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Peter Apfelbaum & The Hieroglyphics Ensemble – “Joyloyji Brightness” + Jai Uttal – “Footprints”

pop rock >> quarta-feira >> 19.05.1993


AS CIFRAS DO SWING

PETER APFELBAUM & THE HIEROGLYPHICS ENSEMBLE
Joyloyji Brightness (9)
CD …, import. Contraverso
JAI UTTAL
Footprints (8)
CD …, import. Contraverso



É quando se está nas tintas para o jazz que surge o melhor jazz. Longe do diferendo que opõe os apologistas da morte desta linguagem aos guardiões da ortodoxia, mais intransigente, Peter Apfelbaum, um “rookie” compositor, saxofonista e teclista cheio de técnica e de talento, assina um álbum notável, onde transporta o idioma e a sensibilidade de um “jazzman” para terrenos em que a surpresa e o convívio com margens que lhe são exteriores acontecem a cada momento, “Jodoji Brightness”, para além de um festival de técnica dos 16 elementos que compõem a banda dos hieróglifos, com destaque para os solistas, prova que o termo “fusão” pode fazer sentido e ajudar o jazz a percorrer a terra de ninguém que actualmente, se diz que atravessa.
A música africana, as ragas indianas e o rock surgem aqui como elementos perfeitamente integrados e assimilados, dando continuação a um trabalho iniciado por Apfelbaum, anteriormente no seio dos Kamikaze Ground Crew e, já com a sua própria banda, em “Signo f Life”. Descendentes em linha indirecta da experiência pioneira dos Art Ensemble of Chicago, os Hieroglyphics Ensemble referem, não tanto a influência, mas a inspiração do saxofonista compositor Jim Pepper e do percussionista William “Beaver” Harris.
Uma vista de olhos por panoramas mais recentes permite encontrar um parentesco nas concepções “free” para “big band” de câmara dos New York Jazz Composers Orchestra. Acima de tudo, a música de Peter Apfelbaum ostenta orgulhosamente algo que o jazz por vezes tende a esquecer: o “swing”, esse senhor que nasce de dentro e transfigura o compasso, cuja presença enfeitiçante numa faixa como “The band that signed the paper” (com um texto de Dylan Thomas) faz o auditor rebolar de prazer. Para quem, pelo contrário, preferir assestar a lupa sobre os pormenores técnicos da execução de Apfelbaum, basta escutar “The glow” e deixar-se derreter nas vagas envolventes do sax tenor.
Jai Uttal figura com alguma discrição na banda do saxofonista. Façamos então incidir o foco de atenção no seu trabalho a solo, “Footprints” (já prolongado num segundo e mais comercial “Monkey”), no qual este norte-americano de origem indiana persegue um outro tipo de ideal: o casamento dos sons urbanos da grande metrópole com a atitude contemplativa e a instrumentação características da Índia tradicional. Deste modo, a guitarra, os “samplers” e sintetizadores conjugam-se com as vocalizações de Lakshmi Shankar, o “dotar”, o “swaramendala”, o “gubgubbi” e outras fontes sonoras de designações coloridas, seja na adaptação para “new music” do tema popular “Raghupati”, seja na beatitude “new age” de “Matzoub” que o trompete de Don Cherry dilacera. O espírito dos Himalaias pairando nos céus da “big apple”.

Peter Apfelbaum & The Hieroglyphics Ensemble – “Joyloyji Brightness” + Jai Uttal – “Footprints”

pop rock >> quarta-feira >> 19.05.1993


AS CIFRAS DO SWING

PETER APFELBAUM & THE HIEROGLYPHICS ENSEMBLE
Joyloyji Brightness (9)
CD …, import. Contraverso

JAI UTTAL
Footprints (8)
CD …, import. Contraverso



É quando se está nas tintas para o jazz que surge o melhor jazz. Longe do diferendo que opõe os apologistas da morte desta linguagem aos guardiões da ortodoxia, mais intransigente, Peter Apfelbaum, um “rookie” compositor, saxofonista e teclista cheio de técnica e de talento, assina um álbum notável, onde transporta o idioma e a sensibilidade de um “jazzman” para terrenos em que a surpresa e o convívio com margens que lhe são exteriores acontecem a cada momento, “Jodoji Brightness”, para além de um festival de técnica dos 16 elementos que compõem a banda dos hieróglifos, com destaque para os solistas, prova que o termo “fusão” pode fazer sentido e ajudar o jazz a percorrer a terra de ninguém que actualmente, se diz que atravessa.
A música africana, as ragas indianas e o rock surgem aqui como elementos perfeitamente integrados e assimilados, dando continuação a um trabalho iniciado por Apfelbaum, anteriormente no seio dos Kamikaze Ground Crew e, já com a sua própria banda, em “Signo f Life”. Descendentes em linha indirecta da experiência pioneira dos Art Ensemble of Chicago, os Hieroglyphics Ensemble referem, não tanto a influência, mas a inspiração do saxofonista compositor Jim Pepper e do percussionista William “Beaver” Harris.
Uma vista de olhos por panoramas mais recentes permite encontrar um parentesco nas concepções “free” para “big band” de câmara dos New York Jazz Composers Orchestra. Acima de tudo, a música de Peter Apfelbaum ostenta orgulhosamente algo que o jazz por vezes tende a esquecer: o “swing”, esse senhor que nasce de dentro e transfigura o compasso, cuja presença enfeitiçante numa faixa como “The band that signed the paper” (com um texto de Dylan Thomas) faz o auditor rebolar de prazer. Para quem, pelo contrário, preferir assestar a lupa sobre os pormenores técnicos da execução de Apfelbaum, basta escutar “The glow” e deixar-se derreter nas vagas envolventes do sax tenor.
Jai Uttal figura com alguma discrição na banda do saxofonista. Façamos então incidir o foco de atenção no seu trabalho a solo, “Footprints” (já prolongado num segundo e mais comercial “Monkey”), no qual este norte-americano de origem indiana persegue um outro tipo de ideal: o casamento dos sons urbanos da grande metrópole com a atitude contemplativa e a instrumentação características da Índia tradicional. Deste modo, a guitarra, os “samplers” e sintetizadores conjugam-se com as vocalizações de Lakshmi Shankar, o “dotar”, o “swaramendala”, o “gubgubbi” e outras fontes sonoras de designações coloridas, seja na adaptação para “new music” do tema popular “Raghupati”, seja na beatitude “new age” de “Matzoub” que o trompete de Don Cherry dilacera. O espírito dos Himalaias pairando nos céus da “big apple”.