03.07.1998
Bloco De Notas – Electro
Tom Recchion produziu um dos clássicos de música electrónica dos anos 80 e ninguém reparou. Gravado em 1985 e 1986 na Califórnia, “Chaotica” (na foto) surge agora para repor toda a verdade, conservando, mais de uma década depois, uma aura de radical e inclassificável estranheza. Constituído por improvisações ao vivo no estúdio, recorrendo em exclusivo a “loops” de fita magnética, discos, cassetes e teclados analógicos (“no ‘samplers’, faz-se questão de frisar), “Chaotica” reúne 25 construções sónicas onde orquestras de mambo se afundam em fogueiras industriais e o desespero de paisagens ambientais inóspitas se confunde com o ruído de tiroteios perdidos numa banda-sonora de um filme negro dirigido por Barry Adamson. E onde o “easy listening” adquire os contornos de um pesadelo. (Birdman, distri. Ananana, 8).
Randy Grief é um homem mais lógico e sistemático, detentor de uma obra extensa no domínio da música para computadores. “Verdi´s Requiem” insere-se nas vertentes ambiental e da “system music”, umas vezes evocando as paisagens circulares de Ingram Marshall (“Verdi’s requiem – the easy listening part”), noutras aproximando-se do estilo guerreiro de Peter Frohmader (“Cavity”), noutras ainda tomando as cores da música ritual (“Rusted sorrow of the old crane”). “Sunset – for the control of the heart” é uma estranha divagação em torno d eum motivo temático de “Set the controls for the heart of the sun”, dos Pink Floyd, com o som de turbinas de avião desenhando monstruosas linhas de vapor no espaço. E “Street of crocodiles”, recupera, 30 anos depois, os mesmos efeitos da noite de espectros que os White Noise fizeram descer em “The visitation”. (Soleilmoon, import. FNAC, 8)
O pós-rock, seja qual for a latitude, continua a rebuscar no baú dos Cluster. Desta feita preencheram o formulário idealizado por Moebius e Roedelius, os The Exploding Thumbs, mas apenas no tema de abertura, “Too many buns”. “Flying Without Wings” tem coisas espantosas, como o voo simulado de theremin que se transforma no calor de um “Moog”, em “Speak highly”, referências à “música de televisão” de Chris Burke, “reggae” espacial, jogos de salão de computador, “acid hip hop” de gamelão, “cartoons” de bossa-nova sulfúrica e, pasme-se, algumas boas canções. (Holistic, distri. Symbiose, 8).