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Tarwater – “Rabbit Moon Remixed”

25.07.1997

Tarwater
Rabbit Moon Remixed (7)
Kitty-Yo, distri. Ananana

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O enigma Tarwater esclarece-se aos poucos, à medida que a sua música se vai cristalizando numa fórmula cujos contornos são agora mais visíveis do que no anterior “11/6 12/10”. Dirigindo as suas operações a partir de Berlim, esta banda germânica liderada por Markus Popp (também elemento dos Oval e dos Microstoria) dificilmente se pode enquadrar no movimento pós-rock, sendo antes a sua música uma derivação mutante da música industrial e de um tipo de conceptualismo experimental onde se vislumbram tanto as sinfonias de sampler de Holger Hiller, do período “Oben im Eck”, como o ambientalismo doentio dos ditos Oval e Microstoria, e tentativas ténues de abertura a programações mais próximas da pop.
“Rabbit Moon Remixed” não explicita a autoria das misturas, mas é lícito concluir que estas se devem aos próprios músicos da banda, que aqui recicla, tornando totalmente irreconhecíveis, temas do álbum anterior, como “11/6 12/10”, “Inversnaid”, “Euroslut” e “Rome”. Se “11/6 12/10” causava estranheza sobretudo nos momentos em que a música descarrilava para bizarras divagações pelo “jazz”, num sax e num vibrafone que pareciam querer libertar-se da asfixia, esta “lua do coelho” fecha-se num mundo de sombras e pulsações distorcidas onde as percussões se orgulham da mesma majestade diabólicas dos Laibach e os sintetizadores soltam labaredas frias, na criação da banda sonora febril das 24 horas na vida de um escritório cibernético. A onda de remisturas que assola a ala radical dos “electro-rockers”, dos Kreidler, com “Resport”, aos Microstoria, com “Reprovisers”, tem nos Tarwater um passe de bruxaria.

Tarwater – “Silur”

23.10.1998

Tarwater
Silur (8)
Kitty-Yo, import. Ananana

@320kbps
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Na genealogia do planeta Terra o período silúrico, entre 439 e 409 milhões de anos atrás, caracterizado por intensa actividade vulcânica que reorganizou toda a superfície do globo, assistiu à transição das formas de vida oceânica para o habitat terrestre. Os germânicos Tarwater adaptaram neste seu terceiro trabalho, depois de “11/6 12/10” e “Rabbit Moon”, o termo germânico “Silur” no sentido inverso, de regresso ao elemento líquido. “A água faz-nos sentir uma atmosfera diferente, como se estivéssemos imersos num outro mundo dentro da nossa realidade” diz Bernd Jestram, um dos elementos do duo que, juntamente com os To Rococo Rot (aos quais também pertence o segundo elemento, Robert Lippok), Kreidler, Mouse on Mars, Kante, The Notwist, The Tied and Ticked, Pluramon, Schneider TM ou Village of Savoonga, entre outras bandas, ressuscitaram o termo “krautrock”. Alfred Jarry é citado como referência (o poeta via Paris como um oceano) desta música, que junta colagens de “samples” e frequências electrónicas num universo, também ele, surrealista, de camadas sonoras em constante mutação que tanto se aproximam da pop industrial de Thomas Leer (“No more extra time”), como da visão acústico-minimalista de Jim O’Rourke (“Otomo”), ou da frieza mecanicista dos Kraftwerk (“Ford”), entre outras disjunções submarinas visíveis apenas através de um batiscafo.

Tarwater – Not The Wheel

26.10.2001
Tarwater
Not The Wheel
Gusstaff, distri. Symbiose
7/10

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Os Tarwater são alemães, mas não são alemães como os outros. Começaram por ser conotados com o pós-rock mas o pós-rock nunca alinhou por eles. O que quer dizer que fintaram sempre as expectativas e as catalogações. São diferentes, a sua electrónica soa por vezes “fora do lugar” ainda que não se saiba muito bem qual é o lugar certo. No novo “Not The Wheel” tentam provar que o homem descende da rã e escrevem as notas de capa em polaco (o disco foi gravado na Polónia). Ainda que mais ordeiros do que no mapa sem rosa-dos-ventos de “Silur”, onde o tema da evolução já estava, aliás, presente, os sons de “Not The Wheel” espraiam-se pelo groove, fragmentário ou de anatomia sensual, e a computorização minimalista, experimentando pela primeira vez o classicismo de câmara e os arranjos para cordas no título-tema e em “Warszawa on the roof”, neste caso com o mesmo “The Beating of the Wings” dos anjos de Andrew Poppy. Só é pena os Tarwater se tornarem uma banda vulgar nos temas vocalizados, onde soam a uma cópia descarada dos Wire.