Festival Bluespot 2001

23.11.2001
Bluespot

Khan

Também proveniente de Colónia, mas turco de nascimento, chega Khan, aliás, Can Oral, também conhecido como El Turco Loco, o mesmo nome que atribuiu à sua companhia discográfica. Can Oral (o nome soa a pornográfico) foi companheiro de apartamento de Jimi Tenor, fez tecno e cultivou os germes da cena illbient, exercendo um indiscutível fascínio no pessoal, já de si pouco “normal”, das editoras Fat Cat e Ninja Tune. Aprendeu com os anos 80, identificando-se com as suas margens mais daninhas, dos Contortions a Lydia Lunch, dos Einstuerzende Neubauten aos Pere Ubu, dos The Gun Club aos Public Enemey. E com Diamanda Galás, “Miss Peste”, que, apesar do seu ódio visceral aos turcos, não se escusou a participar como convidada no mais recente álbum de El Turco Loco, “No Comprendo”. Da mesma forma que não é fácil compreender a mistura musical deste idiossincrata que tanto amolga o lounge, a new wave e a música industrial como passeia de mãos dadas nos jardins edénicos de Julee Cruise.

Kid606

Génio ou “hype”? Depende do ponto de vista pelo qual se analise a ascensão deste quase adolescente de origem venezuelana que nasceu para dialogar com os computadores e com eles fazer uma música com tanto de dilaceração como de humor. O pito 606 já se apresentou no Número Festival do ano passado, assinando uma perfomance onde a matemática andou de mãos dadas com o caos. É um mestre do ruído mas também da articulação surrealista de fontes sonoras que combinam numa simbiose bizarra os “found sounds”, a samplagem em registo de esquizofrenia e as linguagens programáticas do computador, organizados em forma de assalto aos sentidos em álbuns como “Down with the Scene” ou “PS I Love You”. Kid606 é um tecnicista dos chips, um iconoclasta das civilizações em colapso, profeta do sado-masoquismo monitorizado. Mas talvez não passe de um puto reguila em quem o espírito punk continua vivo e cujo principal fito é desancar as convenções. Consta que em alguns dos seus espectáculos lança objectos para o público.

Mouse on Mars

LINK

Provavelmente nenhum outro grupo da nova cena electrónica alemã conciliará com tanta eficácia e criatividade o experimentalismo e uma faceta lúdica como os Mouse on Mars MOM, dupla de Colónia (berço de krautrockers pioneiros como os Can) constituída por Andi Toma e Jan St. Werner. Na sua anterior visita a Portugal, decerto entusiasmados com a onda de entusiasmo que então se gerou à sua volta, desbundaram na maquinaria, produzindo uma sucessão infatigável de grooves e breakbeats que terá pecado por demasiada vassalagem às dance floors e menor cuidado na exploração da vertente mais abstracta do grupo, presente em álbuns essenciais, clássicos da electrónica contemporânea, como “Ihaora Tahiti”, “Niun Niggung” ou o novo e orgulhosamente autista “Idiology”. Alemanha, séc. XXI, com os Mouse on Mars, as máquinas reaprenderam a sorrir.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.