PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 26 SETEMBRO 1990 >> Videodiscos >> Pop
THE MONOCHROME SET
Dante’s Casino
LP e CD, Vinyl Japan
Se houvesse um prémio de originalidade no grande concurso da Pop, ele teria que ser forçosamente atribuído aos Monochrome Set. Com efeito, a banda liderada pelo vocalista de ascendência indiana (e parece que de sangue real) Bid, mesmo nos momentos menos inspirados (que são de resto muito poucos) consegue o golpe de asa que transforma uma canção e um refrão em algo de divertido, diferente, estimulante e inovador. O segredo conheciam-no os Roxy Music, no período que vai até “Siren”, isto é, a capacidade de agarrar em certos géneros e estilos musicais bem definidos (o “glamour”, o rock ‘n’ roll, o “music-hall”, o experimentalismo, no caso dos Roxy; os Shadows, o som “merseybeat”, o psicadelismo, os ritmos latino-americanos e uma grande dose de humor britânico, no dos Monochrome Set), utilizando, com uma elegância extrema, os seus clichés na criação de sínteses em que os diversos ingredientes se combinam, dando origem a discursos musicais que fazem do tempo e das modas gato-sapato.
Depois de terem assinado obras-primas como “Strange Boutique”, “Love Zombies”, “Eligible Bachelors” e “The Lost Weekend” (este já sem a guitarra inconfundível de Lester Square), sucessivos e imerecidos falhanços comerciais levaram à dissolução do coletivo. “Fin!” e a banda sonora “Westminster Affair” evitaram que o seu nome caísse no esquecimento. Finalmente, e para alegria de todos aqueles fartos da mediocridade e futilidade das atuais correntes dominantes da Pop, o trio Bid-Square-Andy Warren, acrescido do guitarrista e teclista Orson Presence, regressa com mais um disco imprescindível. Mantêm-se todas as características que granjearam aos Monochrome Set a aura de excêntricos que souberam cultivar: a fluência e imaginação de Lester Square, com um som límpido e coleante, por vezes próximo de Johnny Marr, dos Smiths, como em “House of God”, a paródia subtil aos anos 60 e neste disco, também aos 70, através de pastiches de rock sinfónico sabiamente desarticulados e integrados no tom de excentricidade geral, as vocalizações sinuosas de Bid, lembrando por vezes esse outro “dandy” que é Ray Davies, dos Kinks, a imprevisibilidade constante das cadências melódicas e rítmicas, remetendo para linguagens imediatamente reconhecíveis e balizadas, mas introduzindo-lhes sempre o toque de distanciamento e estranheza que faz de cada faixa uma constante sucessão de surpresas. Calipso FM, Bubblegum sinfónico, “heavy” psicadélico, Pop’n’roll latino, são alguns rótulos possíveis para uma (im)possível catalogação. “Bella Morte”, “Walking with the Beast”, o irresistivelmente swingante “White Lightning”, ou o ultrabizarro “Reverie” são outras tantas entradas para o jardim das delícias. Alucinações à hora dourada e muito “British” do chá das cinco.