Arquivo da Categoria: Experimental

Jan Jelinek – “Computer Soup”

27.12.2002

Jan Jelinek
Computer Soup
Audiosphere, distri. Ananana
8/10

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Ao cair do pano, a electrónica levanta a voz para proclamar que em 2002 nem tudo se volatilizou na cadeira eléctrica do “electroclash”. Jan Jelinek pertence à mesma família de Fennesz, artistas para quem a noção de entretenimento não obriga a reconhecimentos ou identificações imediatas. Radiações modulares, interferências subliminares, paisagismos delineados com estática e ruído branco, resíduos de programações dão sabor a esta “sopa de computador” que em nenhum momento esfria na preguiça de “grooves” manufacturados a metro. Jelinek pesquisa metodicamente as fronteiras do digital, trazendo para a sua mistura a crepitação espectral do “clicks & cuts”, “loops” em banho de ácido, a aleatoriedade (“Hot barbecue” sucede, 28 anos depois, ao monstruoso estúdio/sintetizador Kaleidophon deixado à solta por David Vorhaus num dos movimentos de “White Noise 2 – Concerto for Synthesizer”), o “krautrock” para o novo milénio de “The post-anthem” e um tom jazzístico que em “Straight life” e “Ballads” traz à baila o Miles Davis eléctrico.

Ruins – “Tzomborgha”

14.02.2003

Ruins
Tzomborgha
Ipecac, distri. Sabotage
7/10

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Um dos principais problemas das bandas que vão buscar inspiração às décadas de 70 e 80 é terem a alma pequena. Assimilam por vezes apressadamente determinadas fórmulas ignorando a matéria de fundo. Os japoneses (que nutrem especial simpatia pelo rock progressivo) Ruins fizeram a sua selecção com método e rapidez. Combinam “hardcore”, uma atitude simultaneamente visceral, intelectualizada e “punk” para fabricar algo que bebe em Frank Zappa e nos Magma (juntos em “Mennevuogh”), nos King Crimson e na psicose “nonsense” dos Renaldo and the Loaf, embora sejam igualmente apregoadas a lições dos Henry Cow, Area e This Heat. São guitarras abrasivas de cepa crimsoniana, explosões de “noise”, vocalizações entre o épico e o operático furibundo, batidas marciais, síncopes e acelerações brutais sucessivas que respeitam a mesma ordem de prioridades que fez o grupo passar anteriormente pela editora Tzadik, de John Zorn. “Tzomborgha” não é tanto um caso de revisitação desmiolada do passado como a filtragem do espectro de frequências de algum do rock progressivo mais radical. Ou do que restou das suas ruínas.

Black Dice – “Beaches & Canyons”

21.03.2003

Black Dice
Beaches & Canyons
FatCat, distri. Ananana
8/10

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Chegam de Brooklyn com a fama de provocadores, onde por volta de 1997 davam concertos de “noise” de 15 minutos que descambavam em ofensas mútuas entre os músicos e a assistência. Já com sede em Nova Iorque os Black Dice, um quarteto montado em torno de manipulações electrónicas, guitarra tratada, baixo e percussão, derivaram para uma música feita ainda a expensas dos limites sónicos mais violentos mas estruturada segundo cânones menos conotados com o “punk”. Não que “Beaches & Canyons” condescenda em baixar à condição de “new age” adrenalínica, antes pelo contrário. Conotados com referências como os Throbbing Gristle, My Bloody Valentine, Can e Pink Floyd do período psicadélico, os Black Dice prpõem uma fusão de sonoridades industriais, gritos de tormento, tripas à vista e guitarras submetidas a tortura. Nos quinze minutos de “Endless Happiness” o ruído emerge das profundezas para se fundir num magma de frequências de extrema violência que finalmente se focaliza como o ponto de encontro do pós-rock mais radical com uma variante regressiva dos primeiros e industriais trabalhos dos Kraftwerk, enquanto os 16 minutos finais de “Big Drop” fazem empalidecer os actuais Faust ao empreenderem a destruição absoluta das noções de música mais tradicionais.