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Cinqui Sò – “Tarranin” + Yair Dalal – “A1 O1” + Rromano Dives – “Chaj Zibede”

POP ROCK

22 Janeiro 1997
world

Pássaros do Sul

CINQUI SÒ
Tarranin (7)
YAIR DALAL
Al Ol (7)
RROMANO DIVES
Chaj Zibede (8)
Al Sur, distri. Megamúsica


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A Al-Sur continua em força. Os três trabalhos aqui recenseados fazem parte de um pacote de edições recentes mais vasto desta editora vocacionada para a divulgação das músicas do Sul, sendo deixados de fora outros que, pela sua natureza (voz ou instrumento solista) se dirigem a tipos de público específicos.
Do Mediterrâneo chega a “folk” voadora dos Cinqui Sò, originários da Córsega. Trazem nas asas a idealização de um Mediterrâneo mítico cuja diversidade, política e cultural, se esbate e sublima “numa misteriosa e profunda similitude, da mesma forma que se confundem os mais variados instrumentos para dar vida às harmonias” de “Tarranin”. O grupo serve-se da simbologia dos cinco elementos para corporizar outras tantas “forças vitais”, correspondentes a instrumentos musicais determinados, que animam o Mediterrâneo. Mas não é preciso ter conhecimentos de esoterismo para reconhecer, nesta combinação da guitarra, “cetera”, “darbuka”, bongo, pífaro, flauta irlandesa, “vièle” de arco (não confundir com a vielle à roue” ou sanfona, como erradamente aparece na tradução inglesa), contrabaixo e “khorikheo”, tanto o universo mágico e o lado mais baladístico de Elenna Ledda – que, aliás, participa como convidada em “Tarranin”, bem como o guitarrista espanhol Pedro Aledo – como a pujança das polifonias tradicionais corsas. Entre algumas composições de teor medievalista, avulta uma com a assinatura de Angelo Branduardi, bardo do movimento Progressivo, em Itália, nos anos 70.
Yair Dalal é um israelita de origem iraquiano-judaica especialista no “ud” (alaúde árabe) e no violino que divide a sua actividade pela música clássica europeia, o jazz, o rock, os blues e a música clássica árabe. É adepto da fusão dos sons do Oriente e do Ocidente, e da aliança entre as músicas de origem árabe e judaica. Dentro deste espírito, o título-tema de “Al Ol” foi apresentado pela primeira vez 1994, na gala de atribuição do Prémio Nobel da Paz, em homenagem a Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin, por um grupo de músicos judeus e palestinianos.
Inspirado no “espaço e no silêncio do deserto”, “Al Ol” (nome de um tornado) inclui sons da tradição beduína e improvisações (“Taqsim”), a solo, com arranjos com a participação de uma orquestra ou de um coro infantil. Da paleta sonora, além do “ud” e do violino, fazem parte o clarinete, sintetizador, “zarb”, “ney”, “daf”, “darbuka”, flauta, “sitar”, tablas e voz. Pacifistas, sem ceder ao conformismo, as fusões de “Al Ol” estão longe do radicalismo formal de um Rabih Abou-Khalil, ainda que um tema como “Shacharut” possa constituir uma banda sonora apropriada a sonhos psicadélicos.
Por último, mas não em último, os Rromano Dives (“dia cigano”), de Tirana, interpretam música da comunidade romena da Albânia. São oito, possuem a fogosiade mas também a delicadeza que animam os genuínos agrupamentos de música cigana e, logo no tema inicial, “E semesqiri gili”, revelam uma voz feminina da extraordinária densidade emocional – a de Marjeta Jashari. As dos homens denotam igualmente aquele “vibrato” de alma que as faz aproximar de Deus, à medida que se vão chegando ao Oriente balcânico. Depois… não há um depois, mas um crescendo de ritmos xamânicos, de violinos endemoninhados, de um clarinete, acordeão, guitarras e percussões que respeitam as estruturas melódicas básicas da generalidade da música dos Balcãs para delas extraírem a uma gama variada de modulações e sentimentos. Que mistério existe no compasso destas melodias (excluímos deste conjunto as composições originais do grupo…) que parecem nascer e cantar dentre de nós à medida que as escutamos?