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Vitorino – “As Mais Bonitas”

pop rock >> quarta-feira, 08.12.1993


Vitorino
As Mais Bonitas
EMI-VC



Sejam ou não as mais bonitas canções de Vitorino, a memória e o coração aceitam de bom grado a escolha do cantor. O começo é antigo e novo em simultâneo: uma versão, a quarta, já deste ano, do clássico “Menina estás à janela”, um original do álbum de estreia “Semear Salsa ao Reguinho”. Mesmo à quarta, continua bonita. “Ó rama ó que linda rama”, produzido por Vitorino para um álbum de Teresa Silva Carvalho, e “Laurinda”, do álbum “Romances”, ficaram igualmente com arranjos de 1993. Seguem-se mais 18 canções, retiradas dos álbuns “Flor de la Mar”, “Leitaria Garrett”, “Sul”, “Negro Fado”, “Lua Extravagante” (com a banda com este nome) e “Eu que Me Comovo por Tudo e por Nada”, além do maxi “Joana Rosa”.
Em todas elas a mesma elegância, o rigor e o pendor classicista que Vitorino tem vindo a aparar ao longo dos anos, entre a vastidão da planície e noite alentejanas e as vivências urbanas numa Lisboa do princípio do século que o cantor canta como se fosse a sua dama. Não vale a pena mencionar outros nomes de canções. São “as mais bonitas” e é quanto basta. (8)

Vitorino – “Vitorino No Centro Cultural De Belém – Comoções Sob Controlo”

cultura >> sábado, 20.11.1993


Vitorino No Centro Cultural De Belém
Comoções Sob Controlo



O CENTRO Cultural de Belém, como o Braz & Braz, tem. Tem montes de modernidade. Tem uma programação cultural. Tem espaço. Tem luz. Tem vista para o mar. Mas não tem telefone. Quem quiser ou precisar de telefonar no intervalo, terá de se deslocar em contra-relógio até uma cabina no exterior (neste caso junto ao planetário), e regressar antes do começo da segunda parte. Senão arrisca-se a que, quando voltar, um arrumador zeloso das suas funções o impeça de reocupar o seu lugar, alegando o desconforto que tal irá causar aos outros espectadores.
Adiante. Vitorino ocupou, quinta à noite, com um concerto sóbrio e intimista, um Grande Auditório que não encheu. Ontem a lotação esgotou. Os nervos da maioria dos participantes eram evidentes, ressalvando-se a mestria do pianista João Paulo Esteves da Silva e o profissionalismo do quarteto de cordas Lusitância. Da primeira parte, que privilegiou as canções do álbum “Eu que me Comovo por tudo e por nada”, com as palavras de António Lobo Antunes, destaque para “Canção prá minha filha” (dedicada pelo escritor à filha, “quando tiver medo do escuro”9, que Vitorino interpretou de forma tocante, e para a canção que dá título ao álbum, em registo de tragédia de costumes.
Filipa Pais entrou super-elegante, em negro e vermelho, e híper-nervosa, para cantar a “Valsa das Viúvas” (da pastelaria Bénard), sozinha e quase angustiada, como se quisesse fugir. No final, valsou com Vitorino pelo palco. Na segunda parte entraram em cena os manos Janita e Carlos da Lua Extravagante. Bom, o dueto em “cante” alentejano travado entre o primeiro e Vitorino, em “Eu hei-de amar uma pedra”. Depois, Vitorino comoveu-se de verdade numa “Laurinda” inesquecível. Entre boleros, dedicatórias e um cheironho de “salsa” (em “Os maridos” – “que são sempre os outros”…) Vitorino e a Lua terminaram a cantar em coro com a assistência. “Queda do império” e o inevitável “Menina estás à janela”. O som, impecável, acabou por falhar já perto do fim, no precisomomento em que Vitorino pronunciava as temíveis palavras “Carbonária” e “anarquismo”. Até um dos holofotes explodiu de raiva…

Vitorino – “Sob O Signo Da Rosa-Cruz” (concertos | antevisão)

pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993


SOB O SIGNO DA ROSA-CRUZ



Vitorino de frente para o mar. Fim de uma viagem, início de outra. Da planície queimada do Alentejo, para a Lisboa Boémia. Da noite de Lisboa do princípio do século, para Lisboa capital do império que há-de vir, ou não vir. Num concerto intimista em que as palavras, dadas as óptimas condições do auditório, não terão dificuldade em se fazer ouvir. Uma acústica “fantástica”, assim define Vitorino o auditório principal do Centro Cultural de Belém. Spaço ideal, portanto, para se ouvir o canto “a capella” que haverá entre ele e o irmão, Janita Salomé. “Um elogio da voz”, diz o intérprete das palavras de Lobo Antunes, no recente “Em Que Me Comovo por tudo e por nada”, a propósito da tónica principal do concerto: “Nós nunca deixámos de ser cantores. Continuamos a pensar que cantar é uma coisa que se deve fazer bem. Os anos 80 foram de desvirtuamento do ‘cante’. O que ficu de reserva foi uma certa música étnica, tradicional, que guardou esse gosto de cantar e que está agora a reviver.”
Mas se o “cante” alentejano estará presente em força, isso não significa a exclusão da vertente urbana da música de Vitorino: “A primeira parte será mesmo com o ‘Eu Que Me Comovo…’, na segunda é que iremos andar para trás na história.”
O cantor alentejano elogia as condições técnicas do auditório, mas não deixa de criticar a sua gestão: “É um espaço que se calhar está mal administrado – vou começar já a l evar porrada [risos] -, sente-se pelo menos que é polémica a administração daquilo. Se já se demitiram tantos directores em tão pouco tempo, é porque alguma coisa não está bem…”
Critica que não impede Vitorino de reconhecer no local uma carga mítica importante: “Estão por perto os Jerónimos, há muita simbologia… No outro dia olhei para lá e vi uma Rosa-Cruz. Os mistérios que andam por ali…”
Coincidindo com o concerto de Belém, será editado pela EMI-VC uma antologia de canções do cantor, com o título “As mais Bonitas”. Um lote de canções que o próprio Vitorino escolheu em conjunto com David Ferreira, da editora, e do qual fazem parte um novo arranjo para o já clássico “Menina estás à janela”, uma nova versão de “Laurinda” e, pela primeira vez, “Ó rama, ó que linda rama”.
Fim de um ciclo e início de outro. Pronto a sair já no início do próximo ano, está um duplo-álbum dos Lua Extravagante, assim como discos a solo de três dos seus membros: o próprio Vitorino, Janita Salomé e Filipa Pais. Lua Extravagante que irá participar no concerto de Vitorino, na quinta e sexta-feira próximas. Os restantes músicos presentes serão João Paulo Esteves da Silva, piano e direcção musical, o Quarteto de cordas Lusitânia (Jorge Varcoso, Hilary Harper, Luís Santos e Rogério Gomes), Mário Franco, baixo, Rui Alves, percussões, e Paulo Curado, sopros. “Flor de la Mar”, poder-se-ia dizer. No local próprio.
Centro Cultural de Belém, Lisboa,
18 e 19 de Novembro, 22h.