POP ROCK
9 MARÇO 1994
Ganhões de Castro Verde
Modas
Robi Droli/Etnia, distri. Etnia
Sardenha, Córsega, Génova são regiões do Mediterrâneo cujas polifonias vocais têm vindo a ser editadas em disco na Europa. Agora chegou a vez do “cante” alentejano, expressão polifónica que se pensa remontar até ao século XII, equivalente português daquelas polifonias, ficar pela primeira vez registado em compacto. Os ganhões – moços da lavoura ou outros serviços do Alentejo, que fazem parte da “ganharia” ou “malta”; indivíduos que vivem do seu trabalho (in “Dicionário da Língua Portuguesa”, Porto Editora) – de Castro Verde, vila situada a sul de Beja, cantam a união, o trabalho, o amor e a luta com a natureza. Vozes colectivas – “Nunca vi um alentejano cantar sozinho”, escreveu um dia José Gomes Ferreira – irmanadas num desejo de transcendência, de vitória, de afirmação ou de queixume. Escute-se a pulsação subterrânea que sobe até à superfície pelos pés dos homens que marcam a “cadência”. O contraponto melódico dos “pontos” e dos “altos”. A voz que, mesmo solitária, nunca está sozinha. Maurizio Martinotti e Beppe Greppi, os dois Ciapa Rusa que gravaram e produziram estas “Modas”, nome dado às melodias cantadas pelos corais alentejanos, aveludaram o som, acrescentando-lhe um ligeiro tempo de reverberação. Mário Alves, da Etnia, assina as notas de capa, com informação detalhada, bem como todas as traduções para o inglês, o que confere a este disco um valor adicional como documento. (8)
a partir daqui