06.03.1998
Dr. Didg
Serotonality (6)
Hannibal, distri. MVM
LINK (“Dust Devils – 2002”)
Se Pedro Abrunhosa metesse um didgeridoo no seu Bandemónio o resultado poderia aproximar-se de temas como “Serotonality” ou “Retro rockets”, deste novo trabalho assinado pelo doutor Graham Wiggins (licenciatura em Física) com os Outback. Tomando como ponto de partida técnicas de trabalho e de improvisação que, ao vivo, assentam num complexo jogo de samplagens e utilização de “loops”, bem como na interactividade com o público (cujos ruídos, aplausos e gritos são samplados e integrados na mistura), a música dos dr. Didg não é tão complicada como pode parecer à primeira vista.
O didgeridoo, instrumento ritual dos aborígenes australianos, remete-se a um papel rítmico, inserindo estruturas repetitivas num “funky” elástico, aberto às aragens da “world music”. Bill Laswell, num dia de folga com os Material, ou os System 7 menos pastilhados aprovariam estes balanços do corpo que nunca chegam a ser exaltantes. O “reggae”, simulações jazz e batimentos descolados dos Can friccionam, por seu lado, as “drones” do didgeridoo, obrigando-as a fazer flexões de castigo. Dança-se bem, ouve-se de preferência com a cabeça no ar e faz-nos recordar que a grande música de “didgeridoo”, fora do seu contexto étnico, está em alguns dos projectos de Stephen Kent, como os Trance Mission e os Lights In A Fat City.