Joy Division, uma valanche de espírito de Leonard Cohen (“Fear”) e o expressionismo electrónico do pós-rock. São canções para ouvir devagar nos confins do mundo e da alma. Do som da neve a cair, do silêncio que fica depois da partida, dos sonhos sem cor, das lágrimas que cristalizam na distância e se enobrecem na perda. “Swinger 500” é, de facto, um álbum triste, de transições amorosas doridas pelo espanto, como “New love ends”, nas suas notas de esperança e desalento. Um piano afunda-se lentamente nas águas escuras de uma paixão apagada, as guitarras de gelo ferem como chicotes de gelo, as vagas electrónicas são mares a chorar. O Inverno nunca mais chega ao fim e o coração magoa-se na espera. Um dos álbuns mais surpreendentes deste primeiro trimestre.

Robbie Robertson – Contact From The Underworld Of Red Boy

13.03.1998
Robbie Robertson
Contact From The Underworld Of Red Boy (5)
Capitol, distri. Warner Music

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Descendente, pelo lado materno, da tribo índia dos Mohawks, Robbie Robertson, membro fundador dos The Band, tem-se dedicado nos últimos tempos à defesa dos direitos dos nativos americanos. Depois da edição, em 1994, de “Music for ‘The Native Americans’”, composto para um documentário exibido na cadeia de televisão TBS, e de algum activismo político, Robertson recicla a mesma causa neste novo álbum, misturando valores culturais e sonoridades étnicas com linguagens mais contemporâneas, como o ambient e o hip hop. Contando com as colaborações e Howie B., que se encarrega da produção e três faixas, Marius de Vries (Björk, massive Attack, banda sonora de “Romeu e Julieta”), Rita Coolidge e músicos índios, o ex-Band tenta a junção de correntes dispersas para chegar a uma música que soe minimamente original. Trata-se, segundo ele, de uma síntese como a do rock’n’roll, com a diferença de que em vez da soma da electricidade com os blues se trata agora de fundir a herança tecnológica com as tradições dos primeiros americanos. Na prática, esta atitude não difere muito daquela que, nos anos 80, Peter Gabriel enunciou no seu quarto álbum a solo ou, mais recentemente, nas operações de fusão levadas a cabo pelos canadianos Michael Brook (sobretudo no novo “Albini Alligator”) e Daniel Lanois. Mas a leitura demasiado redundante e apressada das várias tendências de música de dança, a par de uma certa preguiça inspiracional, cedo arrastam para a monotonia um projecto que até teria pernas para andar.