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Quinta do Bill + Kdadalak + Ceolbeg – “Festival De Música Popular, Na Amadora – ‘Folk’ Fora De Horas” (concertos/ V Festival de Música Popular)

Cultura >> Segunda-Feira, 29.06.1992


Festival De Música Popular, Na Amadora
“Folk” Fora De Horas


No sábado, na Amadora, a música durou até às tantas. Só que quando os sons se estendem pela noite fora devido não aos calores da festa mas a atrasos de programação, não há paciência nem escoceses que resistam.

Aconteceu assim na sala D. João V, no V Festival de Música Popular realizado na Amadora, como já acontecera com Mari Boine Persen, na semana passada, em Belém. O adepto da música tradicional tem de esperar até depois da meia-noite. E é se quiser…
Quase 45 minutos depois da hora prevista teve início a função, com os Quinta do Bill que ainda por cima deram mostras de não querer abandonar o palco. Ou seja, o Bill fez da sala a sua quinta e quase foi preciso alguém ir lá atrás desligar o quadro para dar aos seguintes a oportunidade de tocarem uma musicazita. Os Quinta do Bill, para além do amor possessivo ao palco, mostraram um vocalista entusiasta e razoável tocador de flauta de bisel que tentou por todos os meios pôr o público a cantar, bons instrumentistas e uma pop cruzada de instrumentais de inspiração folk. Tivessem tocado menos tempo e toda a gente teria ficado satisfeita. Assim, só faltou serem empurrados.
Seguiu-se o grupo de emigrantes timorenses em Portugal, Kdadalak, em trajes tradicionais, que leram textos de luta e solidariedade aos seus irmãos “maubere”. Toda a gente apoiou, claro, é fácil apoiar, e apetece citar António Vitorino de Almeida: “Mais importante para vocês não é que nós estejamos convosco – mas sim que os indonésios não estejam. Para já, porém, a nossa solidariedade, lamentavelmente teórica”. A música, insípida, acabou por ser um pormenor de somenos importância.
O tempo escasseava entretanto e a organização receava a debandada geral antes da actuação do grupo principal, os escoceses Ceolbeg. A partir desta altura optou-se pelo sistema em “roulement”: Amélia Muge interpretou a primeira canção, sobre Timor, com os Kdadalak ainda em palco. Recordou José Afonso, emocionou-se e cantou como só ela sabe, canções do álbum estreia “Múgica”. Na última, “Quem à janela”, juntou-se-lhe José Mário Branco e os dois, debruçados sobre o passado e o futuro, proporcionaram um dos poucos momentos verdadeiramente tocantes da noite. José Mário Branco prosseguiu a solo, com “Correspondências” em forma de canção e convidados de nomeada: Paulo Curado, na flauta, José Peixoto, na guitarra e Yuri Daniel no baixo, sob o olhar atento do “maestro” e teclista António José Martins. Antes foram as cerimónias da praxe e a entrega ao cantor do prémio José Afonso, pelo álbum “Correspondências”.
Quando finalmente os Ceolbeg começaram a tocar passavam vinte minutos da uma da manhã e metade da sala já desistira de se entregar aos possíveis entusiasmos folk suscitados pela música dos escoceses. A maior surpresa na apresentação desta banda aconteceu com a presença da harpista Patsy Seddon (do duo Sileas, com Mary McMaster, presente nos Encontros da Tradição Europeia do ano passado) que à última e em boa hora subsituiu a prevista Katie Harrigan na formação dos Ceolbeg: De provocante mini-saia negra que lhe moldava o corpo já com alguma tendência para alargar dos lados, Patsy revelou-se a melhor intérprete em palco, mesmo se o som apenas nos temas mais calmos – como “Lord Galloways Lamentation” (composto pelo lendário harpista cego Turlough O’ Carolan) – permitisse ouvir com nitidez as subtilezas de cristal do instrumento. Quase à altura de Patsy estiveram o gaiteiro Gary West e o novo percussionista Jim Walker. O primeiro poderoso de fôlego e ágil no ponteiro, magnífico na suite instrumental “The Coupit Yowe set” ou no “encore” final, emq eu as Highland pipes” positivamente dispararam, arrancando para os prazeres da dança alguns jovens desejosos de dar ao pé, o segundo subtil e imaginativo na bateria e percussões. Os Ceolbeg cumpriram sem deslumbrar. A muitos terão feito apetecer ouvir o seu muito bom disco “Seeds to the Wind”.
Às 2h30 estava tudo consumado. Qualquer dia o melhor é levantarmo-nos cedo, aí por volta das seis da manhã, de maneira a podermos assistir, fresquinhos ao final dos espectáculos da noite anterior. Já faltou mais.

Quinta do Bill – “No Trilho do Sol”

Pop Rock

6 de Março de 1996
portugueses

Quinta do Bill
No Trilho do Sol

POLYDOR, DISTRI. POLYGRAM


qb

Os putos gostam de se divertir na Quinta, nada a fazer quanto a isso. Por onde passa, ao vivo, a banda faz a festa. À música de bar a fingir de irlandesa, do álbum de estreia, segue-se agora a música dos índios, muito em voga nas colecções de new age étnica da temporada. Não há dúvida, porém, de que o grupo evoluiu bastante desse primeiro trabalho para este segundo pacote de canções, em que a tentativa de “fazer épico” deu lugar a uma maior contenção. “Parar o tempo”, “Se te amo” e “Prece (uma canção)” são mutações atraentes dos Sétima Legião, enquanto, instrumentalmente, o grupo inflectiu na direcção dos “folkrockers” irlandeses Horslips e de uma tónica “progressiva” (“Gerónimo”, agigantada por um sexteto de cordas), curiosamente aquela que parece ser o lugar natural da Quinta. A influência índia aparece no tema inicial, em “Índios na reserva” e “Mão na consciência” (com letra à UHF!…); a irlandesa em “O fogo posto”, “Reunir aos meus amigos” e “A única das amantes”; e o passado da Quinta em “Quanto + me olho ao espelho” (um “hit” à espera de o ser?). Palmas para o violinista Nuno Flores, está um senhor. Numa Quinta agora bem cuidada. Eu próprio – cujas reservas em relação à banda nunca escondi -, confesso, me deleitei nalgumas das suas paragens. Uma canção como “Eles ignoram” indica, só por si, que o grupo, afinal, tem potencialidades para ir longe. Rapazes, larguem lá os irlandeses e os índios e usem as pernas que têm para andar. (6)