Pop Rock
10 de Maio de 1995
álbuns poprock
Mick Karn
The Tooth Mother
CMP, DISTRI. MEGAMÚSICA

Uma das vertentes actualmente muito participada da música pop que se pretende inteligente é o “etno-seca”. O “etno-seca”, cujos cultores mais credenciados são hoje Jah Wobble e os Transglobal Underground, tem características próprias e perfeitamente identificáveis. O mais importante é possuir uma linha de baixo o mais amplificado e arrastado possível sobre uma batida binária. As faixas devem ser longas, de modo a provocar o efeito de hipnose pretendido. O lado “etno” deverá ser preenchido com o recurso a vozes sampladas, árabes ou búlgaras. Um excerto dos arrotos vocais de William Burroughs também é sempre bem-vindo, ou então a presença, na ficha técnica, de Natasha Atlas. A capa deve sugerir um estado alucinatório e, em conformidade, ter muitas cores. Depois mistura-se tudo muito bem, mete-se uma instrumentação exótica, uns drunfos no bucho e – oh maravilha das maravilhas! – eis activado o contacto das raízes planetárias com as frequências cósmicas. E ainda por cima dá para dançar. O novo disco de Mick Karn, um ex-elemento dos Japan, os quais, como alguma gente sabe, eram mestres encartados na arte de levar o cérebro aos braços de Morfeu, é um belo exemplo de “etno-seca”. Está lá tudo, com a vantagem de ser em câmara-lenta, ter uns solos de guitarra peçonhentos (por um “telúrico” muito em voga, David Torn), sem dispensar o tal arsenal de exotismo, em instrumentos “esquisitos” como o “shawm” (bombarda medieval), a “dilruba”, a “dida” e o “oudar”. Uma das vocalistas tem o nome maravilhosamente “etno” de Sureka Kothari. Outra é a nossa amiga Natasha Atlas! O conceito temático, não sendo vulgar, é, à sua maneira, também “etno”: insectos e larvas. Quanto ao lado “seca”, não falta por onde escolher. (3)