(público >> cultura >> banda desenhada)
quinta- feira, 15 Maio 2003
Salão de BD derruba fronteiras
SALÃO LISBOA 2003 ABRE HOJE
Fronteiras, Alemanha, Leste Europeu e portugueses são os principais blocos do Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada 2003, no Pavilhão de Portugal e na Bedeteca
Viajar de balão, montado nas filacteras de um álbum de banda desenhada, até aos limites da imaginação. Eis um dos fascínios e uma das possibilidades oferecidas pela leitura de um bom álbum de banda desenhada. A partir de hoje e até ao final do mês, o Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada 2003 oferece este e outros roteiros de viagem, através das histórias e das ilustrações de alguns dos autores contemporâneos mais importantes da que se poderá chamar a 8ª Arte.
À semelhança das anteriores edições, apenas interrompidas no ano passado, o Salão, com organização da Bedeteca de Lisboa, segue um tema, sendo o deste ano “As Fronteiras”, depois de “Cidades” (1998), “Visões do Fim do Milénio” (1999), “Corpo” (2000) e “Música” (2001).
Fronteiras de todo o tipo: geográficas, políticas, psicológicas, simbólicas. É o bloco temático principal e, com base nele, o visitante poderá travar conhecimento com “A Banda Desenhada nos Selos”, exposição composta por 1500 selos de correio de todo o mundo, cujo “design” foi feito “para ultrapassar as fronteiras físicas e as fronteiras ideológicas do imperialismo”, como um exemplar da Albânia com uma figura do Rato Mickey; “Stripburek, Bandas Desenhadas da Outra Europa”, coletiva de autores da Europa do Leste com representação de 50 autores de 14 países; “Nós Somos os Mouros”, incidindo na presença árabe na Península Ibérica; e “Conflitos Militares na Banda Desenhada”, coletiva de Zograf, E. Guibert e Joe Sacco. Tudo para ver no Pavilhão de Portugal, em Lisboa.
Outro bloco, também no Pavilhão, é o bloco alemão. Alemanha que desde sempre foi ofuscada pelo brilho da escola de BD franco-belga, mas que agora atrai sobre si as justas atenções. “Travessia”, individual de Anke Feuchtenberger, apresenta a parte inédita da obra “Die Hure H” e “Das Haus”. “Hausbacken Brut” (“A Ninhada Desleixada”) é uma instalação de Atak que enfia numa caixa de brinquedos uma coleção de monstros, carrinhos de lata e outra bonecada arrumados numa mala de viagem.
No “Passeio Aéreo” de CX Huth, o autor brinca com as cores como uma criança a quem ofereceram uma caixa de tintas. “Homens, Fantasmas e Máquinas”, de Henning Wagenbreth, destaca-se por trabalhos na área dos “vírus books”, BD para agendas eletrónicas e uma versão colorida de “O Segredo da Ilha de Santa Helena”, realizada de propósito para o salão.
Há ainda o bloco português: “Cidade em Chamas”, de Pedro Burgos, com quadros urbanos de cariz surrealista, “O Livro dos Dias, Cochquixtia”, de Diniz Conefrey, na América pré-colombiana que, além das pranchas, reúne material de pesquisa recolhido pelo autor, incluindo fotografias tiradas durante uma viagem ao México.
É possível viver numa colher? Aparentemente, sim. Pelo menos segundo a utopia proposta por Miguel Rocha em “A Vida numa Colher”. Já Richard Câmara optou por contar a sua visão pessoal de “Capuchinho Vermelho”, montada sobre uma técnica especial que separa a ação de cada uma das personagens, o Capuchinho propriamente dito, o Lobo Mau, o Caçador e a Avózinha.
Vasco Granja homenageado na Exponor
Mas há muito mais para ver, ler e sentir neste salão de sonhos. “Salut Deleuze”, de Martin Tom Dieck, é uma perspetiva cíclica da BD, equivalente à da música minimal repetitiva, em que a frase “continua no próximo número” é “leitmotiv” para vários périplos de narrativa em espiral. A “Sombra da Noite”, de Ulf K., recria a Alemanha romântica dos roxos e dos bosques sombrios habitados por pensamentos taciturnos. Já Ralf König privilegia a comunidade homossexual nas suas obras, como “O homem desejado” (já transposto para o cinema) e, no Salão Lisboa, “Claras em Castelo”. Uma rainha a preto e branco rodeada de súbditos a cores dá o mote a “A Rainha das Cores”, de Jutta Bauer.
Todos estes blocos estarão patentes entre hoje e 22 de Junho no Pavilhão de Portugal. Para a Bedeteca ficam reservadas a exposição “A Navalha de Pitanga”, de Arlindo Fagundes, “Checkin: Os Próximos Voos da LX Comics”, coletiva alusiva aos cinco anos da coleção da Bedeteca para novos autores, “Banda Desenhada Alemã e a Literatura” e “XS, Estórias sobre Cerâmica”, cujo suporte gráfico é mesmo um serviço de mesa em cerâmica.
Mas o Salão não se faz apenas das exposições permanentes. Há edições de obras e a presença de muitos autores, uma feira de “fanzines”, debates, atividades de animação dirigidas às crianças e visitas guiadas para os alunos do ensino secundário e das escolas superiores de arte. Nos Armazéns do Chiado haverá uma BD CMYK, qualquer coisa relacionada com a divulgação de autores de BD que utilizam as novas tecnologias.
No dia de toda a BD, destaque também para a abertura, hoje, do Salão de Banda Desenhada da Exponor, Matosinhos, que terá como prato principal uma homenagem a Vasco Granja, pioneiro da divulgação do cinema de animação e da BD em Portugal. A homenagem terá lugar amanhã com o lançamento do livro “Vasco Granja, uma Vida… 1000 Imagens” (Asa), uma exposição e a mostra de alguns dos seus programas de televisão. O programa do Salão da Exponor inclui ainda o lançamento de livros de José Carlos Fernandes, Milo Manara e Zep e as exposições “Intuições”, de José Carlos Fernandes, “Contrastes”, de Luís Louro, e “Ilustração infantil de doze ilustradores nacionais”.