Vários – “Mundo da Canção – Música Das Terras Altas” (distribuidora / importadora / céltica)

Pop-Rock / Quarta-Feira, 01.05.1991


MÚSICA DAS TERRAS ALTAS



“O Porto é um mundo” – dizem os que lá vivem. É bem verdade. E dentro desse mundo há a Mundo da Canção, importadora e distribuidora portuense vocacionada para as músicas menos imediatistas, nomeadamente o jazz, a contemporânea e a tradicional. Sobretudo neste último campo, tem sido exemplar o trabalho empreendido pela Mundo da Canção, representante entre nós de catálogos importantes que abrangem grande parte do périplo celta, como é o caso das editoras Temple (escocesa), Hannibal (inglesa), Claddagh (irlandesa) ou, mais recentemente, a Edigal (galega). Portugal, é óbvio, tem estado presente nos projectos da casa. Refira-se, como exemplo, que “Terreiro das Bruxas”, segundo e excelente álbum dos Vai de Roda, editado pela UPAV, muito deve, em termos de apoio e divulgação, aos esforços empenhados dos responsáveis da Mundo da Canção. De raiz mais étnica são os álbuns “Terra do Marão”, pela tuna O Toque de Carvalhais, e o volume seis da série Música Tradicional, “Terra de Miranda”, ambos editados no selo madrileno Saga e distribuídos pela Mundo da Canção. “Terra do Marão”, com produção, coordenação e investigação a cargo de Salustiano Lopes e António Tentúgal (mentor dos Vai de Roda), recolhe temas tradicionais de Carvalhais, freguesia de Louredo, concelho de Santa Maria de Penaguião, distrito de Vila Real, na fronteira das províncias de Trás-Os-Montes e Ato Douro, em plena serra do Marão, interpretados pela tuna da aldeia. As tunas são conjuntos instrumentais populares de cordas e sopros, ao “serviço da música de feição meramente profana”, cujos elementos “lutam contra os ‘altifalantes’ que lhes abafam completamente os instrumentos e as mentes”. A de O Toque de Carvalhais toca a música da serra e da aldeia que “jaz aos pés do monstro, situada num dos seus fossos mais profundos”. De Carvalhais, onde “ao crepúsculo de um dia de sol melhor se vê a silhueta da mulher deitada na serra”. “Terra de Miranda” recupera o dialecto mirandês, os instrumentos artesanais e as vozes rudes de homens e mulheres cujos corpos e almas se confundem com a própria matéria de que o mundo é feito. Nos lugares de Póvoa, Duas Igrejas, Constantim e Paradela. Escutar as melopeias e cadências ancestrais transmontanas é sentir a vida a fluir, pulsando ao ritmo das gaitas e dos bombos. É sentir o sabor do sangue.

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