pop rock >> quarta-feira, 17.03.1993
Famille Lela De Permet
Polyphonies Vocales Et Instrumentales d’Albanie
CD Indigo, import. Contraverso
Música tradicional da Albânia não é pera doce. É preciso escutar várias vezes até se perceber verdadeiramente o que se passa. Há ritmos estranhos e compassos complexos vindos do Leste com os quais nos habituámos a conviver, da Hungria, da Roménia, da Bulgária. Mas na Albânia batem todos os recordes. Não são compassos difíceis, são compassos impossíveis. Síncopes e estremeções de partir a coluna. Convém estudar bem a lição antes de qualquer tentativa de dança, sob pena de se contraírem lesões musculares graves.
A Albânia, para quem não sabe, fica situada em frente ao salto da bota italiana, banhada pelas águas que ligam o mar Adriático ao Jónico e encravada entre a ex-Jugoslávia e a Grécia. Musicalmente são visíveis as influências de toda esta geografia adjacente, dando a ideia que os Albaneses não sabem bem para que lado se hão-de voltar. O próprio canto corso, embora já mais afastado, faz sentir a sua influência.
É uma música rude, primitiva, quase sempre imbuída de uma imensa tristeza, mesmo quando a ocasião é de festejos, que encontra, nos sons e na atitude, muito de comum com a música cigana dos Balcãs. Canções e danças dos pastores da montanha, baladas épicas e de amor ocupam a parte de leão do reportório dando voz a emoções e sentimentos ancestrais. As vocalizações são escassas e a instrumentação esparsa: acordeão, violinos, bandolins e percussão. Polifonias nocturnas, não estilizadas, que retratam a solenidade e a nobreza de um povo que se deixou perder no tempo. (7)