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Rudiger Opermann & Malamini Jobarteh – “Some Sun, Some Moon” + Vários – “Hent Sant-Jakez”

pop rock >> quarta-feira, 07.07.1993
WORLD


RUDIGER OPERMANN & MALAMINI JOBARTEH
SOME SUN, SOME MOON (6)
CD Shamrock, import. Etnia
Vários
HENT SANT-JAKEZ (8)
CD Shamrock, import. MC – Mundo da Canção


Dois caminhos para a tradição. Ambos de vocação cósmica. Mas enquanto o do alemão Rüdiger Opermann em duo com o gambiano Malamini Jobarteh (juntamente com os convidados Roland Schaeffer, saxofone, oboé indiano, tambor indiano, Jatihder Thakur, tablas e percussão, e Rainer Granzin, piano e sintetizadores) prefere as avenidas iluminadas a néon da new age, facção etno, o outro, fruto do empenhamento colectivo de uns quantos “celtas” visionários, segue a bússola das estrelas para com maior segurança palmilhar as veredas e os sentidos da terra.
“Some Sun, Some Moon”, gravado ao vivo, à semelhança do que já acontecera no anterior e ainda mais açucarado “Changing Tide”, foca a lente nos astros e apela à convergência de vozes e culturas. Exemplo típico da chamada “world music”, incorre no perigo da descaracterização, da dissolução do particular na grande miscelânea global que tudo integra e tudo normaliza. Dos temas tradicionais da Gâmbia e da Índia, ou numa sequência de folk europeia com a Irlanda à cabeça, tecidos prioritariamente nos diálogos da harpa, acústica e electrificada, do alemão, com a Kora de Jobarteh, passa-se rapidamente para a new age, com os solos de sax liofilizado e a harpa estendendo-se pelas praias de polistireno de Andreas Wollenweider, nos temas assinados por Opermann, um músico cheio de técnica, mas que embarcou nas ondas do artificialismo.
“Hent-Sant Jakez”, projecto que alguns já tiveram oportunidade de presenciar ao vivo, em Lisboa e no Porto, é outra coisa. Por iniciativa da galega Eula Prada, reuniu-se um colectivoo de músicos provenientes das bandas La Musgana, Leilia, Crann e Bleizi Ruz com o objectivo de recriar, em sons e imagens, a peregrinação a Compostela e em particular o caminho bretão designado por “Hent Sant-Jakez”. Segundo um roteiro musical, em paralelo ao geográfico e iniciático, com início na Bretanha – através de um inesquecível tema composto por Eric Liorzou, dos Bleizi Ruz (Alan Stivell, aprende!) -, passagem episódica pela Irlanda e final feliz na Galiza, em Compostela, região que contribuiu com o maior número de temas, sete, para o disco.
Em contraste com “Some Sun, Some Moon” (Sol e Lua cujas núpcias, diferentemente do prescrito pelo raio da derradeira constelação alquímica, nunca se chegam a consumar), com o qual partilha a pluralidade de culturas e fontes sonoras, “Hent Sant-Jakez” apresenta uma unidade conceptual e a cor de rubi da obra completa (igualmente simbólico é o dourado da capa, correspondente ao lado solar), fruto de uma ideai definida e de uma forma acertada de a consubstanciar. E não se pense que os peregrinos envolvidos se limitam a repisar, sem lhe introduzirem novos elementos, o velho caminho das estrelas. Há sim a procura de novos andamentos, de novas maneiras de intuir e interiorizar as direcções da eternidade, sobretudo visíveis na jornada bretã de acordo com a perspectiva actualizada que os Bleizi Ruz têm da cultura musical da sua região.
O mesmo acontece na passagem por Espanha (que nunca é de mais repeti-lo, não é a mesma coisa que a Galiza…), com os La Musgana a trazerem para os caminhos os ritmos e ventos do Norte de África, em “Entradilla” e “Pascalles de los arribas”. Mais ortodoxa é a conclusão da obra na Galiza, com as vozes femininas e as pandeiretas das Leilia celebrando em folia a coroação, nos três derradeiros temas. Em bom plano, o irlandês dos Crann, Desi Wilkinson, na flauta, pecando embora pela vocalização, demasiado “turística”, em “The Lone Woman”, o que já acontecera de resto também nos dois espectáculos ao vivo atrás referidos. Momento de excepção é a explosão das gaitas e sanfonas nas “Cantigas de Santa Maria” de D. Afonso X.
Segundo parece, o projecto vai manter-se até ao próximo ano. Porque não voltar a palmilha-lo, já mais rodado, na reunião anual de celtas que todos os anos, pela Primavera, se realiza no Porto?…

