05.03.1999
Peeter Vahi
Suprem Silence (8)
CCn’C, distri. Megamúsica
Uma espécie de sirene assustadora dissolve-se num jardim de sinos, prolongando-se num claustro de luz, na abertura de “Mandala offering”, primeiro dos três andamentos de “Supreme Silence”, do compositor estónio Peeter Vahi, uma obra baseada nos rituais budistas tibetanos da escola Kagyu, com a aprovação de sua santidade Drikunk Kyabggon Chetsang Rinpoche. Aliás, este mestre tibetano contribuiu mesmo com a escrita dos textos “Vajrasattva mantra” e “The aspiration for the pure land”, reproduzidos no livrete em caracteres sânscritos. Contando com a participação do coro Masculino Nacional da Estónia, dirigido por Kristjan Jarvi, do English Handbell Ensemble Arsis e da solista Irén Lovász (voz), “Supreme Silence” aponta para o mesmo desígnio superior da doutrina budista, o silêncio, matriz de todo o ser e de todas as músicas, como os 5m52s do título-tema preenchidos na íntegra pelo silêncio em questão. Unindo a solenidade do coro masculino com vocalizações, “drones” e instrumentação e uma recitação tibetanas, “Supreme Silence” vai bem mais fundo na ascese è essência do Oriente que o anterior – e mergulhado nas águas da new age – trabalho do compositor, “The Path to the Heart of Asia”, gravado na editora Erdenklang. Aqui o ar é, na realidade, rarefeito, e o asceta poderá aspirar à contemplação do Uno. Claro que o encantamento pode ser quebrado a qualquer momento e nada nos garante que a correr pela montanha abaixo não apareça John Cleese a gritar “Albatross!”. Mas não é o riso o supremo dom concedido pelos deuses?