pop rock >> quarta-feira >> 19.10.1994
Upalappu Srinivas
Rama Sreerama
Real World, distri. EMI-VC
O bandolim é um instrumento de origem italiana, inventado no século XIV e muito popular na cidade de Nápoles. Upalappu Srinivas aprendeu a tocá-lo aos seis anos de idade e cometeu o sacrilégio de o empregar na interpretação das tradicionais ragas indianas. A princípio apontaram-lhe o dedo em acusação. Mas o seu reconhecido virtuosismo e uma inspiração que os deuses apenas conferem aos mestres acabaram por deitar abaixo todas as barreiras.
Hoje Srinivas é um músico reconhecido na Índia e além-fronteiras, tendo participado em 1983 no festival de jazz de Berlim. Os bandolins que utiliza têm cinco cordas, ao contrário das habituais seis, de modo a permitirem a execução das típicas entoações (“gamakas”) da música carnática. São de facto excepcionais as aptidões de Srinivas. Ao ouvi-lo, torna-se irrelevante se o bandolim é ou não um instrumento apropriado para a música indiana. Nas suas mãos, não há dúvida que é.
As peças de “Rama Sreerama” são de índole religiosa, de louvor ou súplica a divindades como Genesha, Rama Krishna, Sreerama e Murugan. Como em toda a música indiana, a audição deve processar-se segundo moldes diferentes dos ocidentais, sendo necessária uma adequação de ritmo interior de cada um à pulsação intrínseca da raga e em simultâneo, ao ritmo particular do executante.
Conseguida esta “entrada”, a música, como pura magia, “abre-se”, dando a revelar uma riqueza e complexidade que do exterior, não são imediatamente perceptíveis. Quem for sensível a uma faixa com a aparente impenetrabilidade de “Saranambhava la runa” pode seguir em frente e mergulhar nos ciclos da eternidade, nos 29 minutos do título-tema. Com a garantia de deles num estado de consciência diferente. (8)