pop rock >> quarta-feira, 20.10.1993
WORLD
Liam O’Flynn
Out To Na Other Side
Tara, import. VGM
Lyam O’Flynn, para quem não saiba, era o tocador de “uillean pipes” dos Planxty. Mais recentemente tornou-se solista vitalício nos projectos orquestrais de Shaun Davey, que poderemos considerar o contrapeso ligeiro, “easy listening”, do patriarca Sean O’Riada ou de Michael ‘O Suilleabhan. As prestações de O’Flynn são, de resto, o mais interessante dos álbuns de Davey: “The Pilgrim”, “The Brendan Voyage” e “The Relief of Derry Symphony”, sem esquecer as vocalizações de Rita Connolly, em “Granuaile”.
“Out to na Other Side”, verso de um poema de Seamus Heany, “The pitchfork”, é um pouco o reverso das obras daquele compositor, que, por sinal, produz o álbum do gaiteiro: uma abordagem erudita da música irlandesa que pretende pôr em relevo a sonoridade das “uillean pipes” quando inserida num contexto de “ensemble” instrumental e não tanto uma obra declaradamente orquestral, como no caso de Shaun Davey.
Longe da espontaneidade que caracteriza a música tradicional instrumental irlandesa, mesmo se abordada em trabalhos de maior complexidade, “Out to na other side” não consegue libertar-se de um certo academismo, sensível no modo como O’Flynn e Davey exercem um controlo apertado sobre os mais ínfimos pormenores da composição, adaptação e produção. Contentemo-nos então em saborear esta música como se de uma peça clássica se tratasse, extirpada de arestas e rugosidades, pronta a agradar, na condição de não lhe exigirmos nada de mais fundo e escuro, o que ela não pode nem pretende dar. Além do mais, é sempre um prazer o reencontro com executantes de excepção como Arty McGlynn (tinha que ser!…), Séan Keane (dos Chieftains), Nollaig Casey, o trio vocal The Voice Squad (requisitado pelos Chieftains em “The Bells of Dublin”) ou os vocalistas convidados Liam O’Maonlai, dos Hothouse Flowers, e Rita Connolly, que em “The Dean’s pamphlet” rubrica o momento de maior emoção num álbum por vezes demasiadamente procupado com as aparências. (7)