#93 – “JOHN COLTRANE (FM)”
Fernando Magalhães
04.04.2002 150358
Não, não vou falar de sexo nem de Suckies, mas sim do mítico saxofonista de jazz.
É uma opinião, polémica, que irá decerto desencadear reações apaixonadas, mas é a minha opinião. Sobre Coltrane.
Primeiro ponto: JC é um grande músico, ponto final. Mas não é o melhor da história do jazz, longe disso (audições avulsas de muito jazz, nos últimos tempos, confirmam esta opinião…).
Penso que acontece com ele um pouco o mesmo que, no rock, incidiu sobre um artista como Nick Drake, por ex.
A morte, sobretudo quando em condições trágicas – que envolvem droga, uma vida de excessos e um adeus à vida demasiado prematuro – criam o ambiente ideal para a mitificação.
John Coltrane é, para mim, sobretudo um daqueles artistas que se consumiu na sua arte, capaz de arder por completo na música que fazia. Isso está ao alcance de poucos, sem dúvida. mas não significa que esse “incêndio”, essa música, sejam melhores que outra, apenas por esse facto.
Abundam exemplos desta situação, na música clássica, por ex….
Mozart e Salieri… Salieri era a personagem torturada, mas Mozart, parece que um imbecil (o filme de Milos Forman dá, pelo menos, essa ideia…) é que era o verdadeiro génio.
E Wagner, e Beethoven…Pessoas vulgares mas infinitamente dotadas como músicos.
Coltrane foi, isso sim, um grande intérprete (de si mesmo) mas não um grande compositor. Um músico obsessivo que abriu portas – sem dúvida, (o free deve-lhe muito).
Mas a sua música esgota-se, quanto a mim, nessa supernova em combustão. Nessa energia que parecia inesgotável (a realidade provou que não era…).
A personalidade de JC é apaixonante. A música foi um reflexo dessa dor imensa.
Mas a dor não é, por si só, garantia de genialidade.
“A Love Supreme” e “The Ascension” são grandes álbuns porque são manifestos de uma entrega total.
A dimensão cósmica de JC – que existe – é, todavia, a do caos. Melhor, é a da loucura, da repetição ad infinitum de um motivo melódico ou harmónico. Coltrane esgotava-as e esgotava-se a si mesmo.
Mas ainda aqui, a visão (e exposição) de um universo pessoal não garantem qualquer tipo de “superioridade”.
Retomemos o início do texto: John Coltrane foi um grande músico. Não foi – vá, crucifiquem-me! – um grande compositor.
a conversa, consoante as reações, seguirá dentro de momentos. 🙂
FM
João Gonçalves
04.04.2002 160400
Sim, e… ?
Fernando Magalhães
04.04.2002 160417
E…
Fizeste bem em lembrar. Esqueci-me, de facto, de referir o essencial da vida e da obra de John Coltrane.
Além de saxofonista, JC era também um entusiasta das “bonecas do amor” o que se refletiu na sua música.
“The Ascension”, por exemplo, é uma citação literal ao estado em que ficou (fisiologicamente falando…) quando deparou pela primeira vez com uma Barbie nua em tamanho natural (nessa época a “O Paraíso do Látex” ainda não existia, pelo que os famosos jazzmen não tinham hipótese de desfrutar da gama de prazeres oferecidos pela Suckie). John Coltrane chamou à boneca, “Naima”.
Coltrane apaixonou-se por essa magnífica boneca percursora das Suckie e foi a ela que dedicou “A Love Supreme”.
Infelizmente, e porque a música o distraía do resto, só tarde de mais se apercebeu de que Barbie era uma boneca de borracha e não uma mulher verdadeira.
JC não aguentou o choque. Depois de pedir o divórcio e de compreender finalmente a razão por que a sua amada nunca ficou grávida, Coltrane optou pela droga e por se concentrar exclusivamente no jazz.
O último álbum que gravou, “Expression”, é uma homenagem velada e nostálgica à chamada “fase do látex” e à boneca “Naima” que jamais saiu do seu pensamento.
A verdade é esta, doa a quem doer.
FM