17.10.1997
Charlie McMahon
Tjilatjila (7)
Spectrum, distri. Megamúsica
“Tjilatjila” significa “movimento lento” ou “suave”, na linguagem dos povos aborígenes da Austrália. Com base neste conceito o australiano Charlie McMahon acrescentou mais um volume à escassa discografia centrada no “didgeridoo”, ou “didge” como o músico chama carinhosamente a este estranho instrumento dos aborígenes. O “didgeridoo” tem a forma de um tronco oco, de comprimento variável, cuja sonoridade, uma “drone” hipnótica em constante vibração, evoca as próprias profundezas da Terra. Utilizado no contexto das novas músicas rituais, por grupos como os Lights In A Fat City ou Trance Mission ou, na “new age” étnica de um compositor como Steve Roach, o º”didgeridoo” não se presta, da música étnica, a grandes variações. A este problema respondeu Charlie McMahon com o desenvolvimento de novas técnicas de execução que passam, inclusive, pela introdução do chamado “didge horn”, em que, ao contrário das técnicas tradicionais, permitem a criação de melodias simples. Em segundo lugar, com a preocupação de aligeirar o carácter hermético do som do didgeridoo, McMohan adornou uma série de temas com ornamentações acústicas de violino, piano, guitarra e violoncelo, introduzindo em “Tjilatjila” coordenadas mais próximas da “new age” e de artistas como Roger Eno ou os Penguin Cafe Orchestra. Nos temas de “didgeridoo” solo, sem dúvida os amsi interessantes, a música torna-se verdadeiramente curativa, podendo fazer descer as pulsações cardíacas aos 48 batimentos por minuto, os mesmos com que McMohan executou o transe ambiental de “48 slow heart”. Chegados a este ponto, “Tjilatjila” transporta-nos numa viagem astral para as vastas vastidões do deserto australiano.