Arquivo da Categoria: Ambient

Paul Machlis – “The Bright Field”

POP ROCK

19 Fevereiro 1997
world

Paul Machlis
The Bright Field
CULBURNIE, DISTRI. MC – MUNDO DA CANÇÃO


pm

Confessamos: ficámos presos a este disco só pela capa – o verde astral da Irlanda, num pintura de Calum Wilson. Mas “The Bright Field” é também, em termos musicais, um retrato impressionista e aquático, da Irlanda, revelado pelo piano e pelas composições de Paul Machlis. “New age folk” de qualidade, enriquecido pelo violino e viola-de-arco de Alasdair Fraser (outro músico da área das fusões da “folk” com o ambiental). A escurar o seu “Dawn Dance”, o violoncelo de Barry Philips e a guitarra de William Coulter. Os tradicionais, ente os quais um “air” das Shetland com citação a outra pianista, Violet Tulloch (ver crítica aos Thulbion), remetem para o classicismo do erudito Mícheál Ó Súilleabháin. Um disco que, para além do apelo visual, pode provocar algumas resistências. De onde se depreende que, no seu caso, o termo “new age” está longe de ser pejorativo. (7)



Boris Feoktistov – “Russian Chants, Parastas – Ambient Mix” + Nikola Parov “Kilim”

POP ROCK

9 Abril 1997
world

Boris Feoktistov
Russian Chants, Parastas – Ambient Mix (7)
99, DISTRI. SYMBIOSE

Nikola Parov
Kilim (3)
HANNIBAL, DISTRI. MVM


bf


np

Do Leste europeu chegam-nos dois projectos com estética e ambições divergentes. “Parastas” pretende ser obra profunda, enquanto “Kilim” se contenta em entrar para a grande feira das fusões. No primeiro caso trata-se de cânticos religiosos russos remisturados por Bill Laswell. No segundo, o multinstrumentista búlgaro Nikola Parov (voz, guitarra, gaita-de-foles, “gadulka”, “kaval”, teclados, “‘ud”, clarinete, bateria, “bouzouki”, “tin whistle”, programações, sequenciações de baixo e efeitos especiais) fica-se pela world a metro, decalcada dos manuais chunga.
Bill Laswell mostra-se mais comedido do que é habitual, embora também toque no disco o seu baixo vulcânico na criação das suas “construções ambientais”. “Parastas” conta ainda com a engenharia sonora, processamento de sons e guitarra eléctrica de Robert Musso, outro nova-iorquino adepto das sonoridades peso-pesadas. Curiosamente, as três longas composições de Feoktistov, “Cold chamber”, “Four sided vortex” e “Relative motion”, todas subdivididas em várias partes, não sofrem demasiados maus tratos com as manipulações a que são sujeitas, primando o trabalho de Laswell e Musso pela discrição, de maneira a não perturbar a atmosfera de liturgia fúnebre desta obra. “Parastas” escorre como um néctar, a religiosidade das polifonias russas descendo ao Hades do ambientalismo mais negativo, num lugar de sombras e choro onde Arvo Pärt se cruza com “Low”, a missa negra de David Bowie. Não é “sombient” mas evoca as mesmas paisagens desoladas, já não do espaço, mas de uma natureza humana gelada e triste arrastando-se pelas câmaras do desespero.
“Kilim” é pouca coisa. Não faltam convidados de luxo com o selo “celta”, neste caso da Riverdance Orchestra, entre os quais Mairtin O’Connor, Noel Eccles e o omnipresente Davy Spillane, mais um punhado de músicos húngaros. Muita gente para a escassez de ideias, num pastelão daqueles que dá má fama ao já muito sovado emblema da world music.





Yungchen Lhamo – “Tibet, Tibet” + Choying Drolma & Steve Tibbetts – “Chӧ”

POP ROCK

26 Fevereiro 1997
world

Yungchen Lhamo
Tibet, Tibet (8)
REAL WORLD, DISTRI. EMI – VC
Choying Drolma & Steve Tibbetts
Chӧ (8)
HANNIBAL, DISTRI. MVM


yl

“Auuummmm”, incenso, campainhas, tlim, um gongo, bong, a despertar, dias inteiros a entoar cânticos em louvor das divindades, em templos perdidos entre as nuvens, no alto de montanhas inacessíveis. São algumas das imagens que, geralmente, se associam à música tradicional tibetana. Mas algo está a mudar dentro de portas e já faltou mais para que estes monges e monjas se transformem em “pop stars”. Neste caso trata-se de duas mulheres que trazem a religiosidade do budismo tibetano para as regiões profanas do consumo. “Tibet, Tibet” foi um dos álbuns que mais alto subiram nas listas dos “Melhores do ano” de 1996, da “Folk Roots”. É o mais tradicional do par. Voz solo ou acompanhada pelo coro dos Gyuto Monks, que, por sinal, já gravaram “Freedom Chants from the Roof of the World”, incluindo um tema como Philip Glass. Ascese, devoção, serenidade. Não chamamos sereia a Yungchen Lhamo (“Deusa da canção”) porque jamais ela aceitaria que alguém visse na sua música uma tentação. O que não impede que o espírito se rebole de prazer. Já Choying Drolma não tem destes problemas. A religiosidade é, no seu caso, adoçada pela produção e participação “new age” de Steve Tibbetts, guitarrista cósmico da ECM. “Chӧ” recorre também a um coro tibetano mas não dispensa nem arranjos de música de câmara, com as cordas da praxe, nem o sustento de um baixo eléctrico, num namoro hipnótico com o Ocidente que expõe as delícias perigosas do Tantrismo bem como de outros procedimentos da magia sexual tibetana. Música erótica. No leito das altas esferas.