Pop Rock
14 ABRIL 1994
WORLD
Heritage
Tell Tae Me
Temple, distri. MC-Mundo da Canção
Há vários pormenores nos Heritage que os distinguem da generalidade dos grupos de música tradicional escoceses. A saber: ao contrário dos Ceolbeg ou dos Battlefield Band, por exemplo, os Heritage dispensam o acessório, as piscadelas de olho a mercados mais generalistas, com as consequentes cedências que tal táctica geralmente implica. Depois, é a sonoridade em si que se afasta da habitual nos grupos escoceses. As tradicionais e tonitruantes “Highland pipes” são substituídas por um modelo mais discreto, sendo em paralelo utilizados instrumentos pouco habituais na folk da Escócia, como a bombarda, o berimbau, o banjo, o saltério e a “musette”, outra gaita-de-foles de pequenas dimensões, desta feita de proveniência francesa. Instrumentação que, a par da intrusão noutras tradições da Europa – num “set” de “scottischas” de origem occitana ou num pastoral da Calábria que lhes foi ensinado pelo grupo Re Niliu (autores de um disco estranho que esteve disponível entre nós) –, coloca antes os Heritage na linha de uns House Band. Com a diferença de que na sua música impera uma discrição – hipotético motivo para a pouca divulgação, em Portugal como no resto da Europa. De uma banda que está longe de ser principiante, contando já com vários anos e álbuns de carreira – que, juntamente com as vocalizações de Jack Beck, é outra das características que contribuem para a originalidade dos Heritage. Jack Beck, cujas interpretações atingem o ponto mais alto na balada que dá título ao álbum, uma das mais tocantes que me foram dadas a ouvir, entre uma tradição que na Escócia se revela riquíssima. Uma história que encerra a própria essência da música tradicional e de uma possível via para a sua constante reactualização. Uma criança pergunta à avó em que mapa se localizam a alma e a estrada que levam ao seu país. Ao que a anciã responde: não nas velhas páginas ou na poeira das idades, mas no coração, onde se pode escutar o som antigo, nos sonhos, nas canções e lendas, nos olhos das crianças – só aí se pode encontrar a estrada. (7)
NOTA:
Vários leitores têm protestado contra o facto de alguns discos criticados nesta página – nomeadamente o último trabalho dos Radio Tarifa, “Rumba Argelina”, ou “Gitans”, de Thierry Robin, entre outros – não se encontrarem disponíveis nas discotecas. A tal facto somos completamente alheios, residindo o problema umas vezes na deficiente relação entre distribuidores e retalhistas, enquanto noutras a responsabilidade cabe por inteiro aos primeiros que não importam um número suficiente de discos, provocando deste modo o rápido esgotamento dos “stocks”.