Arquivo mensal: Março 2009

Stereolab – The First of the Microbe Hunters

02.06.2000
Stereolab
The First of the Microbe Hunters (8/10)
Duophonic, distri. MVM

stereolab_the-first

LINK

Depois da semi-desilusão que constituiu para mim a edição de “Cobra and Phases Group Play Voltage in the Milky Night” que, em comparação com a excelência de “Emperor Tomato Ketchup” (não ouvi, entretanto, “Dots & loops”), me soou algo débil e com alguma falta de convicção., “The First of the Microbe Hunters”, referenciado em algumas fontes como um EP, formato que as suas sete faixas e 39 minutos de duração desmentem, faz-me de novo acreditar na vitalidade dos Stereolab. Se “Cobra” apostava na sofisticação dos arranjos e da produção e acentuava o lado mais “easy listening” da banda, disfarçando alguma falta de ideias, “The First of the Microbe Hunters”, pelo contrário, é um dos álbuns mais musculados de toda a discografia dos Stereolab, possuído por um furor “funky” que, logo no tema de abertura, se desenrola inflexivelmente nos nove minutos de “Outer Bongolia”, um “Groove” prolongado e repetitivo em torno do qual se vão agarrando, como trepadeiras, pequenas frases de saxofone, vibrafone e sintetizadores. Uma opção que retoma o igualmente hipnótico tema que abre “Emperor Tomato” e faz dos Sterolab, definitivamente, os sucessores dos Can para o novo milénio. Quando a voz de Laetitia Sadier surge desdobrada em harmonias celestiais, no tema seguinte, “Intervals”, o contraste funciona de forma admirável, projectando esta canção para o domínio dos anjos. Os Stereolab pertiram, aliás, num foguetão para regiões onde a “space age bachelor pad music” de Esquivel se metamorfoseia num astro do futuro e que os faz anunciar na pop de cetim de “The First of the Microbe Hunters”: “I feel the air (of another planet)”.

Deep Purple – “In Concert With The London Symphony Orchestra”

28.01.2000
Deep Purple
In Concert With The London Symphony Orchestra (1/10)
2xCD Eagle, distri. Música Alternativa


dp

LINK (parte 1)
LINK (parte 2)

Perguntar-me-ão vocês: porquê escrever, no ano 2000, sobre um disco dos Deep Purple, espécime sobrevivente do período jurássico? Boa pergunta. Porque é que estou a escrever sobre um disco dos Deep Purple? Ah, sim, porque o grupo foi importante há três décadas atrás, constituindo uma reserva moral para as novas gerações de heavy metal, e porque este novo álbum celebra o 30º aniversário de um outro disco com título semelhante, “Concerto for Group and Orchestra”, que, em 1970, juntou pela primeira vez uma banda de hard rock e uma orquestra sinfónica. A orquestra, a London Symphony Orchestra, era a mesma nesse e neste disco, a sala, o Royal Albert Hall, em Londres, também. Só a música é que envelheceu, apesar da formação clássica composta por John Lord, Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice e um elemento mais recente, Steve Morse, com a companhia do convidado Ronnie James Dio. Sem a chama de outros tempos (que, apesar de tudo ainda ardeu no recente e único concerto do grupo em Portugal) que fez dos Deep Purple pioneiros do hard rock, em álbuns seminais como “Deep Purple in Rock” e “Diamond Head”, este pastelão rumina baladas e arrota orquestrações balofas, recuperando no segundo CD o “Concerto for Group and Orchestra” que serviu de pretexto à feitura do disco. Servidos por um som sem impacto, cansados, sem ideias, os Deep Purple não passam hoje de um nome, outrora venerado. Nem a despedida, com “Smoke on the Water”, consegue despertá-los de novo para a vida. Lamentável.

King Crimson – “The Construkction of Light “

02.06.2000
King Crimson
The Construkction of Light (8/10)
Virgin, distri. EMI-VC


kc

LINK

31 anos depois da edição de “In the Court of the Crimson King” o que faz correr ainda os King Crimson? A resposta provavelmente só poderá ser dada pelo seu líder desde a primeira hora, Robert Fripp. Mas é possível encontrar um fio condutor que passa em primeiro lugar pela adequação (neste álbum, o “K”, de “king”, que se intromete no meio dos conceitos) de uma estética e de uma filosofia delineadas por Fripp desde a primeira hora, aos modelos sociais, artísticos e ideológicos vigentes ao longo das últimas três décadas. Não menos importante é o tópico “energia” e a sua manipulação. São conhecidas as inclinações do rei carmesim para o tantrismo e para certas correntes místico/estóicas ligadas a J. G. Bennett, por sua vez um discípulo de Gurdjieff. “The Cosntrukction of Light” (título bem elucidativo quanto à dialéctica luz/trevas…) pode ser visto na óptica de um ajustamento desse fluir energético que aqui passa, não por acaso, pela revisitação de “Larks’ Tongues in Aspic” (com a adição de uma parte “IV”) e “Fracture” (reintitulado “Frakture”), temas respectivamente do álbum com aquele nome e “Starless and Bible Black” (de novo a luz e o seu reverso…). Com uma formação reduzida em relação ao anterior “Thrak” (saíram Bill Bruford e Tony Levin), os actuais King Crimson ultrapassaram em definitivo a barreira do tempo. A guitarra de Fripp, mais do que nunca, soa como uma fornalha (a panela de pressão de “Into the frying pan”…) num álbum em que um dos múltiplos pontos de interesse é a assunção, na segunda parte do título-tema, das harmonias vocais barrocas ao estilo dos Gentle Giant. O olho vermelho dos King Crimson continua a olhar fixamente, agora para o novo milénio.