Rudiger Opermann & Malamini Jobarteh – “Some Sun, Some Moon” + Vários – “Hent Sant-Jakez”

pop rock >> quarta-feira, 07.07.1993
WORLD


RUDIGER OPERMANN & MALAMINI JOBARTEH
SOME SUN, SOME MOON (6)
CD Shamrock, import. Etnia
Vários
HENT SANT-JAKEZ (8)
CD Shamrock, import. MC – Mundo da Canção


Dois caminhos para a tradição. Ambos de vocação cósmica. Mas enquanto o do alemão Rüdiger Opermann em duo com o gambiano Malamini Jobarteh (juntamente com os convidados Roland Schaeffer, saxofone, oboé indiano, tambor indiano, Jatihder Thakur, tablas e percussão, e Rainer Granzin, piano e sintetizadores) prefere as avenidas iluminadas a néon da new age, facção etno, o outro, fruto do empenhamento colectivo de uns quantos “celtas” visionários, segue a bússola das estrelas para com maior segurança palmilhar as veredas e os sentidos da terra.
“Some Sun, Some Moon”, gravado ao vivo, à semelhança do que já acontecera no anterior e ainda mais açucarado “Changing Tide”, foca a lente nos astros e apela à convergência de vozes e culturas. Exemplo típico da chamada “world music”, incorre no perigo da descaracterização, da dissolução do particular na grande miscelânea global que tudo integra e tudo normaliza. Dos temas tradicionais da Gâmbia e da Índia, ou numa sequência de folk europeia com a Irlanda à cabeça, tecidos prioritariamente nos diálogos da harpa, acústica e electrificada, do alemão, com a Kora de Jobarteh, passa-se rapidamente para a new age, com os solos de sax liofilizado e a harpa estendendo-se pelas praias de polistireno de Andreas Wollenweider, nos temas assinados por Opermann, um músico cheio de técnica, mas que embarcou nas ondas do artificialismo.
“Hent-Sant Jakez”, projecto que alguns já tiveram oportunidade de presenciar ao vivo, em Lisboa e no Porto, é outra coisa. Por iniciativa da galega Eula Prada, reuniu-se um colectivoo de músicos provenientes das bandas La Musgana, Leilia, Crann e Bleizi Ruz com o objectivo de recriar, em sons e imagens, a peregrinação a Compostela e em particular o caminho bretão designado por “Hent Sant-Jakez”. Segundo um roteiro musical, em paralelo ao geográfico e iniciático, com início na Bretanha – através de um inesquecível tema composto por Eric Liorzou, dos Bleizi Ruz (Alan Stivell, aprende!) -, passagem episódica pela Irlanda e final feliz na Galiza, em Compostela, região que contribuiu com o maior número de temas, sete, para o disco.
Em contraste com “Some Sun, Some Moon” (Sol e Lua cujas núpcias, diferentemente do prescrito pelo raio da derradeira constelação alquímica, nunca se chegam a consumar), com o qual partilha a pluralidade de culturas e fontes sonoras, “Hent Sant-Jakez” apresenta uma unidade conceptual e a cor de rubi da obra completa (igualmente simbólico é o dourado da capa, correspondente ao lado solar), fruto de uma ideai definida e de uma forma acertada de a consubstanciar. E não se pense que os peregrinos envolvidos se limitam a repisar, sem lhe introduzirem novos elementos, o velho caminho das estrelas. Há sim a procura de novos andamentos, de novas maneiras de intuir e interiorizar as direcções da eternidade, sobretudo visíveis na jornada bretã de acordo com a perspectiva actualizada que os Bleizi Ruz têm da cultura musical da sua região.
O mesmo acontece na passagem por Espanha (que nunca é de mais repeti-lo, não é a mesma coisa que a Galiza…), com os La Musgana a trazerem para os caminhos os ritmos e ventos do Norte de África, em “Entradilla” e “Pascalles de los arribas”. Mais ortodoxa é a conclusão da obra na Galiza, com as vozes femininas e as pandeiretas das Leilia celebrando em folia a coroação, nos três derradeiros temas. Em bom plano, o irlandês dos Crann, Desi Wilkinson, na flauta, pecando embora pela vocalização, demasiado “turística”, em “The Lone Woman”, o que já acontecera de resto também nos dois espectáculos ao vivo atrás referidos. Momento de excepção é a explosão das gaitas e sanfonas nas “Cantigas de Santa Maria” de D. Afonso X.
Segundo parece, o projecto vai manter-se até ao próximo ano. Porque não voltar a palmilha-lo, já mais rodado, na reunião anual de celtas que todos os anos, pela Primavera, se realiza no Porto?…