Aquivos por Autor: luisj

Chris & Carla – Swinger 500

13.03.1998
Chris & Carla
Swinger 500 (8)
Glitterhouse, distri. MVM

LINK (Want To Swing From You)
pwd: klotser

Chris & Carla são Chris Eckman e Carla Torgerson, guitarristas e vocalistas dos Walkabouts. “Swinger 500” é o segundo projecto da dupla, depois de “Life Full of Holes” e nele as guitarras têm por companhia um arsenal de samplers, sintetizadores, piano eléctrico Wurlitzer, loops, programações e “ruídos sortidos” em quantidade, para além do órgão Swinger 500 que dá título ao álbum e de convidados vários em violino, violoncelo, trompete, “pedal steel”, baixo, bandolim e bateria. “Swinger 500” é “profundo, lento, triste e flui como um rio”, diz-se na folha de promoção. Qualificação subjectiva bastante apropriada para definir um álbum onde se contam histórias da América dos sentimentos mais áridos que junta o lado de crooner enlutado de Nick Cave, o western, neste caso gelado, de Stan Ridgway, uma vela acesa no quarto escuro dos Joy Division, uma valanche de espírito de Leonard Cohen (“Fear”) e o expressionismo electrónico do pós-rock. São canções para ouvir devagar nos confins do mundo e da alma. Do som da neve a cair, do silêncio que fica depois da partida, dos sonhos sem cor, das lágrimas que cristalizam na distância e se enobrecem na perda. “Swinger 500” é, de facto, um álbum triste, de transições amorosas doridas pelo espanto, como “New love ends”, nas suas notas de esperança e desalento. Um piano afunda-se lentamente nas águas escuras de uma paixão apagada, as guitarras de gelo ferem como chicotes de gelo, as vagas electrónicas são mares a chorar. O Inverno nunca mais chega ao fim e o coração magoa-se na espera. Um dos álbuns mais surpreendentes deste primeiro trimestre.

Robbie Robertson – Contact From The Underworld Of Red Boy

13.03.1998
Robbie Robertson
Contact From The Underworld Of Red Boy (5)
Capitol, distri. Warner Music

LINK

Descendente, pelo lado materno, da tribo índia dos Mohawks, Robbie Robertson, membro fundador dos The Band, tem-se dedicado nos últimos tempos à defesa dos direitos dos nativos americanos. Depois da edição, em 1994, de “Music for ‘The Native Americans’”, composto para um documentário exibido na cadeia de televisão TBS, e de algum activismo político, Robertson recicla a mesma causa neste novo álbum, misturando valores culturais e sonoridades étnicas com linguagens mais contemporâneas, como o ambient e o hip hop. Contando com as colaborações e Howie B., que se encarrega da produção e três faixas, Marius de Vries (Björk, massive Attack, banda sonora de “Romeu e Julieta”), Rita Coolidge e músicos índios, o ex-Band tenta a junção de correntes dispersas para chegar a uma música que soe minimamente original. Trata-se, segundo ele, de uma síntese como a do rock’n’roll, com a diferença de que em vez da soma da electricidade com os blues se trata agora de fundir a herança tecnológica com as tradições dos primeiros americanos. Na prática, esta atitude não difere muito daquela que, nos anos 80, Peter Gabriel enunciou no seu quarto álbum a solo ou, mais recentemente, nas operações de fusão levadas a cabo pelos canadianos Michael Brook (sobretudo no novo “Albini Alligator”) e Daniel Lanois. Mas a leitura demasiado redundante e apressada das várias tendências de música de dança, a par de uma certa preguiça inspiracional, cedo arrastam para a monotonia um projecto que até teria pernas para andar.

Eric Clapton – Pilgrim

13.03.1998
Eric Clapton
Pilgrim (4)
Reprise, distri. Warner Music

LINK

Com um passado ilustre construído à custa de uma técnica brilhante na guitarra que eclodiu nos Yardbirds e, posteriormente, nos Cream e no super-grupo Blind Faith, Eric Clapton encetou desde o início dos anos 70 uma carreira a solo que tem sido sinónimo de uma longa e elegante decadência. Dos conhecidos problemas com a toxicodependência até à purificação, selada com o reconhecimento da parte do “mainstream”, com a atribuição de galardões vários, o caminho tem sido atribulado. A história, infelizmente, por muito que lhe esteja reconhecida, não esperou por Eric Clapton. “Pilgrim” é o primeiro álbum de estúdio num espaço de dez anos, depois de “Journeyman” e de um célebre “Un plugged” pelo meio. Nele encontramos nomes também já desgastados pelo tempo como Andy Fairweather-Low, Chris Stainton, Paul Carrack e Paul Brady, a enfeitarem uma música dolente onde não se vislumbra a mínima chispa do passado. Os blues (ainda vivos numa faixa como “Sick and Tired”), raiz comum de toda a obra do músico, transformaram-se em lugares desérticos onde a guitarra se espraia preguiçosamente empurrada pelos restos apodrecidos do hip hop. Poderia ser cool como um álbum de J. J. Cale se não fosse tão vazio de sentido. A música de Eric Clapton á hoje o equivalente e um filme de Taylor Hackford, recebendo palmadinhas nas costas de Phil Collins. Procure-se as migalhas de guitarra.