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António Ferro & Wong On Yuen – “Sinais de Yuanju”

pop rock >> quarta-feira >> 06.07.1994


António Ferro & Wong On Yuen
Sinais de Yuanju
Kazumbi



Projecto interessante do baixista e líder dos KAF, que após a incursão, com o quinteto, na música tradicional portuguesa aposta agora no diálogo desta com a música tradicional da China. “Sinais de Yuanju” é espartano na forma a confina-se ao essencial de conversas travadas entre o baixo eléctrico e o violino chinês eh-ru. Embalado num livreto apresentado com um cuidado gráfico impressionante e contendo informações em português, inglês, chinês e japonês, a aproximação entre duas culturas com traços comuns processa-se de forma nem sempre destituída de conflitos.
Ferro, como faz notar, e bem, José Duarte, autor do texto introdutório a este trabalho, toca o baixo eléctrico como uma guitarra. A sua prestação raramente se contenta em ser mero apoio para as improvisações do violino, preferindo antes um discurso narrativo que ocasionalmente pode soar algo intrusivo. Wong On Yuen mostra, por seu lado, uma razoável sensibilidade Às estruturas dos temas tradicionais portugueses – arranjados por Ferro -, em particular em temas como “Vira do Minho” e “Corridinho ao de Leve” e nas notas mais melancólicas do fado, em “Fado da amargura” e “Perguntaram-me pelo fado”, este último composto pelo baixista. Este tema, juntamente com “Camponês alentejano” – em que o eh-ru dir-se-ia tirado dos Incredible String Band – e o jogo rápido a quatro mãos de “Scalabitur” e “Infante”, também da autoria de Ferro, constituem os momentos mais belos do álbum.
“Sinais de Yuanju” tem o apelo das coisas simples que os orientais tanto prezam e os portugueses cultivam como um divertimento. Conversa íntima, solidão partilhada a dois. Como a dos belos versos de Ruy Belo que ilustram “Camponês alentejano”: “A solidão da árvore sozinha / no campo de Verão alentejano / é só mais solitária do que a minha / e teima ali na terra todo o ano / quando nem chuva ou vento já lhe fazem companhia / e o calor é tão triste como o é somente a alegria / eu passo e passo muito mais que o próprio dia”. (7)