18.04.2003
Lisa Germano
Lullaby For Liquid Pig
Ineffable, distri. Edel
8/10
Quase sempre os lugares mais interessantes da pop são os mais misteriosos e difíceis de encontrar. Não é fácil descortinar entre os vultos do bosque a cabana onde Lisa Germano se esconde e projecta, em noites de insónia, os fantasmas da sua fantasia. O chão está molhado, forrado de vermes e cetim apodrecido. Das paredes tombam farripas de papel de cores indefinidas, desbotadas pela chuva, como as canções e as palavras que escorrem tristemente de “Lullaby for Liquid Pig”. Podemos imaginar uma sessão de espiritismo. Podemos imaginar “The Lodge” – a capela do medo que Lynch instalou no meio do nada de “Twin Peaks”. Podemos mesmo ver, nas fotos da capa, um corpo suspenso no ar ou encurralado a um canto de um quarto vazio. Ou a floresta onde Lisa corre como uma noiva perdida. Predominam a melancolia, sombras coleantes, cânticos de solidão e amores de sentido único, pianos bolorentos, correntes de ar electrónica a compor o mesmo tipo de emoções veiculadas pelos This Mortal Coil. Lisa sussurra-nos ao ouvido farrapos de melodias decalcadas dos seus discos anteriores, como um carrocel que não pára de girar no mesmo sítio mas continua a salpicar-nos de sangue.