Kiss My Jazz – In The Lost Souls Convention

03.07.1998
Kiss My Jazz
In The Lost Souls Convention (8)
Heaven Hotel, distri. Ananana

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“Beijem o meu jazz” soa ligeiramente indecente o que até não destoa do carácter provocatório de “In the Lost Souls Convention”, por este projecto paralelo de Rudy Trouvé, dos dEUS que agora prosseguem a aventura iniciada com “In Doc’s Place, Friday Evening”. Eles gritam “somos um bando de mentirosos!”. Mas não são mentiras, são devaneios conceptuais, mestiçagens que fazem da pop e do jazz campo de batalha, cuspidos para um palco de cabaré. Cruzam-se nesta convenção de almas perdidas estilhaços arrancados de múltiplos corpos. O espírito – dizem os próprios elementos desta formação cujo enorme de participantes a estende até ao formato de uma “big band” – é o de um filme negro francês dos anos 50, polvilhado de influências que vão da “no wave” à “silly disco song”, do espírito natalício a James White, com homenagens aos The Pop Group e Gang Of Four e Hong-Kong filtrado por um dictafone. Nós acrescentamos a música mecânica de realejo, o “western spaghetti”, o “fake jazz” dos Lounge Lizards, a “downtown”, Tom Waits e a polpa de esquizofrenia de Captain Beefheart e dos Pere Ubu, com Rudy a mimar de forma convincente os estertores vocais de David Thomas, em “Chunk”. Os Kiss My Jazz são parasitas com e da cultura, observadores empenhados em dar uma visão desfocada das matérias musicais que dissecam. Nesta convenção, as “canções de jazz patetas” correm sobre “Moogs”, a pop agoniza no saxofone entupido de James White e o espectáculo prossegue em solavancos de “swing” sintético. Um café sujo de nicotina onde nada se perde e tudo se transforma.

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