José Peixoto – A Vida de Um Dia

10.07.1998
Portugueses
José Peixoto
A Vida de Um Dia (7)
Ed. e distri. União Lisboa

Por que raio é que um homem com bom-gosto, ainda por cima com predilecção por produções atmosféricas, como Manfred Eicher, não pega na música de José Peixoto e a edita na ECM?
Longe dos Madredeus, longe do mundo árabe que já encheu a sua alma quando se auto-designava “El Fad”, José Peixoto compõe e toca agora a sua música em silêncio, a sós com a sua guitarra clássica, que faz respirar no espaço sagrado de uma igreja. Gravado na Igreja de Cartuxa, recorrendo exclusivamente ao ar e à luz, à sua guitarra e à tutela técnica de José Fortes, Peixoto continuou uma oração iniciada com “A Voz dos Passos”. “A Vida de Um Dia” é, na forma, apenas mais um disco para arrumar na secção “Instrumentos”. Mas é preciso desacelerar do burburinho urbano, encontrar um espaço no íntimo de cada um, saber escutar o que o silêncio tem para nos dizer, para esta música ganhar um canto só seu. Se “A Voz dos Passos” era uma experiência, “A Vida de Um Dia” é uma reflexão. De um espelho e da consciência. As cordas são mais doces, o ar mais perfumado, os dedos ligam-se melhor ao coração. Escuta-se o eco de um flamenco etéreo, as pausas fazem pensar, os caminhos são, por vezes, frágeis, mas as paisagens que revelam, são como que pequenos caleidoscópios que rodam dando a ver pontos de luz. José Peixoto navega num lago de ondulações suaves. Escondido numa das margens (quantas margens tem um lago?) um monge zen escuta.

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