03.11.2000
Estelle Montenegro
Lakeside (7/10)
Elektrolux, distri. Symbiose
A música de Estelle Montenegro, essencialmente um projecto monitorizado por Kenneth Graham, é fria, gelada, tão gelada como a imagem do lago à luz do crepúsculo fotografado na capa. Tem que se entrar com cautela e de forma gradual nesta grande superfície de sonoridades electrónicas, nas quais o elemento humano parece estar ausente. Caso contrário, corre-se o risco de se cair em estado de hipotermia. “Lakeside” não se distingue sobremaneira de uma quantidade de outros projectos emanados da editora Elektrolux. É electro puro e duro na sua vertente mais mecanicista e destituída de calor humano. Mas, apesar da rigidez formal, ou talvez por causa dela, “Lakeside” acaba por exercer um estranho fascínio. Como um maquinismo posto em funcionamento para durar uma eternidade, no qual, aos poucos, se vão percebendo “nuances” e subtis movimentos secundários. Até ao quinto tema, ligeiros choques de “house” suavizam a inflexibilidade maquinal da música, mesmo assim aligeirada pelo chillout galáctico de “Planetary Flavor”. A partir daí, porém, a música espalha-se até às margens como as ondas circulares de água atingida pela queda de um corpo estranho. Surge um piano digital timidamente jazzy e percebe-se o desejo de evasão. É quando “Lakeside”deixa de ser apenas uma máquina para se mostrar disponível para fazer dançar outras áreas do cérebro. Porque é de um disco de música de dança, embora a baixas temperaturas, que se trata. Um disco que, no fim de contas, até se mostra capaz de provocar a intriga e “suspense” em temas como “Still breathing” e “Inner Demons”.