Brian Eno – “Neroli”

pop rock >> quarta-feira, 30.06.1993


Brian Eno
Neroli
CD All Saints, distri. MVM



Plink. Silêncio. Plonk. Silêncio. Assim mesmo, durante cinquenta e tal minutos. Mas, atenção: os plinks e plonks (e os silêncios) de Brian Eno são diferentes. Na sombra desta estética da quase inaubilidade, algo clama em surdina.
“Neroli” (designação de um óleo aromático extraído da laranja cujo nome deriva do de uma princesa italiana que o usava como perfume) inscreve-se na linha de obras ambientais do autor, de “Discreet Music” a “The Shutov Assembly”, passando por “Music for Airports”, “On Land”, “Apollo Atmospheres & Soundtracks” e “Thursday Afternoon”. Qualquer delas, em comparação com “Neroli”, parece tão variada e movimentada como um disco dos Negativland. Porque em “Neroli” nada verdadeiramente acontece ao nível da percepção auditiva. O que o ouvido capta é a sequência interminável de plinks e plonks flutuando sobre o abismo negro do silêncio, deixando ocasionalmente um rasto de harmónicos e reverberações em suspensão. Mas, e neste “mas” reside o ponto essencial desta música, algo acontece de facto, numa ordem diferente de realidade.
Eis então a finalidade última da música ambiental, tal como Eno a entende: não se trata tanto de um fundo sonoro passivo, no sentido vulgarmente designado por “muzak”, mas de um suporte para uma maneira diferente de perceber os sons e o silêncio, não só do disco, mas de todo o ambiente circundante. Era este, de resto, o objectivo explícito enunciado em “Discreet Music”. “Neroli” vai mais longe. Trata-se já, neste caso, de criar um espaço, um traço (um perfume…) que leve o auditor a escutar a música que constantemente flui no interior de si próprio. Compreende-se desta forma melhor a razão de ser de um livro como “A Voz do Silêncio”, escrito pela teórica do teosofismo, Helena Petrovna Blavatsky, ou as explicações do próprio Eno quando diz que “Neroli” se situa no limiar (no ponto limite) da música, único lugar onde se torna possível desenvolver “uma nova percepção”. Da música, claro, tomada no sentido mais lato de vibração, movimento, harmonia pura – e de silêncio -, fonte e confluência geral de todos os sons. (8)

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