Gonçalo Pereira Edita “Upgrade”

04.02.2000
Gonçalo Pereira Edita “Upgrade”
Guitarra Ponta-De-Lança


gp

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“Upgrade” é o segundo álbum de Gonçalo Pereira, antigo guitarrista de Paulo Gonzo. Um álbum de guitarra, mas também de histórias pessoais onde cabem o “Movimento Perpétuo” de Carlos Paredes e um olhar sobre o mal vivido durante a crise de Timor, onde utiliza o intervalo do diabo.

“Upgrade” foi lançado no mercado aproximadamente um ano depois da estreia deste executante virtuoso da guitarra eléctrica, “Tricot”. Para Gonçalo Pereira trata-se, de facto, de um “upgrade” (melhoramento) do disco anterior, fruto do contacto que manteve durante este intervalo de tempo com o seu público. “Este CD foi um bocado moldado e composto, tendo em consideração os gostos do público que me é fiel.” Que gostos são esses? “As pessoas procuram no meu tipo de música um escape. Poderem entrar por um tema dentro, para uma espécie de sonho, uma viagem. Não é o típico disco com temas de três minutos feitos com a preocupação de passar na rádio.”
“movimento Perpétuo”, uma versão em guitarra eléctrica de um original de Carlos Paredes, dura 1m28; logo a seguir, “O Mal” demora dez minutos a exorcizar o “Mefistófeles que existe dentro de cada um de nós”. “movimento Perpétuo” já andava no pensamento de Gonçalo Pereira há algum tempo. “É um dos temas mais puxados, em termos técnicos, que o Carlos paredes compôs, que comecei a trabalhar por desafio”, explica o guitarrista para quem o virtuosismo não é um acto gratuito, mas uma necessidade interior. “Não é uma preocupação”, garante. “O mais importante é o ‘feeling’, o sentimento.” Além de Paredes, Steve Vai, Nuno Bettencourt, Joe Satriani e Paco de Lucia são outros dos seus heróis da guitarra. Guitarristas velozes.
Gonçalo, considerado o “melhor guitarrista português”, há dois anos, pelos leitores da revista “Raio-X”, não nega o gosto pela velocidade de execução, mas ainda aqui apenas pelo “gozo de sentir o controlo sobre o instrumento, de modo a poder fazer tudo o que a inspiração sugere”. “É como jogar à bola, há posições no terreno que dão mais prazer do que outras. Os putos, quando jogam à bola, ninguém quer ir para a baliza, querem ir todos lá para a frente marcar golos, precisam da adrenalina, da acção.” Gonçalo Pereira gosta demarcar golos com a guitarra, um verdadeiro ponta-de-lança, embora não se considere um “fundamentalista”. Para manter a forma como atacante, Gonçalo Pereira treina guitarra todos os dias, de há 12 anos a esta parte.
Todos os temas de “Upgrade”, compostos pelo próprio, partem de “episódios vividos” e resultam de uma crença: “A música instrumental tem uma beleza rara, capaz de estabelecer uma cumplicidade enorme com o ouvinte, sem a imposição da letra.” O tema “O mal” foi composto “numa altura em que a situação de Timor se estava a agudizar” e foi gravado no Verão “em que aconteceu todo aquele rebuliço das guerrilhas”. Gonçalo Pererira usou neste tema o “trítono”, o intervalo do diabo, uma quarta aumentada, que 2na Idade Média levava os compositores à fogueira”.
“Upgrade” já anda a ser tocado na estrada desde Outubro do ano passado. Esteve em Lisboa nos auditórios das lojas Valentim de Carvalho e da Fnac numa minidigressão que passará em breve pela Virgin. A primeira edição, de 2000 cópias, já está esgotada. “Mais do que muitas bandas nas quais se aposta muito e depois se revelam ‘flops’.”
Gonçalo Pereira, além de tocar e compor, dá aulas particulares de guitarra. Eléctrica e acústica. No horizonte paira a possibilidade de gravação de um álbum “unplugged”. Para já será lançado um vídeo didáctico de técnica de guitarra, o primeiro deste tipo feito em Portugal, destinado tanto a iniciados, como a alunos mais avançados. Mais tarde poderá surgir uma banda de rock, com vocalista, com “uma química de equipa”. “’Upgrade’ é a penas uma gaveta da minha cabeça”, explica. “O projecto onde me masturbo, sem me importar se vão gostar ou não. Um projecto de culto.”

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