Portastatic – “The Nature of Sap”

20.06.1997

Portastatic
The Nature of Sap (6)
Merge, distri. MVM

LINK (alguns dos trabalhos dos Portastatic, que não este)

Empacotados no embrulho cada vez mais gigantesco do pós-rock (é pós-rock tudo o que meta sintetizadores analógicos e ritmos “à la Neu!”…), os Portastatic, projecto colateral de Mac McCaughan, dos Superchunk, são uma mistura mutante de várias cores e sabores. Um clarinete com sabor às Arábias, um piano e um órgão em fase de aprendizagem, sintetizadores borbulhantes, “loops” a correrem ao contra´rio e vocalizações adolescentes a contrastarem com o pendor experimentalista dos instrumentais, criam uma sensação entre o exotismo e o desconforto. “The Nature of Sap” que, entre os convidados conta com Jonathan Marx, dos Lambchop, poderia ser bastante mais interessante do que é, por culpa, precisamente, das vozes, por vezes com sérias dificuldades de afinação e colocação e que desvirtuam uma música que, a espaços, consegue ser bastante original. Estão neste caso “Impolite cheers”, uma versão poluída dos OMD, e os instrumentais “A Lovely Nile”, com a tal brincadeira árabe, e “Bjjt”, o tema mais obscuro e totalmente electrónico do álbum, que serve de pretexto para – tcham tcham tcham tcham! – atirarmos com a referência “krautrock” obrigatória que, por mais estranho que pareça, não é tão óbvia como de costume. Os Cluster, com alguma boa vontade. O álbum termina com dois temas escondidos, fora do alinhamento, um com cinco minutos de silêncio, mais uma sequência final com fitas a girarem em sentido contrário.

To Rococo Rot – “The Amateur View”

02.04.1999

To Rococo Rot
The Amateur View (8)
City Slang, distri. Música Alternativa

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Quarto álbum do trio constituído por Stefan Schneider e pelos irmãos Robert e Ronald Lippok, “The Amateur View” é o álbum em que os To Rococo Rot se aproximam do que poderá ser catalogado como o “mainstream” da electrónica pós-rock. Significa isto que se perdeu a veia mais experimentalista do grupo, presente em “CD”, disco de estreia do grupo, e em “Veiculo” (existe um terceiro álbum do grupo sem distribuição em Portugal) e que os sintetizadores se adaptam agora a linguagens e signos mais convencionais, embora permaneçam o fascínio do e pelo som. “Prado” acentua o lado mais minimalista e linear da música do grupo, “A little asphalt here and there” soa como uma máquina de flippers encravada e em “This sandy piece” é como se o lastro de um velho camião que rodou sobre o alcatrão, já esburacado, que os Kraftwerk atravessaram em “Autobahn”, se fixasse nas imagens kirlianas dos Cabaret Voltaire de “Mix Up”. Em “tomorrow” percebe-se a influência dos australianos Severed Heads. Ruídos naturais antecedem um segmento de jazz aprisionado num “loop” dos Pôle, em “Green”, e “Cars” entra no universo dos Faust, pela porta de “Giggy smile”, um tema de “Faust IV”, para criar uma melodia irresistível de pop electrónica, naquele que é o melhor tema de “The Amateur View”. Os Pyrolator gazem valer a sua lei de pioneiros do electroswing, em “She loves animals”. “The Amateur View” é o disco dos To Rococo Rot que menos arrisca até à data. Mas também o mais apetitoso.

Faust – “Patchwork”

10.01.2003

Faust
Patchwork
Staubgold, distri. Matéria Prima
7/10

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Os velhos activistas não desistem. Mas o que era lenda foi trocado pelo esforço em manter viva a subversão que, há mais de 30 anos, fez de “Faust”, “So Far” e “The Faust Tapes” a trindade maldita e, depois de Zappa, a segunda principal revolução do rock moderno. “Patchwork” repete a fórmula que deu origem à obra-prima “The Faust Tapes”. Mas se essa imensa colagem tem a consistência de um gigantesco organismo com vida, o novo álbum limita-se a recolar excertos da discografia prévia dos anos 70, 80 e 90, remisturando-os de maneira diferente. Para os incondicionais pode ser um jogo delicioso redescobrir segundos de ruídos familiares ou pedaços de canções como “It’s a rainy day, sunshine girl”, ocultos sob um denso manto de cacofonia. Trata-se, afinal, de pôr em prática o que o produtor Uwe Nettlebeck já preconizava em 1973: “Sempre gostámos da ideia de editar discos que pareçam inacabados; em que a música soe como um ‘bootleg’, como se tivesse sido gravada por alguém que ao passar por um grupo qualquer a ensaiar gravasse e montasse tudo de forma selvagem.”