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La Maurache – “Élogedu Vinet de la Vigne – de Rabelais à Henri IV.”

pop rock >> quarta-feira >> 08.06.1994


La Maurache
Élogedu Vinet de la Vigne – de Rabelais à Henri IV.
Arion, import. VGM



Nos séculos XV e XVI, período correspondente à música do mais recente disco dos La Maurache (designação da guitarra mourisca ou “lute Maurache” em francês) – grupo de que se encontram igualmente disponíveis os álbuns mais antigos, “Danses dans la Cour des Ducs de Bourgogne” e “Chansons et Danses au Temps des Cathédrales” -, o vinho ocupava um lugar de destaque nas preferências das várias classes sociais. Rabelais e Henrique IV, compreensivelmente, foram dois dos seus mais acérrimos defensores (e bebedores). De reto, o gosto pelo vinho, do néctar mais sofisticado à vinhaça mais retinta, existe desde o momento em que o homem, pela primeira vez, provou e sentiu os efeitos do sumo da uva. “Fonte de vigor”, “fermento da amizade”, “poção de amor”, “convite ao perdão”, “alimento humano”, “símbolo mágico ou religioso”, “sinal de civilização”, “higiénico”, “medicinal”, “dietético” e “com propriedades terapêuticas”, de tudo chamaram ao vinho como justificação para uma boa bebedeira. A abordagem e homenagem ao álcool levada a efeito pelos La Maurache está de acordo com a principal directriz seguida pelo grupo – exemplificar o carácter clássico e a intemporalidade da música antiga. Neste “Elogio do vinho”, a música acentua o carácter dionisíaco do tema através das manifestações exuberantes das flautas de bisel (uma piela dos céus, na “Basse danse” “Sansserre”) cromornas, “Chalemie”, bombarda, dulçaína, darbouka, alaúde, “vilhuela”, teorba, viola de arco e de gamba, cravo, órgão de pedais e bendir, marcando as diversas etapas do acto de saborear uma taça de vinho, desde a apreciação da cor e do aroma ao brinde final de júbilo. No Renascimento, era assim, tudo feito com requinte, de maneira a proporcionar o maior prazer possível, a embriaguez do espírito e dos sentidos – o humanismo, enfim, acrescentando à fama o proveito. Em França, na Holanda, em todo o lado, ainda mais humanistas se possível com a ajuda de um Bordeaux, um Champagne, ou um vinho da Flandres de boa colheita. Cantemos com o entusiasmo e a força do baixo Vincent Lecornier, sobre um tonel de bombarda, órgão, dulçaína e “viellle”: “Bom vin je ne te puis laisser”. Hips! (9)